Desde sempre lembro-me viajando em imagens. Primeiro elas fugiram de meu olhar interno e se faziam ver mergulhadas em papel e cores. Depois vieram as palavras e a inspiração dos sonhos, pois foi a realidade que, muitas vezes, trouxe os pesadelos. Em busca de organizar este mundo interior surgiu a Ilha.União de idéias e sonhos, asas que herdei. Apresento-a em pequenos trechos e peço que questionem, perguntem muito para que ela possa tornar-se mais rica e interessante, lugar melhor pra viver.

26.6.08

VISTO POR DENTRO

esquecimento- imagem recebida por e-mail


"Não sei de quem recordo meu passado
Que outrem fui quando o fui, nem me conheço
Como sentindo com minha alma aquela
Alma que a sentir lembro.
De dia a outro nos desamparamos.
Nada de verdadeiro a nós nos une --
Somos quem somos, e quem fomos foi
Coisa vista por dentro.” [1]


VISTO POR DENTRO - 1985


Naquele tempo, nada tinha espaço em minha vida. Eu era uma grande, uma enorme ferida no corpo, na alma, no existir! Uma cratera vazia, onde antes houvera um vulcão, agora extinto, que chorava, sangrava, e exudava a dor e a perda da única relação real com o meu prazer. Este prazer, não só do sexo e do corpo que, sem dúvida, encontrou seu desbloqueio e plenitude, mas o prazer completo de partilhar.

A cumplicidade, a mente, o intelecto compreendido, a partilha da rotina, o dia da casa, do alimento, da alegria, do trabalho, da volta ao lar com lareira acesa na alma ao recolher o dia.
Foi o tempo da vida vivida, onde os dias se coloriam com emoções e descobertas, onde a ousadia do arriscar ser feliz impregnava as horas e até as angustias eram benfazejas. Havia paixão em todas as coisas, e o encanto e o entusiasmo permeavam cada gesto e cada movimento. Naquele tempo a loucura não deixava espaço à sensatez tediosa e a vida era quase irreal, explosivamente serena, doce e apaixonada, um perigo em cada canto, uma provocação em cada gesto e a sempre certeza da vitória da paixão sobre qualquer medo.

Depois, nada mais cabia no vazio fundo da ausência de viver. Eu havia optado pela morte. Começaria ali um funeral que completa, hoje, uma adolescência. A morte da jovem que hoje desperta se sabendo envelhecida pelo tempo e pela negação de si mesma e que quer, à moda Proustiana, ir em busca de um tempo onde não cabe um fogoso Verão mas onde, certamente, algum Outono avermelhado de desejos ainda sustentará uma pausa no tempo, fechando cicatrizes antes que o inverno chegue.

Rio, 28/08/2000 - Angela Schnoor

[1] Fernando Pessoa, obra poética, vol. Único, Rio de Janeiro, GB, companhia José Aquilar Editora, 1960- pag. 284- [389]

25.6.08

Reflexo



Gaivota sobre o mar
Em tarde calma.
Serão duas,
Ou uma é apenas alma?



Escrita em 01-06-2008 para meu amigo Jacinto.

24.6.08

Jogo da Velha

imagem da web

É o jogo da velha onde nos perdemos nos quadrados sem nos saber mais círculos ou cruzes. As linhas cruzam os espaços e nos sufocam sem dizer pra onde iremos. Ganha a velha vida, enquanto o jogo prossegue, mesmo que não sejamos mais círculos ou cruzes, mas apenas um tabuleiro rasgado, com riscos e cicatrizes.

Escrito em 06-07- 1984

6.6.08

OFFRANDE

foto recebida por e-mail


OFFRANDE

À cause des roses,
à cause de la mer,
mouettes en volent
vers l'horizon.
À cause de l'amour,
à cause du vent,
ma pensée
a disparu dans l'air.

Et à présent,
cette fleur jaunne
si petite,
parle-moi de la vie
d' aujourd'hui


OFERENDA

Por causa das rosas,
Por causa do mar,
gaivotas esvoaçam
na direção do horizonte.
Por causa do amor,
Por causa do vento,
meu pensamento
perdeu-se no ar.
E agora,
esta flor amarela
tão pequena,
me fala da vida,
de Hoje.




Escrito, originalmente em francês por Angela Schnoor em 01/08/2000

2.6.08

Homenagem

imagem recebida por e-mail



Depois da chuva, última gota escorregando na ponta de uma folha, recebe um raio de sol.Se sonhando diamante, acabou de deslizar e ornou a fronte da rosa.



Escrito em 27-02-1982