A benção da Arte
A arte, como já disse e afirmo, é um dos instrumentos mais eficazes para manter e adquirir equilíbrio emocional. Visitando páginas de artistas me deparei com a obra de Zachary Rossman que atesta tão bem minha afirmação. O artista não comenta seu trabalho mas, pela sequencia me pareceu expressar algum sofrimento pessoal.
A partir de alguns desenhos da série que o artista publicou surgiu-me a idéia para um conto.
Num exercício que une imagem e texto, vou colocando os desenhos do autor
(a quem muito agradeço) seguidas de interpretação espontânea. Viajei pelas imagens através das palavras.
Chamava–se João e vivia muito só no meio de um bosque. Este era o único lugar onde encontrava refúgio para sua dor. João saia de casa várias vezes ao dia e embrenhava-se na floresta onde podia manter viva a lembrança de sua pequena irmã Joana que morrera muito cedo, deixando-o com um imenso vazio, só povoado pela presença da morte.
Ele se recordava do tempo em que brincavam juntos e, principalmente do dia em que tiraram os sapatos e começaram a atravessar o rio, caminhando junto à margem. Acabaram fazendo tantas travessuras que ficaram molhados durante toda tarde. Quase ao cair do dia voltaram para casa e a mãe os repreendeu seriamente. Foi por causa do frio que Joana caiu doente e acabou morrendo com um mal pulmonar. Ela era magrinha, seus pais tinham poucos recursos e, no lugar onde viviam não havia assistência médica.
João sofria com saudades da irmã e ficava horas perdidas fixando um buraco negro, imaginário, que ele chamava Morte. Não mais saía de casa e quase não comia esperando que aquele espaço vazio também o levasse. Devido aos esforços da mãe mantinha-se vivo, pois ela insistia em alimentá-lo e cuidar dele o quanto conseguia.
Assim, como se vivesse um interminável inverno, passaram-se anos nos quais o rapaz namorava o vazio por onde Joana tinha entrado ao encontro de Morte.
Até que um dia em que estava sozinho e extremamente concentrado naquele abismo...
Ele aproximou se da parede e, levando as mãos à frente, começou a passar para o outro lado. Em seguida, colocou a cabeça e em poucos segundos tinha desaparecido, se fundido com Morte.
Não se sabe quantos anos João passou dentro de Morte. Sua mãe já tinha chorado o filho desaparecido e não tinha mais esperança de encontrá-lo.
Mas João devagar, acordava e sentia estar em meio às árvores de seu bosque.
Na mais intensa escuridão João passava por uma grande metamorfose.
Repentinamente ele enxergava!
Imerso sob a terra, ele via e entendia sua grande afinidade com a natureza.
Em seus pensamentos havia a claridão de um cristal que iluminava a mente e o corpo, projetando em todas as direções, raios que alcançavam léguas. Foi então que percebeu : de seu corpo brotavam plantas que lhe eram tão íntimas como as que encantaram sua infância com Joana.
E descobriu que Morte era só uma passagem para outra forma de ser.
Ele era vento, era planta, era rio, era montanha e era também Joana!
João sentiu-se vivo como nunca e, em sua ressurreição como bosque,
ele primaverava!
Angela Schnoor - em 9 de maio de 2006 - RJ.
7 Comments:
Que lindo, o acordar de João. :) Adorei a expressão «primaverava». :) Todos aqui, a primaverar. :)
8:25 AM
Divino, adorei!!!
Você didvide cultura, mostra que não é egoísta.
http://dudve.blogspot.com/
http://cartasintimas.zip.net
1:45 PM
Folhinha, espero que sim! Primaverar é também um estado de espírito. Que bom que todo hemisfério norte primaverasse e esquecesse agressões e divergências.
Eduardo,o que mais gosto de dividir são as coisas que crio e que amo. Posso ser egoísta também... podemos ser,eventualmente,de tudo um pouco!
bons dias pra vocês.
12:26 AM
Olá Ideália!
Nossa! Lindo texto, lindo mesmo... precisava ler algo assim hj!Eu já passei aqui uma vez.É lindo seu blog!Voltarei mais vezes aqui. Um abraço e muita sorte!
Bjos no teu coração.:)
2:00 AM
Nem se atreva a virar "sucinta"!
2:07 PM
É claro que não vou virar! Já sou/fui e vc. disse gostar! lembra-se das "quase frases" postadas que valiam por um argumento, conto ou o que o valha!
E, nem só seu teclado come letras mas a minha pressa também! SUSCINTA! bjk.
2:23 PM
Desculpe mas não quis te corrigir! Eu pensei que tivesse escrito errado, na pressa, pois aqui grafamos como coloquei acimamas usei "sintética". Que perda de tempo a minha... desculpas, não estou muito legal.
2:36 PM
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