Anima - pequenas histórias femininas 8
Na maioria das mulheres as cicatrizes se encontram na alma
Foto- bodyGünterMeindl
Conto 8
ESPERANÇA ?
Trabalhavam muito. Foram apresentadas quando ambas iniciavam atividades novas no ramo da moda, mas só se encontraram, verdadeiramente, tempos depois.
Maura tinha acabado um casamento difícil, do qual tinha uma linda filha adolescente. Sua maternidade era muito importante, embora estivesse um pouco ausente, já que, com a separação, assumira as funções do pai de Lia.
Duda era um pouco mais experiente em negócios. Solteira e independente por natureza, desde muito cedo pegara as rédeas de sua vida e já tinha se dedicado a várias atividades. No momento, sua modelagem e confecção de roupas de banho, lançava no mercado novidades sensacionalmente aprovadas pela crítica especializada.
Fazendo parte de um grande grupo de estilistas, a afinidade entre elas foi rápida e fácil e logo faziam desfiles em conjunto e se auxiliavam, trocando contatos e experiências práticas na administração dos negócios.
O ponto forte de uma era a conta certa para suprir a insegurança da outra.
Tornaram-se companheiras para tudo: festas, reuniões, amigos em comum.
As famílias se aproximaram, apoiando e torcendo para o sucesso de ambas.
A participação na educação da menina aumentava o elo entre elas pois Lia solicitava a presença de Duda para tudo aquilo que necessitava quando a mãe estava envolvida demais no trabalho.
Não demorou muito para que as invejosas línguas começassem a sua trama maligna no meio que freqüentavam
Paqueras inconvenientes, homens rejeitados por falta de tempo, cansaço ou incompatibilidades, viravam comentário como o sinal definitivo para o diagnóstico : elas tinham um caso!
Resolveram se afastar para evitar que algum mal fosse feito às suas carreiras e, principalmente à jovem, cujo pai já insinuava ameaças, tais como entrar na justiça, pedir a guarda da filha, etc.
Foi um período difícil, muito cinza, negro até...
O trabalho era muito e não rendia. Decisões tomadas sem o mútuo consenso, resultavam em complicações e fracasso. Os problemas se acumulavam, os “amigos interessados” ofereciam ajuda ofertando - se como sócios, conselheiros ou amantes circunstanciais.
Telefonavam-se às vezes, tarde da noite, só para ouvir um apoio sincero, um “agüenta que vai passar”. Eventualmente se encontravam em situações profissionais ou sociais, mas a reclusão tomou conta de suas vidas. Em meio a tudo isto, as solicitações da filha que pedia:- “mãe, quando vou ver tia Duda? Quando ela vai jantar de novo com a gente? Estou com tanta saudade! “
Um dia Maura liga: Lia está de férias, pensei em levá-la para um cruzeiro marítimo. Quer ir com a gente? Acho que também precisamos de um descanso, concorda? “
Ela não só concordava como desejava estar longe de tudo e todos, e precisava se reabastecer para pensar na nova coleção que teria que criar para o próximo verão.
“Fechado. Prepare as bagagens e vamos nós para longe... ao mar! “
A viagem estava maravilhosa, o tempo de luz e calor permitia passeios no convés e banhos de piscina. Conversavam longamente como antes, sem temores, estiradas nas espreguiçadeiras, olhando o horizonte.
Lia, em plena adolescência, alternava brincadeiras e correrias com os primeiros e tímidos olhares para um garoto que estava acompanhado dos pais.
Acabaram ficando amigas do casal. Eram jovens, simples e divertidos, tão diferentes de seus “amigos” emproados!
Conversavam, jogavam e faziam as refeições na mesma mesa. Parecia que a paz tinha voltado e quase já tinham esquecido os dias de pesadelo e a saudade que viveram na ausência prolongada.
Foi na hora do baile que a tristeza voltou.
A orquestra tocava musica romântica. Os casais dançavam, enlaçados. Seus novos amigos foram para a pista e Lia, pela primeira vez, convidada a dançar pelo jovem amigo deixou-as sozinhas à mesa.
De repente tudo ficou claro! Seus olhos se encontraram expressando o mesmo desejo e o amor, até então inconsciente, brotou como cachoeira. Sob a toalha da mesa, suas mãos se encontraram tímidas e apaixonadas. Como gostariam de dançar, como faziam os casais na pista, embaladas por este antigo-novo amor.
Um dia isto se tornará possível, pensavam... mas...será que ainda no seu tempo?... Haveria esperança para elas?
©Copyright ANGELA SCHNOOR
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3 Comments:
Claro que haverá esperança para elas.
Felizmente as mentalidades, embora lentamente, estão a mudar.
10:46 AM
É... estão mas isto só acontece devagar e nas grandes cidades...
11:36 PM
Infelizmente tem razão, Ursa querida.
10:24 AM
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