Desde sempre lembro-me viajando em imagens. Primeiro elas fugiram de meu olhar interno e se faziam ver mergulhadas em papel e cores. Depois vieram as palavras e a inspiração dos sonhos, pois foi a realidade que, muitas vezes, trouxe os pesadelos. Em busca de organizar este mundo interior surgiu a Ilha.União de idéias e sonhos, asas que herdei. Apresento-a em pequenos trechos e peço que questionem, perguntem muito para que ela possa tornar-se mais rica e interessante, lugar melhor pra viver.

31.12.07

ATEMPORAL

JohnWilliamWaterhouse-PenelopeandtheSuitors



No sonhar de Penélope me deixo. Tecendo a renda da esperança, o momento seguinte, o que virá logo depois em outro espaço e tempo.
Não tardes, pois meus fios embranquecem e quero que me vejas bela.
Mas, cedo ou tarde e, mesmo noutra veste, me reconhecerás, entre todas as noivas da esperança, pela aura deste meu amor, do qual já és tão íntimo.

escrito por Angela em 12/04/1982

27.12.07

TEMPO PRESENTE

sonho de uma noite de outono - desconheço o autor


Não mais pretérito
Não mais perfeito.
Senso de realidade.
Presentismo mesmo!
Mas com muita poesia.
Não tenho mais que ser
O que seria.
O que, diante do real,
Fica roto ao despir
a fantasia!
Na sincronicidade
Deste meu momento,
Você está presente
A cada dia.
É hora de agora
De imperfeito,
De luz sem utopia.
É bela a hora e,
Divido com você,
Este raio de sol!

Angela Schnoor

19.12.07

ADEUS AO CIGARRO

Penso...Giro...Rodopio...Experiências com fumo - Hugo,em Olhares.com


Hoje, posso escrever versos mais livres.
Escrever, por exemplo: "A noite está fresca,
e o ar entra leve em meu corpo".
O vento da noite é recebido dentro de mim e canta.


Hoje, posso escrever versos mais livres.
Eu precisei dele, e às vezes ele também me quis...
Em noites como esta eu o tive entre meus lábios.
E o traguei tantas vezes debaixo do céu infinito.
Ele me preenchia, e eu também o desejava.
Como não precisar de seu perfume e companhia.


Hoje, posso escrever versos mais livres.
Pensar que não tenho mais esta carência. Sentir que a perdi.
Respirar a noite imensa, mais imensa e pura sem ele.
E o ar cai no sangue, como as borboletas nas flores.
Que importa que minha saúde não pudesse mantê-lo.
A noite está estrelada e não dependo dele.


Isso é tudo. Ao longe alguém fuma. Ao longe.
Minha alma não se contenta tão facilmente.
Como para aproximá-lo meu olhar o procura.
Meu vazio o procura, e não o tenho comigo.
A mesma noite que traz o mesmo dia e volta o mesmo desejo.
Nós, os de então, já não somos os mesmos.
Já não o quero, é verdade, mas quanto o quis.
Minha ansiedade procurava por ele pelas madrugadas.
Outra marca.

Será que outra, não será tão danosa, como antes do meu vício?
Seu sabor, sua companhia. Minhas mãos ocupadas.

Já não o quero, é verdade, mas talvez o queira.
É tão frágil a vontade, e é tão forte a dependência.
Porque em dias e noites como esta eu o tive entre os meus lábios.
Meu hábito não se contenta por tê-lo deixado.
Ainda que este seja o último mal que ele me cause,
E estes, os últimos versos que lhe escrevo.

Escrito sobre as bases do Poema 20 de Pablo Neruda

em: Veinte poemas de amor y una canción desesperada (1924)


Por Angela Schnoor, uma brincadeira para minha querida Beatriz, com votos de sucesso na empreitada para abandonar o cigarro.

18.12.07

O QUE VIM FAZER AQUI

uma visão do céu a partir do sul - grande angular - NASA


Meu Deus é a claridade e a transparência,
E morou em mim antes que eu fosse.

Minha religião é o pensamento que se expressa leve e semeia ao vento, símbolos ilimitados, de eterna compreensão, sem vínculos com estágios momentâneos ou Verdades de culturas passageiras.

Minha função nestas paragens, como estrangeira que sou, é falar deste deus às pessoas que encontro para que libertem suas mentes e emoções de cadeias onde já estive...

Neste caminho, adentro por seus dentros, chafurdo em seus porões e calabouços levando a experiência de meus próprios tropeços.
Aí, em seus mistérios me vejo por tantas vezes quantas visitas faço.

Quando encontro suas dores e temores, sinto medos e prantos já chorados e posso encontrar alívio em seus alívios.

Quando encontro tesouros escondidos, alegrias desperdiçadas e belezas impensadas, são também as minhas jóias que trago à tona ao validar os bens do outro.

O amor que sinto pelos seres, é fruto da profunda gratidão pela partilha e pelas portas que me abrem em confiança.

Muitas vezes, minha linguagem é desconhecida.Parece nova, ousada, perigosa... Mas talvez seja tão velha e esquecida quanto lembranças de um mundo muito antigo.

Alguns tem medo deste meu adentro. Temem perder a segurança do que consideram seu estofo. Não percebem que se encontram turvos e que seu esvaziar lhes trará um novo brilho!

Aprendi, através de muita dor, a falar línguas estranhas para que não fosse eu a estrangeira. Depois de algumas investidas francas, fui segregada em meu próprio ninho e percebi que para mostrar a luz não poderia estar cega por ela.

Ao perceber a sombra que eu própria projetava, pude entender de onde vinha a claridade que eu trazia.

Minha casa é no futuro e sei que não mais estarei aqui ao terminá-la.

Mas ela estará aberta para todos os que precisarem de um abrigo iluminado onde as sombras dão realce à luz e a transparência afasta os limites do medo.

Escrito em 1º de Julho de 2000

Angela Schnoor.

17.12.07

CÉUS E TERRA

Igreja abandonada protegida por árvore


Enquanto,
galhos- braços- árvores
abraçam em vôos
pensamentos-sonhos
envolvendo nuvens
perfurando estrelas
em buscando você
raízes enterram
veias em meu solo
entranhando entranhas
perfurando estranhos ocos
perdidos...
bebendo sangue meu
a nutrir o seu caminho
nos espaços.


escrito por Angela Schnoor - sem data ou tempo.

11.12.07

Descarga

anjocaido. jpg - desconheço o autor



Quanto mais sou magoada mais leve fico.

parece que sentir me esvazia!


hoje, 11-12-2007 depois de uma porrada emocional
como dizia uma amiga: a gente devia mesmo era nascer por geração expontânea. Sem família!

5.12.07

IMAGEM COMPANHEIRA

foto de Carla Salgueiro - em olhares.com


Todos os dias
Tua imagem
adentra meus olhos
e, suavemente,
fecha as portas da luz
para meu repouso.


Te encontro, então,
em sonhos
onde, à luz do meu querer,
não há angustia
ou certeza de desencontros.


Noite após noite
és a mesma imagem
que traz, com o sol,
o brilho de realidade
a iluminar o dia
onde habita
uma esperança
desbotada
que esqueceu nos sonhos
suas belas asas.

04/08/2000 Angela Schnoor

3.12.07

Anninha

Mãezinha - desconheço o autor da imagem



Um dia,
Deus devia achar que eu merecia!

Fazia tempo que eu andava só
Fazia tempo que eu me afastara
De coisas que, antes, eu gostava!

De tanto batalhar a vida
E de brigar sem ter como escolher
Esquecera do que eu era feita,
Não me sabia mais uma mulher!

Aí um anjo chegou, bem de mansinho
Ocupou o meu dentro, vagarinho
E foi ganhando todo seu espaço,

Fui me encontrando
Com um eu estranho...
E era bom
mas parecia um sonho,

Até o dia em que,
como milagre,
Você nasceu de mim e me deu asas!




escrito em 16/11/2000 para minha filha Anna.