Caronte ou A Viagem de Volta
A VIAGEM DE VOLTA.
Não tinham jantado. Passavam muito tempo trabalhando lado a lado no escritório da casa. Já era um hábito esquecerem da vida em frente à tela de seus computadores pessoais. Quando a fome chegou já eram altas horas.
- Que tal irmos à loja de conveniências, comprar algo diferente para comermos?
- Ótimo. Também já estou com fome. Assim que terminar este texto, iremos.
E assim fizeram. Aproveitaram para levar o cãozinho ao seu ultimo passeio do dia. Bateram a porta dos fundos e o elevador de serviço os levou direto à garagem. O gato preto ficava sempre em casa.
Engraçado como o ser humano projeta partes suas em bichos, amigos, livros e outras coisas do quotidiano. O gato era a parte mais calma dos dois.
A loja habitual fechara as portas mais cedo. Em dias de inverno as ruas desertas não estavam propícias ao comércio da madrugada.
No caminho de volta, a idéia de um simples macarrão instantâneo já se delineava misturada à preguiça, quando divisam o luminoso de uma outra loja menos conhecida. Nem todo o desejado ali havia, mas estavam livres do fogão.
Ao abrir a porta do elevador, já no andar de moradia, eles encontram a porta de entrada aberta. Uma surpresa e uma rápida revisitada nos movimentos da saída e... A memória de ambos nada registrara.
- Deixamos a porta aberta.
- É, precisamos estar atentos, estamos ficando velhos e esquecidos. Ainda bem que temos porteiros e o prédio é calmo. Nos dias de agora é um risco...
Um carinho na cabeça do gatinho, um pote de ração para o cãozinho e, seguem rumo ao microondas para saciar a fome.
Já estavam acostumados à vida a dois, recuperada com a saída dos filhos para construir novas famílias.
Enquanto um deles pega os pratos, o outro aquece a comida e, como numa dança em velha parceria, os passos não precisam ser ensaiados, se sabem de cor.
Tanta fome e nenhum olhar de receio pela casa. A atenção não registra a porta do banheiro de serviço entreaberta, fora do hábito.
O jantar é apreciado como só o sabem aqueles que estão famintos!
Louça lavada, cozinha arrumada, cão e gato refletindo a paz interna dos dois.
Mais um pouco de trabalho até que o estômago não atropele o sono e o beijo de boa noite encerre o dia.
Já estavam acostumados à vida a dois, recuperada com a saída dos filhos para construir novas famílias.
Enquanto um deles pega os pratos, o outro aquece a comida e, como numa dança em velha parceria, os passos não precisam ser ensaiados, se sabem de cor.
Tanta fome e nenhum olhar de receio pela casa. A atenção não registra a porta do banheiro de serviço entreaberta, fora do hábito.
O jantar é apreciado como só o sabem aqueles que estão famintos!
Louça lavada, cozinha arrumada, cão e gato refletindo a paz interna dos dois.
Mais um pouco de trabalho até que o estômago não atropele o sono e o beijo de boa noite encerre o dia.
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Atrás da porta, do banheiro de serviço, ele espera pacientemente que toda a rotina se acabe.
A porta aberta foi o ensejo que aguardava há muito tempo.
A luz do andar se apaga, mas ainda há movimento no escritório. Teclas soam suavemente e, quando em vez, algum murmúrio de vozes o mantém alerta.
Afinal,... Som de água no banheiro e a luz do quarto que se acende para apagar, em seguida.
Um som. Música! Ah!... Como as crianças, eles dormem com musica! Melhor assim.
Escuro na casa. Apenas a luz da rua impede o negro total.
Pé ante pé, ele percorre os aposentos. Seu andar é suave como a sombra da noite.
Escuro na casa. Apenas a luz da rua impede o negro total.
Pé ante pé, ele percorre os aposentos. Seu andar é suave como a sombra da noite.
Já tem o hábito de fluir no escuro.
Escuta atento. Já ressonam. É hora de atravessar o corredor que leva ao quarto.
O cão não late. Um pedaço de bolo de mel o distrai, como sempre foi e será.
Nos copos à cabeceira, despeja um pouco das águas de Estige, o rio.
Deitado junto aos dois, dirige a longa viagem.
Angela Schnoor.
Escuta atento. Já ressonam. É hora de atravessar o corredor que leva ao quarto.
O cão não late. Um pedaço de bolo de mel o distrai, como sempre foi e será.
Nos copos à cabeceira, despeja um pouco das águas de Estige, o rio.
Deitado junto aos dois, dirige a longa viagem.
Angela Schnoor.
4 Comments:
Rio de janeiro, 40 graus. Credo, que medo!
3:16 PM
Este fato aconteceu conosco, aqui em casa. Quase tudo menos a visita de Caronte. Quando tiver que ser, até gostaria que fosse assim. dormindo, com musica... deste modo não haverá medo.
Te falo mais tarde, por email.
4:19 PM
Isso não se faz com uma filha que conhece os personagens, os cenários, e as cenas! Ai ai ai!
6:28 PM
Pois filha que já sabe que é de mentirinha nem se assusta!
12:03 AM
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