Desde sempre lembro-me viajando em imagens. Primeiro elas fugiram de meu olhar interno e se faziam ver mergulhadas em papel e cores. Depois vieram as palavras e a inspiração dos sonhos, pois foi a realidade que, muitas vezes, trouxe os pesadelos. Em busca de organizar este mundo interior surgiu a Ilha.União de idéias e sonhos, asas que herdei. Apresento-a em pequenos trechos e peço que questionem, perguntem muito para que ela possa tornar-se mais rica e interessante, lugar melhor pra viver.

27.3.08

RELIGADA

enseada de Botafogo- mini planet




Retorno hoje à capela de minha juventude
As pastilhas azuis fazem o mesmo céu
O órgão entoa a mesma musica
Mas minha emoção está mudada.

O Cristo, antes na cruz do altar
E na hóstia, à mão do sacerdote
Hoje caminha comigo.
E juntos entramos
no santuário em festa
aberto na capela do meu peito!

escrito por Angela em 22/04/1986

21.3.08

SEMPRE



É sempre a mesma mão a apertar meu peito, mesmo que o tempo tenha dado sua volta inteira.
É sempre o mesmo muro a reduzir o espaço onde respiro, mesmo que esteja a léguas de todo o início.
É sempre o desamor a esmagar as flores que, em vão, tentei brotar na terra árida de uma história triste. É sempre a mesma lágrima a morrer seca antes que caia.


21-03-2008 01h42

11.3.08

CAMELÓRIO- uma metáfora da tolice do viver



The Camel- desenho de PABLO PICASSO


Em algum momento começa a rota, em alguma hora regurgita-se; em outra, por desertos imensos há frio, há sol e muita carga. Em poucos, corre-se em liberdade e perde-se o rumo; tanto, que parece não haver um fim nem o que nos pare. Então, o fio se perde e os momentos se acabam, não há rota e o calor pergunta, em vão, pelo sol. Não mais regurgitamos, ninguém mais monta ou é montado, nada diz aonde ir. Anoitece, esfria muito, e a liberdade é para sempre, na rota da qual nada se sabe ... para sempre!

escrito em 10 de março de 2008

6.3.08

ÁGUAS

parelha aquática - Howard Schaltz


Só com ela, Maria se permitia mergulhos e caldos. Só com ela, suas secreções fluíam numa só vertente, só com ela e por causa dela, seu ventre se abria em flor e, na inundação do prazer, já nem se sabia mais, ela ou Maria, Maria ou outra, água ou mulher e nem mesmo nada importava coisa alguma.



escrito em 06-03-2008 - 4h38'

1.3.08

SILO

Ceres - camafeu em marfim


Da paixão que me brota
e me faz plena de oferendas,
trago-te algumas flores,
alguns frutos,
um poema.

O mais fica enceleirado,
a aguardar o tempo
de noites frias e geleiras
onde a invernal carência
te guie às portas do meu silo.

escrito em 05/12/1986
Angela Schnoor