Desde sempre lembro-me viajando em imagens. Primeiro elas fugiram de meu olhar interno e se faziam ver mergulhadas em papel e cores. Depois vieram as palavras e a inspiração dos sonhos, pois foi a realidade que, muitas vezes, trouxe os pesadelos. Em busca de organizar este mundo interior surgiu a Ilha.União de idéias e sonhos, asas que herdei. Apresento-a em pequenos trechos e peço que questionem, perguntem muito para que ela possa tornar-se mais rica e interessante, lugar melhor pra viver.

23.7.06

Escritores - Márcia Frazão


São muitos os que escrevem, poucos os ESCRITORES.

Márcia Frazão- mfrazao@netflash.com.br - vale ser lida.
Ela tem linguagem própria e fala de coisas nossas.
Tome este aperitivo!


MÉTRICAS

Vitalina costumava dizer que "o comprimento não é coisa dos centímetros e metros". O seu sistema métrico ignorava os tracinhos das réguas e era definitivamente avesso às fitas. Media no olho. Olhava sabe-se lá para qual ponto, estendendo um fio imaginário que vez por outra me surpreendia com a exatidão neo-científica de uma bruxa analfabeta. Invertia a lógica e ria-se de qualquer tonto que tentasse convencê-la da inexatidão dos seus cálculos. Um dia, chegou lá em casa um homem estúpidamente alto, comprido como uma vara, e ela nos disse que ele era "baixo que nem verme minhoquento". Minhoca?! O homem media quase dois metros! Mas olhando para o tal ponto incógnito, Vitalina insistia em afirmar a minhoquês do gigante. De nada adiantou medi-lo, exibir a prova definitiva da fita métrica. Vitalina não se convenceu. Continuou afirmando que o gigante não passava de uma minhoca. O tempo passou e um belo dia estourou uma notícia na casa: o grandão dera um desfalque no banco que trabalhava! Vitalina nos olhou e sorriu zombeteira: "Eu não disse que o tal era baixo que nem verme minhoquento?"... Desde então, tenho procurado no espaço o tal ponto incógnito. Aposentei as réguas e fitas métricas, e estico os centímetros entre as pestanas. Descobri que o tal ponto pode estar no intervalo criado pelo piscar dos olhos. Ali, no vácuo da percepção. Escondido e exposto, em movimento e parado. Com o exercício desta neo-ciência, percebi que a métrica transcende o comprimento, altura, circunferência e peso. Me dei conta de que, por mais disparatado que seja, a métrica pertence ao universo dos adjetivos e não dos números. Sim! A analfabetice de Vitalina estava certa: " São as palavras que esticam, encolhem, engordam e emagrecem o mundo.".



E, busque a refeição completa em:"Senhoras do Santíssimo Feminino", editora Rosa dos Tempos, ou "O Feitiço da Lua", editora Bertrand Brasil, ou "Guadalupe e as Bruxas", editora Planeta.

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4 Comments:

Blogger 125_azul said...

Então e o Amor se faz na Cozinha? Eu adorei!!!
E queria muito saber exactamente onde fixar o tal ponto imaginário para tirar medidas... Beijo.

6:06 AM

 
Blogger melga meiguinha said...

Outro texto super interessante.

Também gostava de tirar medidas assim.

Como está hoje?
Finalmente o tratamento está a fazer efeito?

Muitos beijinhos.

9:57 AM

 
Blogger Aragana said...

Acho que nós todos tiramos medidas, de maneiras diferentes, mas conseguimos todos.

:)

10:52 AM

 
Blogger Angela said...

É mesmo! esqueci do título que a nossa saudosa arara azul lembrou!

E, que tal tomar gosto pelas obras da Márcia?

Acho que Aragana, parece intuitiva e estes sempre sabem medir sem medidas...o tal ponto chave está lá dentro... em cada alma! Parece um "apito" que avisa...pode apostar nessa, este nem pensar... e por aí vai!

Meiguinha, obrigada por se preocupar. Amanhã tiro raio X dos pulmões e vou tomar mais umas doses de antibióticos, ainda não firmei a saude de volta! Mas vi o Pedrinho hoje, de longe ainda, sem colinho. E o menino cresceu! embonitou e engordou muito. Vó tá que nem peru de roda, toda inchada!

Beijos a todas!

9:14 PM

 

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