Desde sempre lembro-me viajando em imagens. Primeiro elas fugiram de meu olhar interno e se faziam ver mergulhadas em papel e cores. Depois vieram as palavras e a inspiração dos sonhos, pois foi a realidade que, muitas vezes, trouxe os pesadelos. Em busca de organizar este mundo interior surgiu a Ilha.União de idéias e sonhos, asas que herdei. Apresento-a em pequenos trechos e peço que questionem, perguntem muito para que ela possa tornar-se mais rica e interessante, lugar melhor pra viver.

29.4.08

Daimon 2

Circe Invidiosa-John William Waterhouse


Sem dó nem piedade
te arranco dos infernos
e te trago à luz
onde as feridas sangram.

Sobre tuas cicatrizes,
sulcos da terra,
jorro minhas águas
transformando-as em rios.

escrito em 18/05/1986

Angela Schnoor

28.4.08

Daimon 1

Lua Azul


Você vem azul
disfarçando o negro
das entranhas
A origem da noite
O abrigo eterno do sol.

Eu venho rósea
escondendo
a possibilidade
do vermelho,
que insiste em explodir
e nascer da noite infinda.

Somos o dia e a noite
numa guerra insana
perpetuando a vida !


escrito em 18/05/1986

20.4.08

MUSA

Mnemosyne--The-Mother-Of-The-Muses-Lord-Frederick-Leighton



Se encontro uma musa
Que entenda de poetas,
De vôos infinitos,
De portos impossíveis,
De naufrágios,
E de pura insensatez,
Minha poesia
Se fará eterna!




escrito em 06/12/1986
Angela Schnoor

9.4.08

Lodo


Em algum lugar em mim, as coisas ficam retidas como se para sempre.
No fundo, a lama está lá, negra e silenciosa como se esperasse a noite de fazer-se óleo do tempo. Mas, ao menor movimento na superfície, turva-se o que parecia límpido.
Onde o mar para escoar rãs e lesmas que apodrecem?
Onde as correntes subterrâneas, a lavar um fundo tão fundo e escuro que desfaça pedras e dragões malditos, guardados no poço infinito de carências insepultas?

Escrito em 09-04-2008

6.4.08

ONDE EU?

siegfried-zademack_boat


Onde me encontro
sei que me perdi.
Peças espalhadas
Unidade estilhaçada
Entre outros Eus
Entre os nós
que tomaram seus rumos
em meus descaminhos.

Sempre só estive,
acompanhando passos.
Estradas alheias.

Não mais me reconheço.
Terras estrangeiras,
Idiomas que aprendi,
Não contam minha história,
emaranhada
entre as trincheiras
onde escondi meu ser.

Todos se foram.
Em amplo espaço pleno
tenho todos os rumos
sem fronteiras
e estou cega.

Não tenho pernas.
meus braços abraçam
todos os vazios.
E ... Os gritos de socorro
Nem ecos fazem!


escrito por Angela Schnoor em 17/10/2002

1.4.08

MARAMANTE

Wieczorowy krajobraz - autor- Aleksander Markiewicz


Gostava do mar.
Tinha sido seu companheiro por longos anos.
Cada baía, cada enseada, era como as curvas da mulher amada:
conhecia de cor.
Um dia, resolveu não mais voltar à terra.
Remando mansamente acariciou, pela última vez, a superfície das águas.
Cruzando a linha do horizonte, precipitou-se no infinito...


escrito por Angela Schnoor, em 14/11/86