Desde sempre lembro-me viajando em imagens. Primeiro elas fugiram de meu olhar interno e se faziam ver mergulhadas em papel e cores. Depois vieram as palavras e a inspiração dos sonhos, pois foi a realidade que, muitas vezes, trouxe os pesadelos. Em busca de organizar este mundo interior surgiu a Ilha.União de idéias e sonhos, asas que herdei. Apresento-a em pequenos trechos e peço que questionem, perguntem muito para que ela possa tornar-se mais rica e interessante, lugar melhor pra viver.

19.12.07

ADEUS AO CIGARRO

Penso...Giro...Rodopio...Experiências com fumo - Hugo,em Olhares.com


Hoje, posso escrever versos mais livres.
Escrever, por exemplo: "A noite está fresca,
e o ar entra leve em meu corpo".
O vento da noite é recebido dentro de mim e canta.


Hoje, posso escrever versos mais livres.
Eu precisei dele, e às vezes ele também me quis...
Em noites como esta eu o tive entre meus lábios.
E o traguei tantas vezes debaixo do céu infinito.
Ele me preenchia, e eu também o desejava.
Como não precisar de seu perfume e companhia.


Hoje, posso escrever versos mais livres.
Pensar que não tenho mais esta carência. Sentir que a perdi.
Respirar a noite imensa, mais imensa e pura sem ele.
E o ar cai no sangue, como as borboletas nas flores.
Que importa que minha saúde não pudesse mantê-lo.
A noite está estrelada e não dependo dele.


Isso é tudo. Ao longe alguém fuma. Ao longe.
Minha alma não se contenta tão facilmente.
Como para aproximá-lo meu olhar o procura.
Meu vazio o procura, e não o tenho comigo.
A mesma noite que traz o mesmo dia e volta o mesmo desejo.
Nós, os de então, já não somos os mesmos.
Já não o quero, é verdade, mas quanto o quis.
Minha ansiedade procurava por ele pelas madrugadas.
Outra marca.

Será que outra, não será tão danosa, como antes do meu vício?
Seu sabor, sua companhia. Minhas mãos ocupadas.

Já não o quero, é verdade, mas talvez o queira.
É tão frágil a vontade, e é tão forte a dependência.
Porque em dias e noites como esta eu o tive entre os meus lábios.
Meu hábito não se contenta por tê-lo deixado.
Ainda que este seja o último mal que ele me cause,
E estes, os últimos versos que lhe escrevo.

Escrito sobre as bases do Poema 20 de Pablo Neruda

em: Veinte poemas de amor y una canción desesperada (1924)


Por Angela Schnoor, uma brincadeira para minha querida Beatriz, com votos de sucesso na empreitada para abandonar o cigarro.

6 Comments:

Blogger EDUARDO OLIVEIRA FREIRE said...

Bonito!

6:05 PM

 
Blogger 125_azul said...

Paródia! Força, Beatriz!
Beijinhos

10:06 AM

 
Blogger Dona Betã said...

Há cinco anos, se tivesse talento, poderia ter escrito este poema.
Foi o adeus definitivo. Ou não?

9:38 PM

 
Blogger Angela said...

Oi Dudu!
Bonito é o poema de Neruda, este é só uma brincadeira!!!

Querida 125
à época foi bem engraçado, tentei dar força à Beatriz que havia começado o processo mas... acabou retornando, infelizmente... ou não! Pois está linda e bela, saudável e feliz! tudo é tão relativo não é? Pra mim, o cigarro era uma morte em vida, será que é para todos?

J.G.
O talento é de Neruda sobre o qual adaptei o abandono ao vício. O meu, de fato, foi largar o cigarro em 1994! Quantos anos fazem? já esqueci e acabo, neste instante a reclamar da fumaça e do cheiro pois alguém acendeu um destes aqui ao lado, e já estou sofrendo de tosse e aflição!
Quanto à Beatriz, voltou a fumar...

12:59 AM

 
Blogger Mocho Falante said...

Vim deixar votos de um excelente Natal e que 2008 te traga tudo de bom

beijocas

12:14 PM

 
Blogger Angela said...

Querido Mocho!
Obrigada pelos votos. Te desejo tudo de melhor e vou te visitar em seu cantinho. bj.

3:40 PM

 

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