Sonhos, Cores e Razão

Já era uma jovem formada e o tema de sono e sonhos fazia parte de meus maiores interesses na área da psicologia. Entretanto, foi com imensa surpresa que recebi um comentário feito por um de meus irmãos, sobre o colorido em seus sonhos!

Uau! Sonhos coloridos? Naquele instante eu acabava de dar com a testa na tela preta e branca dos meus próprios sonhos e no impasse em que esta percepção me colocava!

Como? Mas, era lógico e sabido, pessoas tinham sonhos coloridos e eu estava ali, como uma tonta, a perceber que jamais tinha contestado esta afirmação e muito menos me confrontado com a singularidade e estranheza dos Meus sonhos banhados em soda caustica!

Conversamos mais um pouco e fui para casa onde me detive pensando nas defesas que havia criado para meus afetos e fantasias a ponto de não ter a menor lembrança de uma tela Hollywoodiana no escurinho de meu cinema privé!

E eu tinha sido uma criança tão sensível e tímida, uma menina que desenhava e coloria todos os papéis que apareciam em sua frente. Sim, é claro, as repressões e violações foram muitas e as defesas existiam para serem usadas, mesmo que fossem desta maneira tão radical!

Passaram-se anos nos quais pesquisei mais sobre esta parte da vida que considero tão fascinante e que me é, até hoje, tão agradável: O sono e os sonhos, mesmo que em nuances de luz e sombra.

E eis que uma noite, sem mais aquela, tenho um sonho que partiu em duas etapas minhas representações oníricas.

Na tela da noite eu me via despida, com naturalidade, sentada na soleira da porta duma casa de cidade pequena.

Todo o casario seguia o estilo colonial e eu podia ver a rua vazia lá fora, sob um branco sol de meio dia,à frente da porta onde me sentava. Minha consciência era a expectadora de tudo e incluía minha imagem. Me observava no escuro,de dentro da casa, por detrás de toda a cena.

Tudo se passava em tons que iam do branco ao negro passando por diversas cinzas, como tinham sido, até então, todas as minhas imagens.

De repente, sem mais aquela, na região lombar de meu corpo, comecei a ver alguns furinhos que se faziam como se eu tivesse sido picada por cupins que abriam passagem sob a minha pele.
Logo, filetes de sangue muito rubro e vivo escorriam dos furos sobre minhas ancas e caiam no assoalho.

Lembro-me do chamamento estético daquela imagem! O tom de vermelho, rubro, forte, era lindo e muito Chic escorrendo sobre os semitons de cinza!

Este sonho terminou assim! Daí em diante, nunca mais sonhei em preto e branco!

A partir deste dia, meus afetos que, deveriam estar sendo paulatinamente destampados, terminaram sendo desbloqueados. Reconheço que foi um grande ganho em questões emocionais e tenho uma vaga lembrança que isto se deu próximo às minhas experiências da maternidade.

Como costumo ser premiada com sonhos tão significativos quanto belos, de uns tempos pra cá, passei a registrá-los em desenhos com os recursos do computador. Apenas sinto por não ter tido mais nenhum sonho com um colorido tão elegante!

A imagem deste sonho foi desenhada a lápis nesta época, mas não consegui encontrá-la hoje para publicar.
Dispondo de imagens da Internet procurei montar outra representação que, graças à gripe terrível que me assola, deixa a desejar em qualidade, permanecendo apenas como referência até que o original seja encontrado.


Angela Schnoor, em 19 de julho de 2006.