Desde sempre lembro-me viajando em imagens. Primeiro elas fugiram de meu olhar interno e se faziam ver mergulhadas em papel e cores. Depois vieram as palavras e a inspiração dos sonhos, pois foi a realidade que, muitas vezes, trouxe os pesadelos. Em busca de organizar este mundo interior surgiu a Ilha.União de idéias e sonhos, asas que herdei. Apresento-a em pequenos trechos e peço que questionem, perguntem muito para que ela possa tornar-se mais rica e interessante, lugar melhor pra viver.

8.6.06

HORAS


Desde da primeira vez em que saíra quase no fim da tarde aquele estranho medo tinha se instalado em sua vida.
Saíra à rua despreocupado quando a viu pela primeira vez.
A sombra o perseguiu, às avessas, por onde ia. Não conseguia deixar de segui-la, parecia colado a ela, o que o levou a fazer um desvio perigoso, quase caindo sobre um ônibus que, por segundos, não o atropelou.

Nunca mais saiu àquela hora. Um medo súbito trazia palpitações e calafrios assim que pensava em sair de casa.

Pior foi o dia em que tentou sair no início da manhã. Sentia-se bem e pensou que aquela hora fresca o deixaria mais tranqüilo. Andava despreocupado quando lhe ocorreu olhar pra trás. Lá estava ela, bem em seu encalço. Danou-se a correr pelas ruas e a infeliz ali, copiando todos os seus movimentos. O suor corria pelo corpo abaixo e, mesmo quando ele se sentou agachado, enroscado em si mesmo, torcido pelo medo, ali estava ela, colada ao seu corpo, rente e ameaçadora.

Correu durante toda a manhã e por vezes se escondia à entrada de algum prédio onde ela parecia perdê-lo de vista, mas bastava sair dali para tentar chegar a casa e ela o alcançava, célere!

Em dado momento não mais a viu. Experimentou correr, ela não aparecia, testou movimentos vários e...Teria realmente desistido?
Parecia tê-lo abandonado.

Passando por uma padaria viu que o relógio marcava meio dia. Colocando-se em teste, continuou seu passeio rumo a casa por mais uma hora e... Nada!

Foi assim que escolheu sua hora de sair à rua. Pouco antes do meio dia e até uma hora depois, sentia que estava em segurança até o momento em que, parado sobre um bueiro descobriu que ela estava a seus pés!

Que vitória! Tinha vencido a perseguidora e descobrira seu esconderijo! De fato, naqueles dias em que não a tinha visto sentiu falta, apesar do medo, daquele sabor diferente que sua vida tinha adquirido.

E agora que sabia onde a encontrar, não a deixaria escapar novamente.

Teria poder sobre ela.

Retirou a tampa do bueiro e entrou. Lá embaixo, no escuro muito grande, encontrou várias sombras reunidas. Estavam felizes e lhe contaram coisas.

Nunca mais foi o mesmo, de dia vivia sob a cidade e à noite caminhava livre sob a luz da lua.


Angela Schnoor – RJ. 7 de junho de 2006.

11 Comments:

Blogger 125_azul said...

Correr da prória sombra e acabar feliz num buraco-bueiro. Que metáfora preciosa! beijinhos

7:26 AM

 
Blogger 125_azul said...

PRÓPRIA, errei de novo...

7:26 AM

 
Blogger C_mim said...

Bem malta... Tá na hora de oferecer um par de lentes a esta arara... Melguinha temos de combinar, agarrar a bicha esvoaçante e levar à multiópticas...

7:38 AM

 
Anonymous Anônimo said...

É só combinarmos C_mim, mas não pode ser uma coisa muito cara.
Têm que ser umas lentes próprias para não deixar erros nos blogs.

Ursa Mãe nem calcula as vezes que nem a minha sombra me apetece ver.

Muitos beijinhos.

4:55 PM

 
Blogger Kafé Roceiro said...

De certa forma é bem profundo e sensível o texto. É como dizia a um amigo hoje. Alguns textos e poesias que vão fundo n´alma quanto mais lemos mais entendemos e mais e mais fica claro o que o seu criador quis dizer quando o estava escrevendo. Lindo! É o que tenho a dizer.
Gostei de tudo aqui! Se quizeres ser linkada lá na roça, visite-me e me diga.
Forte abraço.
Kafé.

8:20 PM

 
Anonymous Anônimo said...

Texto desnso e maravilhoso
http://dudve.blogspot.com/
http://dudu.oliva.blog.uol.com.br

12:04 AM

 
Blogger Angela said...

125_azul,
Que bom vc. ter gostado da metáfora! Não sei o que seria de mim sem elas! Mas, não carece ficar corrigindo o texto porque na pressa todos andamos comendo letras! isto me lembra umas massinhas para sopas que haviam em minha infância e que faziam as delícias de nossos jantares tornados brinquedo! Vocês tem ainda estas massinhas?

2:22 AM

 
Blogger Angela said...

Quem sabe Meiguinha, sua sombra não é dessas que riem e são o encanto de viver?
Talvez não apetecer olhá-la seja o tal medo de ser feliz!

2:24 AM

 
Blogger Angela said...

oi Kafé!
Se leu meu post sobre festas juninas deve saber como a roça me cai bem! Já estive em seu blog só de olheira e gostei muito de várias coisas. Voltarei em breve.
Obrigada pelo comentário tão amigo. grande abraço.

2:28 AM

 
Blogger Angela said...

Oi Eduardo, que bom ter aparecido! espero que esteja escrevendo bastante. Irei ao seus blogs assim que me recuperar desta infecção que me afastou de tudo estes dias.
Um abraço. Angela.

2:30 AM

 
Blogger Fábia said...

Foi bom voltar aqui, e rever ideália.... Adorei essa letra de máquina de escrever... Beijo.

6:35 PM

 

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