Desde sempre lembro-me viajando em imagens. Primeiro elas fugiram de meu olhar interno e se faziam ver mergulhadas em papel e cores. Depois vieram as palavras e a inspiração dos sonhos, pois foi a realidade que, muitas vezes, trouxe os pesadelos. Em busca de organizar este mundo interior surgiu a Ilha.União de idéias e sonhos, asas que herdei. Apresento-a em pequenos trechos e peço que questionem, perguntem muito para que ela possa tornar-se mais rica e interessante, lugar melhor pra viver.

17.3.06

Anima - pequenas histórias femininas 5

Na maioria das mulheres as cicatrizes se encontram na alma
Olhos da noite - A.Schnoor

conto 5
SEGREDO

Desde muito pequena jurava para si mesma que seria independente e iria morar longe da família.
Calada, de poucas promessas e muita ação, começou a trabalhar assim que a idade permitiu. Parou de estudar ao terminar o segundo grau, pois sendo a melhor vendedora da firma, não tinha hora pra sair do trabalho.

Foi numa loja da moda que conheceu o namorado. Ele era o gerente e, há muito tempo, observava seu jeito ambicioso e decidido de ser. Parecia ter raiva da vida e estava sempre brigando para conseguir suas metas. Seu sonho de criança a impulsionava!

Começaram a namorar, mas ela não se entregava em nenhum sentido. Fazia o que, como e quando queria e, embora muito carinhosa, parecia sempre desconfiada e acuada.

No trabalho ela se superava e, dentro de pouco tempo, dividia com ele a gerência da loja.

Saiam pouco. A família dele, tradicional e cheia de preconceitos, veladamente a rejeitou. Era suburbana, de outro nível social, e achavam que tinha aparência vulgar.
Embora bastante influenciado pela família, neste caso ele se rebelava continuando o tão criticado namoro, pois tinha invulgar atração física pela moça.

Ela percebeu que, sem estudo, não iria muito além de seu cargo e salário, e o empenho em alcançar a independência levou-a ao curso superior.
Em pouco tempo conseguiu seu próprio carro, o que facilitava suas idas e vindas entre as lojas (já era supervisora) e o caminho para as aulas numa Universidade na Barra da Tijuca.

Os estudos foram mais um pretexto para não dormir em casa. Tinha uma tia que morava próximo a faculdade e sempre que podia dormia em casa dela. De lá, podia ir direto às aulas.

O namorado foi ficando profissionalmente para traz e começou a mostrar-se inseguro e desconfiado. Ela fazia tudo para não parar em casa. Pouco falava nos pais e não se dava bem com o único irmão.

Quando não estava com o namorado, era cada vez mais freqüente o dormir na casa da tia. As reuniões e viagens de trabalho alem dos estudos tomavam muito de seu tempo e parecia, claramente, fazer de tudo para não estar em casa.

Com o passar do tempo, iam tendo mais intimidade na cama e ela começou a se mostrar muito quente e experiente, embora tensa, nervosa e misteriosa.
O ciúme passou a consumi-lo principalmente quando dormiam juntos e o telefone celular tocava às altas horas. Meio sem jeito ela desconversava e dizia ser a mãe, preocupada com seus horários.

Afirmava sempre que o amava, mas sua obsessão pelo trabalho e pela independência era tão grande que ele sempre desconfiava que poderia haver um outro em algum lugar, que roubava seu tempo e sua atenção.

Numa de suas noites juntos, o celular toca e ela diz que tem que ir para casa.

Enciumado, ele resolve seguí-la de longe, com toda a precaução para não ser visto. Nada de novo. Ela estaciona em seu prédio e entra, enquanto ele corre de volta a casa para aguardar o telefonema de boa-noite que tinham combinado.

Chega ao seu prédio rápido e, quase escala as escadas enquanto ouve o telefone tocando... Atende em tempo de ouvir o pai dela, ao fundo, quase gritando: larga logo este telefone e vem depressa, papai hoje está cheio de tesão!

©Copyright ANGELA SCHNOOR

5 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Que nojo!

Haverá razões para uma mulher se sujeitar a tal violência?

Sinceramente não entendo.

Também sabe desenhar tão bem Ursa Mãe(post de baixo)!

Hoje preciso muito das suas belas palavras.

Beijinho.

8:13 AM

 
Blogger 125_azul said...

Você!, eu achando que era o irmão...
Sim, sindrome de Estocolmo mata a alma, aprisiona, acorrenta.
Surpreendentemente simples, lógico, objectivo.
Beijo. obrigado por mais hoje.

6:16 PM

 
Anonymous Anônimo said...

Querida melga, não sei porque este Hoje e a necessidade de minhas palavras mas vou tentar...

Posso te dizer, por exemplo, que estes dias estive muito triste por algumas razões claras e outras arcaicas. Hoje descobri que aprendi muito com o que pude "ver em mim" por causa disso.

Você também sentiu tristeza e solidão não foi?

Talvez esta tristeza, em seus conteúdos arcaicos possa estar, como uma rede, envolvendo muitas pessoas que, de um modo ou de outro estejam vinculadas através de uma mesma base em comum.
Existe um desenho do psiquismo sob o ponto de vista Junguiano que mostra bem isto que digo (vou publicar para que vc. entenda bem).

A sabedoria da astrologia me mostra esta possibilidade e, em seu caso, há um momento bastante propício a expurgar suas feridas.

Todos temos pontos dolorosos e por vezes sabemos tudo o que pode melhorar; ajudamos a outros e nunca resolvemos a nossa dor. Se vc. ler o mito do Centauro Kíron (ou Quirão) vai saber melhor do que falo.

Perceba que, tudo passa e só fica o que de melhor aprendemos nestas fases. Elaborar nossas tristezas e solidão e não alimentá-las além da conta é a solução.

Em Ideália fazemos assim com o monstro Anterus, lembra-se?

Não fique tão impressionada com as personagens de meus contos. Acho que, em todo script na vida, o ator sempre está adequado ao personagem que interpreta.

É claro que a moça está fazendo os movimentos para mudar seu papel mas ainda teme ficar sem "sua peça" na vida. Quando estiver pronta sairá!

E seu pai não é um nojo mas uma pessoa que vive uma sexualidade desprendida do amor paterno. Talvez ele ainda seja muito primitivo em seus instintos. Os animais são assim, não é? e não os julgamos tão severamente e há pessoas que são como animais em algumas situações de vida assim como há animais melhores que muitas pessoas não?

Mas, penso que tudo na vida acontece para que possamos evoluir e aprimorarmos nosso ser.

Chegará um dia, (como coloquei em Ideália), em que não mais julgaremos outros pois poderemos estar "dentro deles" nem que seja por alguns instantes.

Um beijo carinhoso, Angela.

12:44 AM

 
Anonymous Anônimo said...

Quanto aos desenhos, quase todos que posto são feitos por mim.Fico contente que goste.
Percebeu que em 22-02 no post Viajante - há um antigo retrato de meu olhar com interferências em desenho?

Para 125_azul. Você acaba fazendo com que eu me atualize nas síndromes e seus nomes complicados!
Nada sei dos códigos atuais. Sou antiga e meus vidros têm seus rótulos desbotados...
Um beijo e obrigada!

12:56 AM

 
Anonymous Anônimo said...

Querida Ursa obrigada mesmo pelas suas palavras.

Realmente é verdade que normalmente queremos minorar as dores dos outros mas, com a nossa parece que é sempre mais difícil de lidar.

Sempre me norteei pelo princípio de não julgar os outros e perceber o que os leva a tomar certas atitudes.
Mas, neste caso, não consigo por-me no lugar daquele animal.

E tem razão.
Hà animais que se portam melhor do que muitas pessoas.

Fui ver de novo o post que refere(22/02).
Bem, Ursa querida, você tem uns olhos lindos que nem lhe conto.

Vou também tentar perceber o esquema que postou para mim.

E quanto ao precisar das suas palavras ontem, não foi por nenhum motivo especial. Tem dias em que, sem nenhuma razão aparente, me sinto super angustiada.

Beijinho grande.

10:08 AM

 

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