O Outro

No blog http://costurandomaria.blogspot.com/ da criativa Ana M - encontrei este post:
harry e sally
"eu não sinto falta dele".
"não?"
"não. eu sinto falta da lembrança dele."
Então me veio a vontade de escrever sobre O Outro - esse Eu que mora em nós sob outras identidades.
Todas as faltas que sentimos, na verdade, são ausências de nós mesmos.
Saudades daquilo que fomos e do que vivemos em alguma época com alguém, um dos muitos outros que nos habitam e que encontramos pela vida afora.
Existem aqueles outros que despertam em nós o melhor que temos e alguns que trazem à tona, de forma detestável, a besta que escondemos ou que desconhecíamos até aquele momento.
Nestes casos, se tivermos pouca maturidade ou pouco conhecimento de nós mesmos, muitas vezes temos necessidade de rasgar fotos, cartas, bilhetes e apagar e-mails, como se assim nos livrássemos daquele personagem que esteve encarnado nas pessoas que um dia amamos e que nos fizeram sair do prumo.
Acontece também alimentarmos lembranças, porque fomos tão belos, felizes e adoráveis na época em que nos relacionamos com nossa capacidade amorosa, bem humorada, sexy e criativa, a partir de alguém.
Mas, será que 'o outro' é sempre uma criação nossa? Creio que sim.
E, mesmo que as pessoas sejam elas mesmas, sentimos atração pelas qualidades que aparentam e nos encantam, que desejamos ter sem saber que já moram em nós, mesmo que em germe.
Talvez o mundo seja um grande espelho e só podemos nos perceber completos ao conviver e aceitar que, como formulou Jung: quando duas pessoas se amam ou discutem, estão ali presentes queiramos ou não, ao menos quatro personalidades: os dois e mais as duas projeções inconscientes que fazem!
Já imaginaram isto em grupo?
Escrito em 11-04- 2009