Desde sempre lembro-me viajando em imagens. Primeiro elas fugiram de meu olhar interno e se faziam ver mergulhadas em papel e cores. Depois vieram as palavras e a inspiração dos sonhos, pois foi a realidade que, muitas vezes, trouxe os pesadelos. Em busca de organizar este mundo interior surgiu a Ilha.União de idéias e sonhos, asas que herdei. Apresento-a em pequenos trechos e peço que questionem, perguntem muito para que ela possa tornar-se mais rica e interessante, lugar melhor pra viver.

6.8.12

Wislawa Szymborska


Coisas pelas quais ainda vale viver

Ontem, recebi como presente de um amigo, Eduardo Oliveira - O Dudu Oliva - , um poema desta escritora incrível , que tão bem fez à minha velha alma. Desde então, me encanto com seus poemas e só sinto pena por não tê-la conhecido antes e pelo meu egoísmo ao pensar que pessoas como ela deviam ser eternas.

Em seguida, buscando mais informações sobre a poetisa, encontro o blogue http://armonte.wordpress.com/  com um texto que gostaria de ter escrito e que reproduzo abaixo
com meus agradecimentos ao autor - Alfredo Monte.



a todos os meus amigos fumantes

“Quem quis se alegrar com o mundo/ depara com uma tarefa/ de execução impossível (…) // Era para Deus finalmente crer no homem/ bom e forte/ mas bom e forte/ são ainda duas pessoas.// Como viver—me perguntou alguém numa carta/ a quem eu pretendia fazer/ a mesma pergunta.// De novo e como sempre…/ não há perguntas mais urgentes/ do que as perguntas ingênuas”.
   (trechos de Ocaso do século, de Wislawa Szymborska)

A primeira coisa que chama a atenção em POEMAS é essa senhora na capa soltando uma satisfeita baforada, com seu cigarro, com uma expressão beatífica-iogue, com um toque solerte e matreiro. Uma capa que celebra—não sei se deliberada ou inconscientemente—a resistência ao patrulhamento e intolerância crescentes no mundo. Não sou fumante, e por isso posso falar tranqüilamente: acho um horror essa perseguição aos fumantes e a interferência do governo em lugares privados e comerciais. Ninguém  é obrigado a aturar a fumaça de cigarro, mas nunca verei o porquê de não haver “lugares para fumantes” e que eu possa ter o direito de estar neles com meus amigos que fumam, por minha conta e risco. Ninguém é obrigado a aturar a fumaça de cigarro, mas somos obrigados a aturar tevês ligadas em bares e restaurantes, gente berrando, ou gente ouvindo música ruim a decibéis incríveis, gente que não tem a mínima noção de espaço pessoal. É esse o mundo higienizado, com a cara desanimada e nada saudável dos Dráuzios Varellas.Urgh!
Essa senhora fumante, polonesa, atualmente com 88 anos, foi a responsável por minhas mais intensas emoções literárias em 2011. Premiada com o Nobel em 1996,  Wislawa Szymborska é muito mais do que um nome exótico e quase impronunciável (somos informados de que a pronúncia certa seria vissuáva chembórska, mas eu não abro mão do muito mais bonito vislava zimbórska, e aliás, nunca saberei polonês, e por isso pronuncio como quiser, é incrível essa mania do brasileiro de querer “falar certinho” o idioma e os nomes estrangeiros, atitude que não é retribuída pelos falantes de outras línguas: meu ilustre professor na pós-graduação, o francês Pierre Rivas não se vexava de pronunciar Macunáima ou mariô e ninguém levantava dúvidas sobre sua estatura intelectual),  é autora de uma obra poética ímpar, como demonstra a magra e  preciosa antologia  – que  abarca oito de seus livros— publicada  pela Companhia das Letras, um feito memorável  da tradutora Regina Przybycien (por falar em impronunciabilidade), também responsável pela seleção dos quarenta e quatro poemas.