Milagre ou construção?
Relações bem construídas ou milagres decepcionantes?
Não costumo ser saudosista e o que vou dizer é apenas uma constatação que ajudará a desenvolver meu raciocínio mais adiante.
Quando eu era jovem, raramente comprávamos roupas em lojas. Inventávamos uma determinada roupa para uma ocasião específica e então, nossa mãe ou uma tia, a avó e até uma costureira conhecida, confeccionava a vestimenta que tínhamos imaginado e desenhado, para a qual havíamos comprado tecido, aviamentos e tudo que fosse necessário.
Experimentávamos quantas vezes fosse preciso e depois de muitos dias, dependendo da disponibilidade da costureira ou da data do evento em questão, nossa criação ali estava e faria parte do ritual a que se destinava.
Toda esta trajetória enchia com sonhos e expectativas o universo feminino e, creio, o masculino também.
Hoje, aos poucos deixamos de ser românticas e sonhadoras e passamos à categoria de “consumidoras”! Vamos ao shopping e gastamos horas e muito dinheiro enchendo sacolas com produtos da moda. Raramente se aperta uma peça ou se acerta uma bainha. Parece que somos bonecas feitas em série.
Basta ter uma visão um pouco crítica e atenta para ver a repetição de modelos e cores “que estão se usando” como se uniformes fossem.
A mesma mentalidade parece se repetir nos relacionamentos, e é neles que eu pretendo focar minha atenção.
Acho que as pessoas lidam com suas relacões como com as roupas. Pretendem encontrá-las prontinhas na vitrine, de acordo com a fôrma da moda... prêt à porter!
Esquecem que, assim como as vestimentas de tempos atrás, é preciso sonhar, conhecer o objetivo que se tem e depois ir devagar, construindo, provando e acertando alturas e larguras até que esteja de acordo com nosso corpo, com nossa alma!
Acho que, pra começar, precisamos saber quem somos e o que pretendemos, o que imaginamos do relacionamento em questão, ou seja: O que é uma amizade para mim? Como imagino e o que espero de um casamento, de um companheiro? Desejo apenas um namoro breve ou estou carente de sexo?
Gosto das analogias, acho que elas facilitam a compreensão das coisas porque ajudam a nos distanciarmos do assunto vendo-o sob outro prisma.
Quantas vezes evitamos uma reação defensiva contando uma história onde o problema é do “outro”?
A carapuça cai como uma boa luva e o efeito é imediato, nas profundezas do coração.
Então vamos imaginar que, em lugar do relacionamento, vamos fazer um bolo ou outro alimento qualquer.
A primeira coisa a fazer é saber o que desejamos e pra que ocasião ou pra quem, concordam?
Ah! Então quero fazer um bolo, um churrasco ou uma sopinha ?Para uma amiga doente, para o aniversário de alguém? Só para meu dia a dia?
Isto equivale saber que tipo de relacionamento eu desejo.
Para um sanduíche necessito de menos traquejo e de ingredientes do que para uma receita requintada. De que eu gosto? Do que tenho necessidade? O que sou capaz de fazer? Todas estas questões implicam em auto conhecimento.
Em seguida vamos à receita e aos ingredientes, o que equivale às qualidades que aprecio em mim e nos outros. De que adianta fazer um bolo cheio de recheios e glacês de chocolate se não posso comer açúcar?
Assim que a realidade de minha escolha estiver bem discernida devo começar a fazer o alimento. Algumas pessoas precisam de receita e gostam de seguí-la, mas até estas devem saber que, com a mesma receita, diferentes pessoas fazem pratos bem diversos...
Outros já sabem de cor ou, são tão intuitivos, que arriscam inventar seus quitutes, pois já se conhecem o bastante e dominam a questão.
De todo modo, assim como precisamos ter todos os ingredientes também é necessário saber as qualidades, minhas e de meus parceiros, no jogo das relações.
Por exemplo, se desejo construir uma boa amizade não vou necessitar de uma forte atração sexual, não é mesmo? Da mesma forma que não necessito de café para fazer um prato de peixe ensopado!
E o modo de fazer? A não ser por muita sorte, não faremos o melhor bolo da primeira vez! É preciso, como nas provas dos vestidos, treinar, experimentar até ganhar prática.
Namorar, conversar, conviver podem ser formas de ganhar traquejo!
Bem, parece que depois disto, tudo está pronto! Não! Ainda não!
E aqueles que tem relacionamentos duradouros e positivos podem nos lembrar que, de vez em quando, é bom mudar um pouquinho a receita. Introduzir uma cobertura nova, um recheio diferente, mantendo a receita básica que é boa e rende bem. Imagina quando deixam de fabricar ou está em falta um ingrediente a que estamos acostumados?
Re inventar e arriscar a mudança é melhor do que ficar reclamando...
Você não é mais o mesmo!!!
Procure um ingrediente novo, ele vai dar certo! Coragem, o velcro pode substituir o antigo fecho éclair! alguém que está mais calado pode ser melhor ouvinte!
Assim, como fazíamos as reformas dos vestidos, não é bom jogar fora a roupa que saiu de moda se temos um tecido de qualidade e a cor e a modelagem nos assenta tão bem! um elástico aqui, uma pence alí e, a roupinha que parece nova estimula um recomeço!
Hoje as coisas são descartáveis, não se reforma nem se conserta nada... Vivemos a era do lixo e, sem querer passamos esta mentalidade às relações. Divórcios e separações estão aí aos montes... tudo tornou-se efêmero demais!
Não deu certo... É tão fácil dizer!
Apesar de um pouco queimado, talvez meio tortinho, se a massa ficar solada...corta-se em pedacinhos, voltamos ao forno; aquecemos e fazemos biscoitos, inventando possibilidades novas!
É muito gratificante construir, com carinho e paciência, a nossa receita de fazer feliz nosso viver!
Angela Schnoor. no Rio de Janeiro, em 22 de setembro de 2006 – 03h02”
frase do dia: "Nossas vidas são tecidas pelo mesmo fio dos nossos sonhos"
William Shakespeare
Não costumo ser saudosista e o que vou dizer é apenas uma constatação que ajudará a desenvolver meu raciocínio mais adiante.
Quando eu era jovem, raramente comprávamos roupas em lojas. Inventávamos uma determinada roupa para uma ocasião específica e então, nossa mãe ou uma tia, a avó e até uma costureira conhecida, confeccionava a vestimenta que tínhamos imaginado e desenhado, para a qual havíamos comprado tecido, aviamentos e tudo que fosse necessário.
Experimentávamos quantas vezes fosse preciso e depois de muitos dias, dependendo da disponibilidade da costureira ou da data do evento em questão, nossa criação ali estava e faria parte do ritual a que se destinava.
Toda esta trajetória enchia com sonhos e expectativas o universo feminino e, creio, o masculino também.
Hoje, aos poucos deixamos de ser românticas e sonhadoras e passamos à categoria de “consumidoras”! Vamos ao shopping e gastamos horas e muito dinheiro enchendo sacolas com produtos da moda. Raramente se aperta uma peça ou se acerta uma bainha. Parece que somos bonecas feitas em série.
Basta ter uma visão um pouco crítica e atenta para ver a repetição de modelos e cores “que estão se usando” como se uniformes fossem.
A mesma mentalidade parece se repetir nos relacionamentos, e é neles que eu pretendo focar minha atenção.
Acho que as pessoas lidam com suas relacões como com as roupas. Pretendem encontrá-las prontinhas na vitrine, de acordo com a fôrma da moda... prêt à porter!
Esquecem que, assim como as vestimentas de tempos atrás, é preciso sonhar, conhecer o objetivo que se tem e depois ir devagar, construindo, provando e acertando alturas e larguras até que esteja de acordo com nosso corpo, com nossa alma!
Acho que, pra começar, precisamos saber quem somos e o que pretendemos, o que imaginamos do relacionamento em questão, ou seja: O que é uma amizade para mim? Como imagino e o que espero de um casamento, de um companheiro? Desejo apenas um namoro breve ou estou carente de sexo?
Gosto das analogias, acho que elas facilitam a compreensão das coisas porque ajudam a nos distanciarmos do assunto vendo-o sob outro prisma.
Quantas vezes evitamos uma reação defensiva contando uma história onde o problema é do “outro”?
A carapuça cai como uma boa luva e o efeito é imediato, nas profundezas do coração.
Então vamos imaginar que, em lugar do relacionamento, vamos fazer um bolo ou outro alimento qualquer.
A primeira coisa a fazer é saber o que desejamos e pra que ocasião ou pra quem, concordam?
Ah! Então quero fazer um bolo, um churrasco ou uma sopinha ?Para uma amiga doente, para o aniversário de alguém? Só para meu dia a dia?
Isto equivale saber que tipo de relacionamento eu desejo.
Para um sanduíche necessito de menos traquejo e de ingredientes do que para uma receita requintada. De que eu gosto? Do que tenho necessidade? O que sou capaz de fazer? Todas estas questões implicam em auto conhecimento.
Em seguida vamos à receita e aos ingredientes, o que equivale às qualidades que aprecio em mim e nos outros. De que adianta fazer um bolo cheio de recheios e glacês de chocolate se não posso comer açúcar?
Assim que a realidade de minha escolha estiver bem discernida devo começar a fazer o alimento. Algumas pessoas precisam de receita e gostam de seguí-la, mas até estas devem saber que, com a mesma receita, diferentes pessoas fazem pratos bem diversos...
Outros já sabem de cor ou, são tão intuitivos, que arriscam inventar seus quitutes, pois já se conhecem o bastante e dominam a questão.
De todo modo, assim como precisamos ter todos os ingredientes também é necessário saber as qualidades, minhas e de meus parceiros, no jogo das relações.
Por exemplo, se desejo construir uma boa amizade não vou necessitar de uma forte atração sexual, não é mesmo? Da mesma forma que não necessito de café para fazer um prato de peixe ensopado!
E o modo de fazer? A não ser por muita sorte, não faremos o melhor bolo da primeira vez! É preciso, como nas provas dos vestidos, treinar, experimentar até ganhar prática.
Namorar, conversar, conviver podem ser formas de ganhar traquejo!
Bem, parece que depois disto, tudo está pronto! Não! Ainda não!
E aqueles que tem relacionamentos duradouros e positivos podem nos lembrar que, de vez em quando, é bom mudar um pouquinho a receita. Introduzir uma cobertura nova, um recheio diferente, mantendo a receita básica que é boa e rende bem. Imagina quando deixam de fabricar ou está em falta um ingrediente a que estamos acostumados?
Re inventar e arriscar a mudança é melhor do que ficar reclamando...
Você não é mais o mesmo!!!
Procure um ingrediente novo, ele vai dar certo! Coragem, o velcro pode substituir o antigo fecho éclair! alguém que está mais calado pode ser melhor ouvinte!
Assim, como fazíamos as reformas dos vestidos, não é bom jogar fora a roupa que saiu de moda se temos um tecido de qualidade e a cor e a modelagem nos assenta tão bem! um elástico aqui, uma pence alí e, a roupinha que parece nova estimula um recomeço!
Hoje as coisas são descartáveis, não se reforma nem se conserta nada... Vivemos a era do lixo e, sem querer passamos esta mentalidade às relações. Divórcios e separações estão aí aos montes... tudo tornou-se efêmero demais!
Não deu certo... É tão fácil dizer!
Apesar de um pouco queimado, talvez meio tortinho, se a massa ficar solada...corta-se em pedacinhos, voltamos ao forno; aquecemos e fazemos biscoitos, inventando possibilidades novas!
É muito gratificante construir, com carinho e paciência, a nossa receita de fazer feliz nosso viver!
Angela Schnoor. no Rio de Janeiro, em 22 de setembro de 2006 – 03h02”
frase do dia: "Nossas vidas são tecidas pelo mesmo fio dos nossos sonhos"
William Shakespeare
6 Comments:
OLÁ ÂNGELA
MUITO BOM ESTE SEU TEXTO.
Boa constatação para desenvolver todo o seu raciocínio...
Eu, ainda hoje sou romântica e, não passei à categoria de consumidora, raramente faço compras! Vejo, aprecio, sonho, mas não compro, umas vezes porque são demasiado caras para a minha bolsa, outras porque não quero andar igual aos outros e muitas das vezes porque não me servem.
Concordo com sua analogia!
É triste reconhecer que 90% da população vive a «era do lixo», as coisas são descartáveis, não se conserta nada. Felizmente, eu vou à minha costureira transformar este vestido numa saia, ou umas calças nuns corsários, porque não?
Bom fim de semana,
Beijokas docinhas.
9:21 PM
Olha, esse texto vem a calhar com o programa que assisti, essa semana no GNT. Falavam de sexo casual. É mais um expressão que vai virar corriqueira como "discutir a relação". As mulheres, ali entrevistadas, inclusive uma atriz com seus cinquenta e muitos, falavam com certo orgulho do fato de conhecer um homem e na mesma noite irem pra cama e na manhã seguinte, é claro quando acabar o pileque, se perguntar o que é que eu estou fazendo aqui? E ainda reclamam falta de cavalheirismo do cara não ligar no dia seguinte! O que as mulheres estão querendo? Isso não é ser moderna e nem aderir aos descartáveis porque o produto descartável são elas.
beijos doces
10:13 PM
Lembro nas minhas festas quando era crianças era minha mãe que prepava tudo, hoje em dia são as casas de festa.
tudo agora é consumir, menos imaginação.
Gostei do artigo.
11:47 PM
Amigos,
que interessante este texto ser visto com enfoques tão diversos por vocês três, embora a constãncia da ênfase no impessoal e no descartável!
Pitanga, foi sua resposta ao meu post sobre amor que inspirou este texto, quando vc. brincou que seria "milagre" o que eu propunha.
Quis falar do empenho e do trabalho que necessita a construção de uma relação que não encontramos pronta e perfeita como se deseja!
Grata por darem dimensões maiores ao meu pensamento!
1:01 AM
Como diz sua Alteza a Arara Real,
" Ser feliz dá uma trabalheira".
Beijinhos.
7:36 PM
Olhe que o shakespeare tá certo!!! E ursamãe...
Crescer demora tempo e ser feliz dá trabalho...
E eu não vou em modas...
4:34 PM
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