Desde sempre lembro-me viajando em imagens. Primeiro elas fugiram de meu olhar interno e se faziam ver mergulhadas em papel e cores. Depois vieram as palavras e a inspiração dos sonhos, pois foi a realidade que, muitas vezes, trouxe os pesadelos. Em busca de organizar este mundo interior surgiu a Ilha.União de idéias e sonhos, asas que herdei. Apresento-a em pequenos trechos e peço que questionem, perguntem muito para que ela possa tornar-se mais rica e interessante, lugar melhor pra viver.

18.4.06

Formas de dar

Dar presentes em datas pré-determinadas tornou-se uma orgia comercial em que o sentido da doação foi deturpado. Aproveito, então, para falar de outras formas que o doar assume, independente de datas especiais.

De modo geral, para que se possa dar qualquer tipo de coisa, seja de ordem material, emocional, espiritual ou mental, é preciso, antes, que se tenha o suficiente para uso próprio e para reposição.
Em seguida, é necessário desprendimento e desapego, para que esta doação seja feita sem danos para quem dá e para quem recebe.


Sem estas condições, vamos encontrar algumas formas de dar que, quase sempre, mascaram sob esta aparência outras necessidades e intenções nem sempre conscientes para ambas as partes envolvidas na doação, o que faz com que o donativo se transforme em um ato contábil.

Dar pela necessidade de receber.
Este é um mecanismo de projeção, onde a falta que a pessoa sente de alguma coisa é vista como a necessidade da outra pessoa. Nesta forma, o presente não é escolhido tendo em vista o gosto e o prazer de quem será presenteado, mas obedece ao critério de: só dou o que eu gosto! Cuidar, neste caso, é agasalhar quando se tem frio, dar de comer quando se tem fome e assim por diante.


Dar pela necessidade de tornar-se importante.
Esta forma cobra elogios à coisa dada. Valorização do tempo despendido ou do "sacrifício" feito. Quando as razões, por trás, se misturam e a carência do doador se torna muito forte, o ressentimento se expressa em lamúrias da vítima ou pela revolta ante o não reconhecimento.
O sentimento de rejeição, caso a "troca não seja ao câmbio do dia” pode se expressar até em agressões, pra fora ou para dentro, em forma de auto desvalorização e somatizações várias.


Dar pela necessidade de poder.
Esta doação tem dois aspectos diferentes: o doador toma conta do outro e o torna impotente. É uma forma que aparece muito comumente no comportamento de pais e mães dedicados.
Uma outra aparência é a mascara da impotência ou do sentimento de inferioridade compensado: Sei mais que, Tenho mais que, Sou mais forte que... E por aí vai, sob todas as formas comparativas possíveis.
Esta forma tem a necessidade de manter a distância e a hierarquia. Enquanto esta posição é mantida, a pessoa não fica exposta em suas “humanidades".
É o caso, em meu ponto de vista, de muitos psicanalistas.


Dar para manipular.
Esta forma de dar é perigosa... Ela foi bem expressa no filme “Nove semanas e meia de amor”. Quem se lembra do relógio, um presente para que, sempre às tantas horas, a protagonista se lembrasse do doador?
Nestas situações o que se deseja é a dependência para impedir a perda.
Parece que a pessoa "vai junto" com o presente e, nestes casos torna-se onipresente na vida do outro. Acho que as relações passionais, em que esta forma de dar se faz tão presente, faz uso também do desgaste emocional como um meio de minar as energias do outro.


Dar por sentimentos de culpa.
Esta é uma forma que aparenta muito desprendimento, mas que acaba por acarretar desgastes imensos no doador. É comum em doações sociais, espirituais e religiosas. O doador nega-se o princípio do prazer. Esta aparência esconde, muitas vezes, um grande sentimento de onipotência e superioridade.

Não podemos menosprezar os sentimentos genuínos de solidariedade e compaixão, mas sim os excessos que tornam o doador megalômano ou auto destrutivo.


O dar pode assumir, ainda, outras formas, mas estas me parecem ser as mais abrangentes.
O importante é que se consiga estar feliz, pleno, satisfeito e independente para que qualquer doação seja livre e more no total esquecimento.


Neste caso, aquele que doa vive como alguém que saboreia um fruto e lança a semente ao solo. Agradece à natureza pela graça que obteve e semeia livremente, para que algum passante, em qualquer tempo e solo, possa colher o fruto de sua benção e não a dor de sua fome.


©Copyright ANGELA SCHNOOR

4 Comments:

Blogger 125_azul said...

...E hoje vc me deu um carinho por causa de um girassol, muito, muito grata, dinda querida. Estou devendo um longo grito em forma de mail, mas tenho tido problemas com a net...

6:17 PM

 
Blogger Angela said...

Não me deves nada mas eu gostaria de ouvir seu grito e de escutar o que quiseres dizer, com muito carinho.
Ontem à noite falei com João e soube que tudo vai bem em São José.
que a santa net seja um facilitador pois às vezes vira problema não? bjk.

10:29 PM

 
Blogger Folha de Chá said...

Dar com segundas intenções, não é dar. É esperar receber. :)

2:00 PM

 
Blogger Angela said...

Nem sempre temos as "intenções" na consciência...
um carinho, Angela.

12:01 AM

 

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