HORAS
Desde da primeira vez em que saíra quase no fim da tarde aquele estranho medo tinha se instalado em sua vida.
Saíra à rua despreocupado quando a viu pela primeira vez.
A sombra o perseguiu, às avessas, por onde ia. Não conseguia deixar de segui-la, parecia colado a ela, o que o levou a fazer um desvio perigoso, quase caindo sobre um ônibus que, por segundos, não o atropelou.
Nunca mais saiu àquela hora. Um medo súbito trazia palpitações e calafrios assim que pensava em sair de casa.
Pior foi o dia em que tentou sair no início da manhã. Sentia-se bem e pensou que aquela hora fresca o deixaria mais tranqüilo. Andava despreocupado quando lhe ocorreu olhar pra trás. Lá estava ela, bem em seu encalço. Danou-se a correr pelas ruas e a infeliz ali, copiando todos os seus movimentos. O suor corria pelo corpo abaixo e, mesmo quando ele se sentou agachado, enroscado em si mesmo, torcido pelo medo, ali estava ela, colada ao seu corpo, rente e ameaçadora.
Correu durante toda a manhã e por vezes se escondia à entrada de algum prédio onde ela parecia perdê-lo de vista, mas bastava sair dali para tentar chegar a casa e ela o alcançava, célere!
Em dado momento não mais a viu. Experimentou correr, ela não aparecia, testou movimentos vários e...Teria realmente desistido?
Parecia tê-lo abandonado.
Passando por uma padaria viu que o relógio marcava meio dia. Colocando-se em teste, continuou seu passeio rumo a casa por mais uma hora e... Nada!
Foi assim que escolheu sua hora de sair à rua. Pouco antes do meio dia e até uma hora depois, sentia que estava em segurança até o momento em que, parado sobre um bueiro descobriu que ela estava a seus pés!
Que vitória! Tinha vencido a perseguidora e descobrira seu esconderijo! De fato, naqueles dias em que não a tinha visto sentiu falta, apesar do medo, daquele sabor diferente que sua vida tinha adquirido.
E agora que sabia onde a encontrar, não a deixaria escapar novamente.
Teria poder sobre ela.
Retirou a tampa do bueiro e entrou. Lá embaixo, no escuro muito grande, encontrou várias sombras reunidas. Estavam felizes e lhe contaram coisas.
Nunca mais foi o mesmo, de dia vivia sob a cidade e à noite caminhava livre sob a luz da lua.
Angela Schnoor – RJ. 7 de junho de 2006.
11 Comments:
Correr da prória sombra e acabar feliz num buraco-bueiro. Que metáfora preciosa! beijinhos
7:26 AM
PRÓPRIA, errei de novo...
7:26 AM
Bem malta... Tá na hora de oferecer um par de lentes a esta arara... Melguinha temos de combinar, agarrar a bicha esvoaçante e levar à multiópticas...
7:38 AM
É só combinarmos C_mim, mas não pode ser uma coisa muito cara.
Têm que ser umas lentes próprias para não deixar erros nos blogs.
Ursa Mãe nem calcula as vezes que nem a minha sombra me apetece ver.
Muitos beijinhos.
4:55 PM
De certa forma é bem profundo e sensível o texto. É como dizia a um amigo hoje. Alguns textos e poesias que vão fundo n´alma quanto mais lemos mais entendemos e mais e mais fica claro o que o seu criador quis dizer quando o estava escrevendo. Lindo! É o que tenho a dizer.
Gostei de tudo aqui! Se quizeres ser linkada lá na roça, visite-me e me diga.
Forte abraço.
Kafé.
8:20 PM
Texto desnso e maravilhoso
http://dudve.blogspot.com/
http://dudu.oliva.blog.uol.com.br
12:04 AM
125_azul,
Que bom vc. ter gostado da metáfora! Não sei o que seria de mim sem elas! Mas, não carece ficar corrigindo o texto porque na pressa todos andamos comendo letras! isto me lembra umas massinhas para sopas que haviam em minha infância e que faziam as delícias de nossos jantares tornados brinquedo! Vocês tem ainda estas massinhas?
2:22 AM
Quem sabe Meiguinha, sua sombra não é dessas que riem e são o encanto de viver?
Talvez não apetecer olhá-la seja o tal medo de ser feliz!
2:24 AM
oi Kafé!
Se leu meu post sobre festas juninas deve saber como a roça me cai bem! Já estive em seu blog só de olheira e gostei muito de várias coisas. Voltarei em breve.
Obrigada pelo comentário tão amigo. grande abraço.
2:28 AM
Oi Eduardo, que bom ter aparecido! espero que esteja escrevendo bastante. Irei ao seus blogs assim que me recuperar desta infecção que me afastou de tudo estes dias.
Um abraço. Angela.
2:30 AM
Foi bom voltar aqui, e rever ideália.... Adorei essa letra de máquina de escrever... Beijo.
6:35 PM
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