Desde sempre lembro-me viajando em imagens. Primeiro elas fugiram de meu olhar interno e se faziam ver mergulhadas em papel e cores. Depois vieram as palavras e a inspiração dos sonhos, pois foi a realidade que, muitas vezes, trouxe os pesadelos. Em busca de organizar este mundo interior surgiu a Ilha.União de idéias e sonhos, asas que herdei. Apresento-a em pequenos trechos e peço que questionem, perguntem muito para que ela possa tornar-se mais rica e interessante, lugar melhor pra viver.

9.5.06

A benção da Arte

A arte, como já disse e afirmo, é um dos instrumentos mais eficazes para manter e adquirir equilíbrio emocional. Visitando páginas de artistas me deparei com a obra de Zachary Rossman que atesta tão bem minha afirmação. O artista não comenta seu trabalho mas, pela sequencia me pareceu expressar algum sofrimento pessoal.

A partir de alguns desenhos da série que o artista publicou surgiu-me a idéia para um conto.

Num exercício que une imagem e texto, vou colocando os desenhos do autor

(a quem muito agradeço) seguidas de interpretação espontânea. Viajei pelas imagens através das palavras.


João da Terra
Houve uma vez, um menino que desejava muito ter uma companhia.
Chamava–se João e vivia muito só no meio de um bosque. Este era o único lugar onde encontrava refúgio para sua dor. João saia de casa várias vezes ao dia e embrenhava-se na floresta onde podia manter viva a lembrança de sua pequena irmã Joana que morrera muito cedo, deixando-o com um imenso vazio, só povoado pela presença da morte.

Ele se recordava do tempo em que brincavam juntos e, principalmente do dia em que tiraram os sapatos e começaram a atravessar o rio, caminhando junto à margem. Acabaram fazendo tantas travessuras que ficaram molhados durante toda tarde. Quase ao cair do dia voltaram para casa e a mãe os repreendeu seriamente. Foi por causa do frio que Joana caiu doente e acabou morrendo com um mal pulmonar. Ela era magrinha, seus pais tinham poucos recursos e, no lugar onde viviam não havia assistência médica.

João sofria com saudades da irmã e ficava horas perdidas fixando um buraco negro, imaginário, que ele chamava Morte. Não mais saía de casa e quase não comia esperando que aquele espaço vazio também o levasse. Devido aos esforços da mãe mantinha-se vivo, pois ela insistia em alimentá-lo e cuidar dele o quanto conseguia.
Assim, como se vivesse um interminável inverno, passaram-se anos nos quais o rapaz namorava o vazio por onde Joana tinha entrado ao encontro de Morte.
Até que um dia em que estava sozinho e extremamente concentrado naquele abismo...

Ele aproximou se da parede e, levando as mãos à frente, começou a passar para o outro lado. Em seguida, colocou a cabeça e em poucos segundos tinha desaparecido, se fundido com Morte.
Não se sabe quantos anos João passou dentro de Morte. Sua mãe já tinha chorado o filho desaparecido e não tinha mais esperança de encontrá-lo.

Mas João devagar, acordava e sentia estar em meio às árvores de seu bosque.
Na mais intensa escuridão João passava por uma grande metamorfose.

Repentinamente ele enxergava!

Imerso sob a terra, ele via e entendia sua grande afinidade com a natureza.

Em seus pensamentos havia a claridão de um cristal que iluminava a mente e o corpo, projetando em todas as direções, raios que alcançavam léguas. Foi então que percebeu : de seu corpo brotavam plantas que lhe eram tão íntimas como as que encantaram sua infância com Joana.

E descobriu que Morte era só uma passagem para outra forma de ser.

Ele era vento, era planta, era rio, era montanha e era também Joana!

João sentiu-se vivo como nunca e, em sua ressurreição como bosque,

ele primaverava!

Angela Schnoor - em 9 de maio de 2006 - RJ.

7 Comments:

Blogger Folha de Chá said...

Que lindo, o acordar de João. :) Adorei a expressão «primaverava». :) Todos aqui, a primaverar. :)

8:25 AM

 
Anonymous Anônimo said...

Divino, adorei!!!
Você didvide cultura, mostra que não é egoísta.
http://dudve.blogspot.com/
http://cartasintimas.zip.net

1:45 PM

 
Blogger Angela said...

Folhinha, espero que sim! Primaverar é também um estado de espírito. Que bom que todo hemisfério norte primaverasse e esquecesse agressões e divergências.

Eduardo,o que mais gosto de dividir são as coisas que crio e que amo. Posso ser egoísta também... podemos ser,eventualmente,de tudo um pouco!
bons dias pra vocês.

12:26 AM

 
Anonymous Anônimo said...

Olá Ideália!

Nossa! Lindo texto, lindo mesmo... precisava ler algo assim hj!Eu já passei aqui uma vez.É lindo seu blog!Voltarei mais vezes aqui. Um abraço e muita sorte!

Bjos no teu coração.:)

2:00 AM

 
Blogger 125_azul said...

Nem se atreva a virar "sucinta"!

2:07 PM

 
Blogger Angela said...

É claro que não vou virar! Já sou/fui e vc. disse gostar! lembra-se das "quase frases" postadas que valiam por um argumento, conto ou o que o valha!

E, nem só seu teclado come letras mas a minha pressa também! SUSCINTA! bjk.

2:23 PM

 
Blogger Angela said...

Desculpe mas não quis te corrigir! Eu pensei que tivesse escrito errado, na pressa, pois aqui grafamos como coloquei acimamas usei "sintética". Que perda de tempo a minha... desculpas, não estou muito legal.

2:36 PM

 

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