Irmãos
Masters of Photography- William Klein
José desde pequeno era cuidadoso e amoroso,
cuidava dos bichos, das plantas e era amigo dos colegas, especialmente do irmão
João, que o maltratava com rigor e uma raiva que não se explicava.
João machucava o gato, batia no cão e passava os
dias a inventar formas de prejudicar José.
A mãe tentava educar os filhos de maneira
semelhante e mostrava ao mais velho que ambos podiam contar com seu afeto, mas o
menino parecia ter prazer com as maldades que praticava.
Cresceram assim e assim ficaram órfãos.
Embora vivendo juntos na mesma casa onde nasceram, tinham
vidas diversas e de acordo com o temperamento de cada um. José era sempre
convidado pelos amigos, apadrinhou os filhos de alguns enquanto João, solitário
e carrancudo, vivia só, fechado em si mesmo.
Quando Maria se enamorou de José, a raiva de
João cresceu. Então puderam perceber que ele também gostava da moça, embora
nunca houvesse dito, ou mesmo insinuado, coisa alguma a ninguém.
Moravam distante do povoado e João foi servir no
quartel enquanto José permaneceu em casa trabalhando na roça. João gostou da vida militar, tinha prazer em cuidar
e lubrificar sua arma e vivia treinando pontaria em pássaros e frutos, enquanto
José o repreendia, pedindo que usasse vidros e latas, deixando em paz os seres
vivos.
Uma tarde João atirou no cavalo, o único do
sítio, que os servia fazia muito tempo. Contou que o animal havia caído e precisava ser
sacrificado. José chorou muito ao lado do animal enquanto João dava a impressão
de ter algum prazer com o que fizera. Desse dia em diante, a fúria de João,
embora contida e fria, parecia crescer.
Quando José anunciou seu noivado, o irmão se
recusou a ir à festa em casa da noiva. Triste, mas conformado, José se ausentou
prometendo voltar em breve, e com a data do casamento marcada.
Durante a noite seguinte um incêndio destruiu o
pasto e a plantação de café de José. João dizia não saber a causa do incêndio e
passou a vigiar a casa, temendo, na ausência de José, a invasão de algum
malfeitor.
Na noite seguinte, José deveria retornar, mas
não foi visto nas redondezas. Pela manhã a vizinhança, embora distante, ouviu
tiros e alguns correram preocupados. Na entrada da casa, o corpo de José crivado
de balas.
No quarto, João limpava a
arma com um sorriso estranho no olhar.
Itaipava, 17-09-2015