Desde sempre lembro-me viajando em imagens. Primeiro elas fugiram de meu olhar interno e se faziam ver mergulhadas em papel e cores. Depois vieram as palavras e a inspiração dos sonhos, pois foi a realidade que, muitas vezes, trouxe os pesadelos. Em busca de organizar este mundo interior surgiu a Ilha.União de idéias e sonhos, asas que herdei. Apresento-a em pequenos trechos e peço que questionem, perguntem muito para que ela possa tornar-se mais rica e interessante, lugar melhor pra viver.

15.8.06

MUNDO DOENTE


Penso a fraternidade como a condição em que os Homens se unem para cooperar uns com outros, pelo bem comum, sabendo distinguir qual a sua área de atuação no grande projeto.

A igualdade absoluta ou quase, seria inviável para uma ação coletiva num planeta onde existe, obrigatoriamente, dualidades como dia e noite, Céu e Terra, claro e escuro etc. A falta de distinção entre as partes componentes, a unificação total, a absoluta ausência de divergências ou discriminação seria uma situação possível apenas nos planos da expressão artística, onírica, e nas experiências místicas, pois, do contrário, teremos o que já se avizinha em muitas situações pelo planeta afora: um mundo de banalidades, pseudo-uniformidade, a tal globalização reduzindo a zero qualquer resquício de individualidade e criatividade, além da exacerbação, como defesa inconsciente, de radicalismos imensos e preconceitos altamente destrutivos.

Assim sendo, proponho que pensemos no mundo tomando por base o corpo humano.
No corpo humano, cada célula tem suas características próprias e se reúne àquelas do mesmo tipo e função para compor um órgão ou tecido específico.
A identidade assumida e a especialização conhecida permitem o saber da importância de cada parte na engrenagem total, cada uma exercendo sua função, interligadas pelo sentido intrínseco de manter a saúde e integridade do corpo como um todo.
Em alguns casos, quando uma das partes é lesada, outra parte assume suas funções ou tenta compensá-las de alguma forma.
Temos exemplo de pessoas que escrevem com os pés, que "enxergam" através do tato como a cega Helen Keller que sabia dizer através do toque a cor de uma rosa e assim por diante.
Deste modo, as empresas, os países e toda a sociedade humana, teriam como sobreviver apoiando-se mutuamente e, cada uma das partes seguiria sua verdadeira vocação individual, respeitando e colaborando com as outras, sabendo da importância de todas e de cada uma para a manutenção da vida do corpo maior.

Brincando, por exemplo, com o nosso planeta veríamos a Suíça fabricar seus chocolates e relógios, enquanto os Japoneses melhoram a qualidade dos eletrônicos e os Franceses cuidam dos queijos. Deixando as indústrias aos paulistanos, não teríamos fábricas no Rio de Janeiro que poderia progredir melhor, cuidando de sua vocação para o lazer e o turismo.

Mas, o corpo humano, como tudo na sábia natureza tem órgãos vitais que não podem, ainda, serem substituídos e daí, assim como o corpo falece, a sociedade também entra em colapso quando seus principais órgãos adoecem.

É o caso das grandes potências que, como cérebros ou fígados do mundo trazem a doença e a morte para a civilização que se apoiou nelas. Isto ocorre também nas empresas que detém um poder central onde todo o corpo se apóia.

Deste modo, a proposta seria de uma fraternidade. Uma anarquia onde cada órgão teria a consciência de sua importância e compromisso para com a saúde total e dedicaria um tanto de suas células componentes, juntamente com as representantes de cada órgão ou tecido, para exercerem juntas, em conselho e consenso, as funções dos órgãos vitais.

Assim, a pele da empresa, do estado e do mundo, emprestaria células encarregadas juntamente com outras cedidas pelo estômago ou ovários, por exemplo, para compor um cérebro comandante ou um coração que bombeasse recursos, ou rins que filtrassem informações ou ainda pulmões que se encarregariam das trocas e comunicações.

Nesta organização que certamente seria difícil, demorada e trabalhosa, mas não impossível; cada setor comandante teria sua sede também em outros setores, países, cidades etc. e ao adoecer ou cansar não haveria colapso total e sim mudanças constantes efetuadas pela colaboração em lugar da competição desenfreada e individualista que assistimos hoje.

Da mesma forma que o corpo humano abriga microorganismos vários que tomam conta do corpo quando este adoece ou vem a falecer,a sociedade Humana também tem seus vírus e bactérias, elementos necessários para a dinâmica do organismo.
Estes microorganismos têm direito à vida e lutam por ela.
O conceito maniqueísta de bem ou mal, certo ou errado pretende manter fora da totalidade o que chamam de mal, sombra, demo ou outra denominação qualquer, como se pudesse ser Total qualquer coisa que não inclua todas as partes.

Não estamos cuidando da saúde do planeta e já não sabemos mais conter as epidemias de destruição em massa.
Da mesma forma que o organismo humano cuida de eliminar seus dejetos e mantém reservatórios para seu armazenamento, muitas vezes utilizando o que pode ser aproveitável como adubo e outros, a humanidade poderia aprender a lidar com os elementos desarmônicos que povoam o planeta.
Mas se pode ver que, se até no que concerne ao lixo material, conseguimos em nossa cegueira e onipotência fabricar lixo poluente, indestrutível por muito e muito tempo, imaginem a analogia com o lixo humano que produzimos!


O crime, a violência, e toda a degradação que vemos avassalar o planeta não podem ser eliminados, mas teriam que ser contidos e equilibrados.
O que chamamos de “mal” é relativo e pode ser a avaliação de outros em relação ao que, para nós, é “o Bem”!

Seguindo o modelo do corpo humano sabemos que o que nos destrói pode também ser o que nos salva. Resta-nos manter a saúde de cada um de nossos órgãos em perfeita colaboração pela saúde total, respeitando a diversidade de formas, feitios e funcionamentos, não perdendo a finalidade focada na preservação da vida. Então manteremos os micro organismos em suas funções de colaboradores do sistema, sem sermos destruídos por eles.

Em meu entendimento, o corpo da Humanidade tem um câncer em metástase. O que se pode fazer? Tentar aumentar, e muito, tudo que for saudável! Somos, cada um, uma pequena célula. Vamos cuidá-la e das que estão à volta, tentando construir um tecido saudável!

“Ontem” um rapaz brasileiro foi morto, enganosamente, por policiais ingleses no metrô de Londres, por ser julgado terrorista. Ontem, um rapaz português em férias foi morto em uma praia do Rio de Janeiro, por um marginal, por defender do roubo a sua mochila.

Medo, fome, preconceito, intolerância, sede de poder, falta de limites. Estes são “pequenos sintomas” da doença!
Os micro-organismos invadem o corpo da humanidade que, um dia, foi mais sadio.
Os Ingleses se absolveram.Não sei o que se pode fazer pela dor dos pais deste moço português.

Por mim, assumo que não devo ter cuidado o suficiente da célula que sou e onde vivo e que, inconseqüente ou acomodada, colaboro para que os vírus estejam desequilibrados e disseminados colocando em risco a Vida do corpo da Humanidade.


Em 14 de agosto de 2006

ANGELA SCHNOOR Posted by Picasa

16 Comments:

Blogger melga meiguinha said...

Afinal não sou só eu que defende a utopia!

Mas confesso que continou a sonhar com "Uma Terra sem Amos", onde cada um desse tudo o que pudesse para o bem estar geral.

Eu sei, neste caso, continuo uma adolescente!

Beijinhos.

9:44 AM

 
Blogger melga meiguinha said...

Queria dizer "continuo".

1:21 PM

 
Blogger Pitanga Doce said...

Olá, chego a esse blog pelas mãos da 125-azul. Acho que temos muito a ver. Entre no pitangadoce.blogspot.com. Se gostar,eu venho aqui e você vai lá.
abraços Pitanga

10:58 AM

 
Anonymous Anônimo said...

É para se pensar...

9:02 PM

 
Blogger Angela said...

Meiguinha querida, como demorei a te dar resposta! Apenas canseira e falta de tempo pois o Luca começou a ficar com altas alergias desde que o tempo enlouqueceu de novo!

É bom ser adolescente quando o sabemos. Sem utopias não se anda, só que não podemos achar que vamos consertar o mundo, até porque outros acham o mesmo de forma diversa!
Gosto das palavras do Dr C.G. Jung: Quem olha para fora, sonha. Quem olha para dentro, acorda!

12:45 AM

 
Blogger Angela said...

Pitanga,

Grata por sua visita! Vou ao seu blog com prazer mas... sem escambo, ok?

12:48 AM

 
Blogger Angela said...

Eduardo, pode ser pra pensar ou para "sentir" ou intuir! bj. saudoso.

12:49 AM

 
Blogger melga meiguinha said...

Querida Ursa Mãe,

Pensei que andasse um pouco melhor e que a ausência fosse para lambuzar de beijos os seus pequerruchos.

Lamento pelo Luca mas, na foto ele está tão lindo e parece tão saudável.
Mas vai melhorar, força.

Nunca desejei para mim aquilo que as outras pessoas não pudessem ter também(´confesso, só a psicóloga), por isso ainda consigo sonhar de vez em quando.

Como diz o nosso poeta:
.....

Eles não sabem nem sonham, que o sonho comanda a vida e que sempre que o homem sonha o mundo pula e avança, como bola colorida entre as mãos duma criança.

Conhece o poema todo?
Penso que C_mim já o colocou no Projecto-C.

Muitos beijinhos e as melhoras para os doentinhos.

12:11 PM

 
Blogger Angela said...

Meiguinha querida,
Ando muito cansada mas com os exames muito bons! O Luca é muito alérgico e o nosso clima úmido e instável não o favorece mas está um azougue e só faz dizer "encore", encore" sempre que deseja que se repita tudo que gosta, como cantar para ele, por exemplo!

Fiquei muito felz com este lado sonhador e idealista da meiguinha, bem escondidinho atrás das revoltas e do mau humor!

Não Meiguinha, acho que não conheço todo o poema e parece ser de Pessoa, estou certa? Vou procurar mas seria bom saber o nome do poema! Me diz?

11:57 PM

 
Anonymous Anônimo said...

best regards, nice info » » »

10:21 AM

 
Blogger http://lili-one.livejournal.com/ said...

O poema todo chama-se 'Pedra Filosofal' e o autor foi António Gedeão.

Eles não sabem que o sonho
é uma constante da vida
tão concreta e definida
como outra coisa qualquer,
como esta pedra cinzenta
em que me sento e descanso,
como este ribeiro manso
em serenos sobressaltos,
como estes pinheiros altos
que em verde e oiro se agitam,
como estas aves que gritam
em bebedeiras de azul.

Eles não sabem que o sonho
é vinho, é espuma, é fermento,
bichinho álacre e sedento,
de focinho pontiagudo,
que fossa através de tudo
num perpétuo movimento.

Eles não sabem que o sonho
é tela, é cor, é pincel,
base, fuste, capitel,
arco em ogiva, vitral,
pináculo de catedral,
contraponto, sinfonia,
máscara grega, magia,
que é retorta de alquimista,
mapa do mundo distante,
rosa-dos-ventos, Infante,
caravela quinhentista,
que é Cabo da Boa Esperança,
ouro, canela, marfim,
florete de espadachim,
bastidor, passo de dança,
Colombina e Arlequim,
passarola voadora,
pára-raios, locomotiva,
barco de proa festiva,
alto-forno, geradora,
cisão de átomo, radar,
ultra-som, televisão,
desembarque em foguetão
na superfície lunar.

Eles não sabem, nem sonham,
que o sonho comanda a vida.
Que sempre que um homem sonha
o mundo pula e avança
como bola colorida
entre as mãos de uma criança.

12:46 PM

 
Blogger Angela said...

Obrigada! mas, certamente não imaginas que ficaríamos mais de um ano à tua espera para saber o poema e seu autor, pois não?

8:29 PM

 
Blogger http://lili-one.livejournal.com/ said...

Que grande falta de modéstia e boa formação! Além do mais, não vi aqui, em lado nenhum, o poema colocado.

4:12 PM

 
Blogger Angela said...

Este comentário foi removido pelo autor.

10:15 PM

 
Blogger Angela said...

Caro comentarista sem nome próprio!

Não é falta de modéstia e nem de educação. É humor que, pelo jeito vc. não entende, assim como não entendeu também que este não é um espaço onde se pretende publicar poemas. Como poderá perceber, se ler com atenção, este poema surgiu nos comentários entre amigos, pessoas que se conhecem e que trocam informações, também fora deste espaço. Além do mais, se tivesse lido direito veria a informação sobre ler o poema no "projeto C".
Acho que as pessoas estão ficando cada vez mais espaçosas e sem limites. Um blog, embora público, é um espaço individual e, portanto não podemos entrar e ir mandando,ocupando espaço, fazendo o que desejamos e ainda por cima julgando a "educação do outro!"
Que espanto!
Fui, por acaso ao seu espaço, me intrometer?
Agradeci e agradeço o poema. A intenção valeu mas foi um pouco tardia... depois de um ano! Uau!!!
seja feliz!

10:21 PM

 
Blogger http://lili-one.livejournal.com/ said...

O meu nome próprio está no link.
E o meu espaço está aberto a qualquer pessoa. Mesmos aos qie têm falta de humisldae de comoV. demosntra.

10:27 PM

 

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