Desde sempre lembro-me viajando em imagens. Primeiro elas fugiram de meu olhar interno e se faziam ver mergulhadas em papel e cores. Depois vieram as palavras e a inspiração dos sonhos, pois foi a realidade que, muitas vezes, trouxe os pesadelos. Em busca de organizar este mundo interior surgiu a Ilha.União de idéias e sonhos, asas que herdei. Apresento-a em pequenos trechos e peço que questionem, perguntem muito para que ela possa tornar-se mais rica e interessante, lugar melhor pra viver.

31.1.08

A pele das lembranças

mnemosine - trabalho sobre fotos colhido em :
http://www.clfm.es/2006_10_01_cualquiermundo_archive.html



Das plumas de tua pele que comigo eu trouxe, acariciando as dobras da memória, tento reconstituir nossos momentos de vôos e de ninhos.

Quantas vezes atingimos os céus de nossas bocas e desejos?
Quantas vezes me pensei desencarnada e morta de prazer,mergulhada em seu corpo, tão transparente e límpido qual espelho d’água a refletir-me?

Um dia, a dura tempestade eletrizou-me o espaço e caí no inferno de tuas ausências, duras como o aço rasgado que não mais nos refletia os corpos nem as almas.

A boa e gentil Mnemosine até hoje me ampara. Preservou-me as plumas com que amorteço o corpo, ainda ferido pelos estilhaços do abandono, até que o rio do esquecimento nos mergulhe em tempos de jamais!

Escrito em 31-01-2008 19h28’ HV. Rio de Janeiro.

Angela.

PRIMAVERA

Våren(1907)av Carl Larsson



Semear,
Não importa onde.
Ao pé da terra,
Ao vento norte,
Quem sabe ao sul.

Colher aonde?
Quem sabe quando?

As flores do caminho
Os frutos das estradas
Serão de todos
Em todo tempo
Por todo canto

Pelo bem da terra
Aos filhos da terra
Que sabem do amor
Entre irmãos

Sem tempo
Sem posses
Sem restrição
Dádiva repartida
Herança livre!

Angela Schnoor

28.1.08

Sirene Inútil

Marshall Point Lighthouse, Port Clyde, Maine


Todas as noites enviei sinais de luz aos teus caminhos. Nunca chegaste. Seria fraca a luz do meu farol?
A direção devia estar errada. Quem sabe os golfinhos respondiam à luz lançada ao fundo e eu não percebi.
Nos dias de ressaca e vento frio, ouvi uivos e gritos distantes, os fantasmas habitavam a casa de minha alma, mas não te reconheci.

Agora é dia e olho à janela. O horizonte é límpido e constante, sem ondas, sem murmúrios e já não espero mais.
Nunca foste das claridades. Se tiveres que voltar, num dia que não creio, será nas garras dos dragões em meio às tempestades e então, reconhecerei a angústia de seu lamento, mas a casa? A casa estará desabitada e o farol... Terá perdido a luz.
E, quem sabe o lamento, mil vezes angustiado, seja o meu!

Escrito em 28-01-2008

25.1.08

Rescaldo

The Dancer 2nd Act-III- Maria Flores


Saudosas, minhas memórias estavam tristes.
Sentiam-se solitárias sem as tuas.
Aproveitei-me de um sonho para visitar-te, na calada da madrugada fria.

Pretendia convidá-la para uma dança, mas te encontrei vazia de lembranças, mais fria que a noite deste nosso inverno.

Penalizada, deixei-te, de nossa vida abandonada, minhas melhores recordações.

Repousei leve e liberta em meus lençóis.
Dormia em paz, quando bateste à minha porta com saudades!

Escrito em 25 de janeiro de 2008 –Rio de Janeiro, 2h21’ HV.

21.1.08

Para Anna, pelo seu dia.

Família Feliz - 31 Dezembro 2007

Minha filha Anna nasceu neste dia 21 de janeiro, há exatos 33 anos.
Eu gostaria de contar o quanto este ser humano tem de luz.
Pelo que ela me dá e representa em minha vida, tudo que eu puder dizer e agradecer é pouco!

Quando penso na epístola de São Paulo aos Coríntios, chamada de "o elogio da caridade", lembro da Anna. Nos seus atos, seja com relação à família; a nós, seus pais; à família do marido; aos amigos e colegas de trabalho; às pessoas que a ajudam e servem, principalmente aqueles que tem ou estão em dificuldades de qualquer tipo, o amor está sempre presente.
E tudo com alegria, bom humor e, acima de tudo, sabendo buscar sua satisfação e dentro de seus limites. Anna não é vítima, não se sacrifica e, portanto, não cobra o que doa ou faz.

Sim, sou sua mãe e a amo muito mas, acima de tudo, eu a respeito e admiro.

Por isso filha, que você colha em sua vida todo o amor que tem plantado.

Hoje fica aqui um texto que senti pra você.
É pequeno e simples mas está pleno de mim.

Anna,


Eu te quis
Nós te quisemos
Você aconteceu.

Eu te quis Anna*
Eu te quis graça
Você assim nasceu!

Tu foste benção
Em nossa vida
Fizeste a paz
E a alegria
De cada dia.

Eu te agradeço
Esta certeza
De que és Benção,
De que és Graça

A plenitude
De minha vida
Filha querida!


Em 20 01-2008 3h33’ am.
Angela Schnoor.
* o nome Anna quer dizer: graça. clemência. mercê.

18.1.08

Para Fábia em 23 de outubro de 1981

Livro ilustrado - imagem de Mark Arian


Minha filha,
Hoje você faz cinco anos,
E amanhece chorando
A saudade da vovó
Que aqui não está,
Pela primeira vez, neste seu dia.
Tenha saudade,
Não sufoque a lágrima,
Mas lembre da alegria de estar viva,
E saiba que, lá no céu,
Hoje, quando o sol se pôr;
Vovó estará colhendo
Um dos seus raios de luz
Para iluminar seu bolo
Feito em nuvens de algodão azul,
Enfeitado com as estrelas,
Que os anjos foram apanhar!
E, todos juntos, estarão cantando,
Felizes, como nós aqui estamos,
O momento de alegria, descuidado,
Em que você caiu do alto e,
De repente,
Veio a ser o nosso anjo
A nosso lado!

Com o amor da Mamãe.


16.1.08

FECUNDAÇÃO

Não sei em qual momento
Por qual de minhas frestas
Jogastes tuas sementes.
Percebo, apenas, que tuas raízes
Acompanham minhas artérias
Enquanto meu odor
Desprende tua fragrância...E,
Não somos mais que um ser
A aguardar o mesmo sol
Que nos amadureça os frutos!

escrito por Angela Schnoor

12.1.08

DESCOBERTA

naufragio - desconheço o autor


Na primeira nau
Te trago meus tesouros
oferendas nunca vistas
dons de infinitude!
Na segunda
Te seco todos os mares.
Todos os naufrágios
serão poucos
p’ra tão grandes sacrilégios!
Na terceira
se permaneceres,
sem sucumbir a meu caos,
te ofereço
A Terra Prometida!


Angela Schnoor

10.1.08

Caixas virtuais para um anjo de verdade que acaba de completar seu primeiro ano!

eu não estou aqui!
Onde será que estou?

Ah! então este sou eu?!
Caixa de caixas
Para o Migas, desejando que possa abrir e explorar todas as "caixas" que houver em sua existência neste mundo. Com o carinho da "Dinda".

Acho que posso comparar a vida a uma grande caixa colorida.
Saímos de uma caixa fechada para cair numa outra, grande, aberta e cheia de outras caixas de todos os tipos feitios e tamanhos.

Abro todas as que encontro. Talvez venha daí o meu gosto pelas chaves que, para mim, sempre tiveram a função única de abrir.
Umas caixas são bonitas por fora e nada contém, outras são simples e discretas e estão tão cheias de surpresas que a gente passa o tempo todo descobrindo coisas novas e não se cansa de bisbilhotá-las.
Algumas dão gosto de entrar e ficar lá dentro, outras depois de abertas, descobrimos que é bom guardar só pra nós, enquanto outras tantas dividimos logo, qual caixa de bom-bons, com todo o mundo!

Tem caixas que dão medo, outras nos fazem mal, algumas nos dão sustos incríveis, fazendo com que entremos na primeira caixa de esconder que encontramos.

Tem gente que não abre suas caixas. Ficam presas dentro de uma só, a vida toda e não descobrem nada! É como virar manequim de vitrine, quantas coisas a passar lá fora e não são vistas.
Outros começam a abrir, encontram logo uma caixa de susto ou de dor e se fecham na próxima que encontram, a do medo, quase sempre.

Quero abrir todas as que eu puder e, quantas ficarão por abrir, por falta de tempo, por não estarem em meu caminho, por distração ou por qualquer motivo perdido em mim.

Mas as minhas caixas, as de dentro do mim, vou tentar abri-las todas, uma dentro da outra, como surpresa sem fim e sei que, lá no fundo, na última, vou me encontrar inteira e vai ser nessa hora que a tampa da caixa maior vai se fechar, tudo vai ficar escuro e vou voar para outro mundo de caixas ou do que?
Tenho que andar rápido, abrindo caixas!

escrito por Angela Schnoor em 20/10/1981

7.1.08

Tensão II


mulher de trinta - desconheço o autor


Tensão II

Me deixa quieta...
não fala, não pergunta.
só sente...
Sente a tensão que cresce,
que passa pelo sangue
que brota na pele
que eletriza os pêlos...
Fica quieto!
só sente...
não mexe, não pergunta,
não toca.
Fecha os olhos...
percebe no ar que passa
saturado dessa força,
a plenitude do que sinto
agora!


escrito por Angela Schnoor em 28/04/1986



5.1.08

CONCHA

Nautilus



Noite. Bem tarde.
Quando as estrelas dormirem,
Vou contar segredos
De um tanto mar de amar
Em sua orelha
Deserta de carinhos.



escrito por Angela Schnoor em 02/07/96.

4.1.08

AGONIA

Guiomar Sarmento Pádua Schnoor
*25-09-1917 - +04-01-1981



Em sua homenagem, porque foi então que comecei a escrever.


Este teu rosto querido,
distorcido, amarelado, apavorante,
persegue minha mente noite e dia!

Tento alternar meu pensamento
com lembranças antigas:
Eu pequena,
você tão bela! cabelos soltos,
cheio de anéis castanhos
como uma cascata a descer
pelos seus ombros.



Saia preta, blusa branca rendada
mangas fofas, brincos de ouro pendurados
(os únicos talvez...).

"Mãe, porque você não vai à ópera
com os cabelos soltos? São tão bonitos! “
"Não posso, filha, não fica bem
para uma senhora, não se usa!”

Os cabelos eram amarrados num coque
ainda belo, como um pássaro preso na gaiola!
E, lá ia ela, radiosa!
E o orgulho enchia meu coração
por mãe tão bela!

Hoje meu coração está cheio de tristeza,
o orgulho se transformou em dor
por mãe tão triste e nem tão bela,
pois a beleza tem o rosto da morte.

E a solidão me mostra que não sou mais criança!
E...nem as óperas são como antes!...





À minha mãe agonizante.
escrito no Hospital Silvestre em 03/01/1981 por Angela.

3.1.08

Cura

foto de Howard Schatz


Eu, Perseu,
Medusa conquistada,
volto meu olhar petrificante
para as pedras que fechavam
as passagens.
Sou a cobra,
envenenada de vida,
transmutando novo sol
refletido no escudo,
a espelhar o renascer!



escrito por Angela Schnoor
em 28/04/1986

1.1.08

Liberdade

mulher à janela - tela de Vaz Duarte


Liberdade é como a jovem
Que vejo pela janela.
Passo o tempo, prisioneiro,
desejando estar com ela.

Na hora em que saio à rua
Sem grades, muros ou sinas;
E o tempo, inteiro, antevejo...


Não sei o que faça ou diga
Perco o rumo em cada esquina
E volto a ser só desejo!



Escrito por Angela em 09/02/2004 para um encontro de poesia que não houve!