Anima - pequenas histórias femininas 9
Na maioria das mulheres as cicatrizes se encontram na alma.
Narcissus - John W. Waterhouse
Conto 9
BELEZA
BELEZA
Tinha sido uma criança linda e a mãe exibia, orgulhosa, a sua beleza até que se tornou adolescente.
Muito cedo, o corpo de mulher já despontava, atraindo os olhares desejosos dos rapazes da pequena cidade onde morava e a admiração do pai, a quem adorava.
A repressão da mãe, às suas manifestações de afeto, começaram a doer em seu coração sensível.
-“Cuidado com os homens, vai virar puta!”
-“Vão abusar de você”
-“Não pega nas pessoas, é feio! “
A menstruação fez a carga aumentar:
-“Só quero ver se você ficar grávida! “
-“ Homem só quer se aproveitar!”
O primeiro namorado já tinha ouvido a seu respeito:
-“Com aquele corpo? Já deu! Vai lá que dá pé.”
Ela era pura e inocente. A mãe esquecera de lhe orientar pois temia o sexo, a vida e tudo o que a filha representava de perigo para ela.
Na primeira investida do namorado, não entendeu nada, era frígida e não sabia. Os bloqueios da mãe tinham feito o estrago.
Aos poucos ele a sodomizou sob ameaças e agressões sem nunca lhe dar prazer.
Sua verdade porém é que se achava impura e portanto, fadada a permanecer naquela relação pois nenhum outro homem a aceitaria.
Amedrontada, escondia da mãe as manchas roxas pelo corpo, temendo sua reação. A mãe também a surrava!
Estudava em colégio de freiras e a culpa aumentava à cada aula de religião, até que um dia, sentiu empatia e confiança em uma professora. Contou-lhe suas amarguras e ela a orientou.
Em pouco tempo se libertava do sádico namorado e se sentia feliz outra vez!
Quis até tornar- se religiosa mas a vida foi cumprindo as pragas da mãe.
Encontrou um homem mais velho no qual confiou mas que a estuprou na primeira oportunidade. A raiva pelos homens crescia e, através de uma amiga, procurou uma terapia para resolver sua frigidez, sua raiva, seu desamor, a dor e a decepção diante da vida.
Passaram-se muitos anos, sempre defendida do amor, dos homens e do sexo.
Mais velha, conseguiu amar e confiar em alguém. Casou e teve uma linda filha a quem procurou orientar para que fosse feliz, tratando de forma natural o sexo e o amor.
Seu marido, meigo e compreensivo, aos poucos ajudou-a a se libertar do medo e da desconfiança mas, com o tempo, foi se transformando num bom amigo.
Quando a meia idade foi chegando, começou a ser feliz sem receios. A beleza física não é mais seu atrativo. Desenvolveu outros valores e agora pode demonstrar amor sem correr riscos de ser incompreendida.
Só que o peito dói quando vê o marido, que não a toca mais, admirando a beleza da filha adolescente.
©Copyright ANGELA SCHNOOR
4 Comments:
Penso que se todos nos preocupássemos mais com a beleza interior, o mundo seria muito melhor.
E talvez não houvesse tantos corações bons, postos de parte.
O marido fez o mesmo que a grande maioria dos homens faz.
Infelizmente há alguns que nem amigos se tornam.
10:31 AM
real, mas muito triste, como estou agora.
12:30 PM
esta história lembra-me algo...
6:31 PM
Pena que nem tudo são contos de fadas boas!
Mas todos podemos aprender com a vida e nos tornamos pessoas melhores sabem? tenho visto isso...
11:26 PM
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