Anima- pequenas histórias femininas 13
Na maioria das mulheres as cicatrizes se encontram na alma.
Conto 13
SEM SAÍDA
Quando a conheci, mais que sua estatura e a voz muito grave, chamou-me a atenção o rosto ferido e azulado como o de um rapaz que acabasse de escanhoar a barba pela manhã.
Era bonita, educada e amável, embora um tanto fechada e com um semblante muito triste.
Pouco falava, ao contrário da jovem que a acompanhava, uma loura coquete e bem feminina. Tornava-se evidente a relação das duas, eram um casal. E não fosse pelos pequenos, mas indubitáveis seios da morena, poderiam passar por um casal comum.
Uma amiga chegada contou-me sua história.
Seus pais eram imigrantes portugueses vindos de uma pequena aldeia, onde viviam com parcos recursos materiais e culturais.
Tiveram esta única filha em idade avançada e ela representava todo seu orgulho e esperança. Criaram a criança com todo o mimo, os melhores colégios, os vestidos mais bonitos, as bonecas mais cobiçadas.
Ela não ligava para nenhuma destas coisas. Gostava de correr com os meninos no recreio e preferia jogar bola, embora as roupas femininas atrapalhassem e os pais a repreendessem.
Volta e meia chegava em casa com os vestidos sujos e rasgados e acabava por inventar tombos ou empurrões para se safar dos castigos.
A puberdade começou a chegar e o primeiro sintoma estranho foi a voz. Principiava a engrossar, caindo nos súbitos falsetes iguais a dos colegas de escola.
Como começassem a aparecer alguns pêlos no buço e a menstruação não chegasse, uma amiga dos pais sugeriu que consultassem um médico.
O casal, temeroso da opinião da vizinhança, preferiu crer em problemas de garganta e rouquidão para justificar os fatos. Eram bastante ignorantes e a mãe nos seus cuidados ao bebê, jamais havia percebido o que lhe disse o médico naquela tarde.
- “Sua criança tem os dois sexos”.“É uma anomalia rara, mas acontece”
- “O que está a nos dizer Senhor Doutoire?”
- “Tento me explicar melhor, aqui temos uma criança que nasceu menino e menina ao mesmo tempo! Ela tem, juntos, vagina e pênis.”
- “Mas há uma solução. Podemos escolher um dos sexos e operá-la e tudo ficará normal, sem problemas. Cabe aos senhores, como pais e responsáveis, escolher o procedimento”.
- Ora veja lá, mas se sempre a tratamos como menina, sempre usou vestidos e até seu nome é o da Senhora de Fátima, o que haveríamos de escolher?” Disse a mãe.
- “E o que dirão na vizinhança e no colégio, se seu sexo for mudado? Não podem nem saber de tal situação!”.
- “Está resolvido. Ela continuará a ser menina e nos dará netos para continuarmos nossa família brasileira”.
Assim, nas férias, Fátima foi operada. Seu pênis foi cuidadosamente extirpado, a recuperação, para afastar curiosos, foi passada numa pensão em uma cidade serrana. E, em pouco tempo, às custas de uma pequena ajuda hormonal, seus pequenos seios começaram a despontar.
Seus pais, cegos pelos preconceitos, esperam até hoje, um neto.
Afinal, sua voz grave pode até ser sensual, só que ela jamais menstruou e uma incomoda barba teima em crescer na face deste ser castrado, pois a única coisa que todos omitiram, em prol da opinião pública, é que aquela criança nasceu sem os órgãos internos femininos!
©Copyright ANGELA SCHNOOR
Uma amiga chegada contou-me sua história.
Seus pais eram imigrantes portugueses vindos de uma pequena aldeia, onde viviam com parcos recursos materiais e culturais.
Tiveram esta única filha em idade avançada e ela representava todo seu orgulho e esperança. Criaram a criança com todo o mimo, os melhores colégios, os vestidos mais bonitos, as bonecas mais cobiçadas.
Ela não ligava para nenhuma destas coisas. Gostava de correr com os meninos no recreio e preferia jogar bola, embora as roupas femininas atrapalhassem e os pais a repreendessem.
Volta e meia chegava em casa com os vestidos sujos e rasgados e acabava por inventar tombos ou empurrões para se safar dos castigos.
A puberdade começou a chegar e o primeiro sintoma estranho foi a voz. Principiava a engrossar, caindo nos súbitos falsetes iguais a dos colegas de escola.
Como começassem a aparecer alguns pêlos no buço e a menstruação não chegasse, uma amiga dos pais sugeriu que consultassem um médico.
O casal, temeroso da opinião da vizinhança, preferiu crer em problemas de garganta e rouquidão para justificar os fatos. Eram bastante ignorantes e a mãe nos seus cuidados ao bebê, jamais havia percebido o que lhe disse o médico naquela tarde.
- “Sua criança tem os dois sexos”.“É uma anomalia rara, mas acontece”
- “O que está a nos dizer Senhor Doutoire?”
- “Tento me explicar melhor, aqui temos uma criança que nasceu menino e menina ao mesmo tempo! Ela tem, juntos, vagina e pênis.”
- “Mas há uma solução. Podemos escolher um dos sexos e operá-la e tudo ficará normal, sem problemas. Cabe aos senhores, como pais e responsáveis, escolher o procedimento”.
- Ora veja lá, mas se sempre a tratamos como menina, sempre usou vestidos e até seu nome é o da Senhora de Fátima, o que haveríamos de escolher?” Disse a mãe.
- “E o que dirão na vizinhança e no colégio, se seu sexo for mudado? Não podem nem saber de tal situação!”.
- “Está resolvido. Ela continuará a ser menina e nos dará netos para continuarmos nossa família brasileira”.
Assim, nas férias, Fátima foi operada. Seu pênis foi cuidadosamente extirpado, a recuperação, para afastar curiosos, foi passada numa pensão em uma cidade serrana. E, em pouco tempo, às custas de uma pequena ajuda hormonal, seus pequenos seios começaram a despontar.
Seus pais, cegos pelos preconceitos, esperam até hoje, um neto.
Afinal, sua voz grave pode até ser sensual, só que ela jamais menstruou e uma incomoda barba teima em crescer na face deste ser castrado, pois a única coisa que todos omitiram, em prol da opinião pública, é que aquela criança nasceu sem os órgãos internos femininos!
©Copyright ANGELA SCHNOOR
4 Comments:
Bom dia Ursa querida.
Muito interessante esta nova história.
Mas para quê tentar enganar a nossa natureza. Porque não aceitar as coisas como elas são?
Preconceito, falta de conhecimentos, egoísmo?
Beijinhos.
7:13 AM
Esta é uma história real melga!
Por incrível que possa parecer. Acho que o maior responsável por este crime foi o médico, que nestes casos, pode retirar o pátrio poder e tomar a decisão profissional correta. Ele foi irresponsável e os pais ignorantes demais para perceber o que faziam, além do preconceito e do temor do julgamento alheio.
Recentemente soube que esta pessoa, casou-se, de fato, com um homem que deve ter um componente feminino muito forte!
2:55 PM
Cada vez acredito mais na lei do karma. Eta, vidinhas, burrices, dores, perdas, preconceitos!
3:24 PM
Eu também acho o médico do pior mas pensei que com dinheiro o tivessem convencido.
Há tanta gente que por dinheiro faz tudo, infelizmente.
3:52 PM
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