Desde sempre lembro-me viajando em imagens. Primeiro elas fugiram de meu olhar interno e se faziam ver mergulhadas em papel e cores. Depois vieram as palavras e a inspiração dos sonhos, pois foi a realidade que, muitas vezes, trouxe os pesadelos. Em busca de organizar este mundo interior surgiu a Ilha.União de idéias e sonhos, asas que herdei. Apresento-a em pequenos trechos e peço que questionem, perguntem muito para que ela possa tornar-se mais rica e interessante, lugar melhor pra viver.

8.8.06

Considerações sobre a gestação da alma


MuseuDorsay – LeSouvenir - escultura de AntoninMercier

A Vida, a Essência, Deus ou o Espírito de todas as coisas é o Grande e Eterno Movimento.

A vida não foi gerada, sempre existiu e se mantém eternamente nos pequenos movimentos que repetem os grandes ou vice versa, na medida em que tudo se interliga e é uma mesma coisa, um processo igual e permanente, cíclico e evolutivo como uma espiral.

Não há morte. Há a transformação constante das matérias conhecidas em cada degrau da evolução espiralada.

A estas transformações chamamos morte, pois, diante de nossa visão limitada existe um desaparecimento da forma conhecida e assimilada que precisa deixar de ser para que, em liberdade, a essência possa assumir novas formas.

Esta é uma visão que o ser humano tem, enquanto essência materializada e presa a uma forma específica. Para que possa compreender e manter contato com tudo que existe, o Homem necessita aprisionar a energia e vê-la presente e concreta em seu mundo, em seu plano de experiência.

Assim sendo, o Homem cria Deus à sua imagem e semelhança pois, tem os mesmos dons e poderes que parece só perceber fora, longe de si mesmo e maior que ele próprio.

E o Homem só se identifica com Deus, com a vida e consigo mesmo, quando cria, quando dá forma a uma essência e a aprisiona, embora temporariamente, nos limites da compreensão do plano em que vive ou, em outras palavras, no mesmo plano onde sua essência está aprisionada.

Neste momento, o da criação, ele se percebe Deus e está em uníssono com a vida, pois esta tomou forma “à sua imagem e semelhança”.

Daí o Homem acreditar Deus como alguém de fora, maior que ele, que o descobriu, o criou e deu-lhe também, uma forma. Quando fica velha, gasta, obsoleta, ultrapassada, existe a necessidade de uma nova forma material, impondo-se a destruição do modelo antigo e, portanto, da morte.

Acontece então a liberação da essência antes aprisionada e a conseqüente assunção de uma forma nova, materializada sob nosso código de compreensão humana e conseqüente perpetuação da vida que é, em maior instância, o próprio movimento dialético.

Dentro da compreensão espiral da vida, temos a gestação da estrutura material do homem, seu corpo, que se desenvolve dentro de uma outra forma, a bolsa amniótica.

Preso à placenta materna por um cordão que deve ser cortado assim que inicia a nova experiência de vida, a de ser sozinho, quando então se torna mãe e pai de uma nova instância que começa a se desenvolver a partir do nascimento: sua alma.

Durante a vida do corpo, nos é dado um tempo para crescimento, desenvolvimento e aperfeiçoamento da alma, esta nova forma de vida que terá um outro tipo de experiência após seu nascimento pela conseqüente morte do corpo, a estrutura concreta que a guardava e mantinha aprisionada.

Desde o nascimento estamos gestando uma alma. Com a morte do corpo damos-lhe a luz, libertando-a para sua vida independente e autônoma.

Assim como abandonamos a placenta, e a partir do corte do cordão umbilical adquirimos vida própria independente da mãe, a alma abandona o corpo material que se transforma em substância química da própria Terra.

Quando corta sua ligação com a existência da mãe Terra, a alma vai gerar, em seu âmago, o germe de uma outra instância de vida ainda desconhecida que viverá uma outra experiência no ciclo espiralado.

Creio que teremos informação sobre esta nova fase quando conhecermos de forma completa a formação do corpo material do sistema solar. Então ele estará pronto para morrer e parir sua essência, iniciando um novo ciclo, macro para nossa pequenez, micro na imensidão do infinito.

Dentro desta perspectiva o suicídio, assim como toda morte não natural ou não consentida, pode ser entendido como um parto prematuro ou aborto da alma.

Em 13 de Junho de 1986, Angela Schnoor.

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5 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Texto lindo!!!

10:50 PM

 
Blogger Angela said...

Muito obrigada meu fiel e rápido "escudeiro" das letras!
demorei a ter "coragem para postar este texto por achar que, fora algumas pessoas (poucas, como vc. por exemplo), poderia não me fazer entender!

11:00 PM

 
Blogger 125_azul said...

Aborto da alma. Que conceito profundíssimo. Gestação e morte... tenho tantas coisas novas para pensar. Grata Dinda!

4:42 AM

 
Blogger Angela said...

Querida amiga azulinha!
Sei que vc. teria muitas coisas importantes a pensar independente de minhas elocubrações. Um beijo.

1:15 AM

 
Blogger greentea said...

lindissimo este post esta concepção... por vezes tão dificil de aceitar qd alguém q nos é muito querido abandona o seu corpo aqui na Mãe-Terra... um beijo para ti

6:58 AM

 

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