Anima - pequenas histórias femininas
Na maioria das mulheres as cicatrizes se encontram na alma.
CONTO 3
VOCAÇÃO
CONTO 3
VOCAÇÃO
Aos treze anos se interessou vivamente por um amigo do irmão mais velho.
Os irmãos, que a vigiavam todo o tempo, impediam qualquer aproximação com rapazes, o que aguçava ainda mais sua curiosidade adolescente. Quanto mais crescia, mais repressão e mais medo.
A família interiorana, simples e religiosa ficou radiosa quando ela lhes contou sua decisão: “Quero entrar para o convento”. Ela havia “ouvido” um chamado: Jesus a queria como esposa.
Neste dia, pensou muito e achou que sua decisão lhe traria a segurança eterna de amor e fidelidade. Nada daquelas lágrimas furtivas que surpreendia na mãe quando o pai chegava tarde do trabalho ou das queixas das primas mais velhas abandonadas pelos namorados por causa de uma "desfrutável" vizinha.
O dia em que prestou seus votos foi uma festa! Castidade, Pobreza e Obediência. A mãe orgulhosa ao ver a filha encaminhada para sempre, os irmãos aliviados do encargo de protetores e todos tranqüilos com sua virgindade assegurada.
A vida transcorreu calma, cheia de trabalhos caridosos, orações e festas religiosas (e como ela gostava de festas!). O único senão era aquela pequena ponta de inveja quando as amigas de juventude apareciam com seus maridos e filhos. Gostava tanto de crianças!
Acabou conseguindo uma licença para lecionar na pequena escola da paróquia onde um novo sacerdote fazia verdadeiras revoluções sociais no pensamento da comunidade.
Com que prazer ela ouvia seus sermões aos domingos!
Além de jovem e bonito, falava de Jesus com tanta intimidade e sabedoria que às vezes, se parecia com Ele.
Começou a ter sonhos esquisitos...Não dormia bem às noites, acordava suada e excitada como nunca havia acontecido.
Numa dessas noites explorou seu corpo, descobrindo, em meio à culpa, um prazer diferente do enlevo encontrado nas missas e orações. Passou a dormir melhor quando se tocava e sentia aquela coisa morna e repousante, mas a sensação de pecado lhe perseguia os dias. Só brincando com as crianças encontrava paz.
Naquela tarde tomou coragem, precisava de conselhos, devia se confessar!
Terminada a aula entrou na sala paroquial e pediu, timidamente, que o padre a ouvisse. Já havia algum tempo que pensava em elegê-lo seu novo confessor.
Bastante solícito ele a convidou para entrar em seu pequeno escritório, - “teremos mais privacidade. Aqui não seremos interrompidos”.
Ruborizada, ela foi falando aos trancos sobre suas recentes aflições. Ele a acalmava, acariciando-a gentilmente com suas longas mãos, enquanto a convencia da naturalidade de seus sentimentos: “Tudo foi criado por Deus, Ele é amor e Ele te ama. Por que não se entregar a este amor?”.
Naquele momento ela o viu, mais que nunca, semelhante a Jesus e entendeu o chamado de sua adolescência!
Uma hora depois deixava a pequena sala com o semblante radioso!
E agora, todas as tardes, ela vai buscar o ansiado “Estado de Graça” através daquelas longas mãos que a absolvem!
©Copyright ANGELA SCHNOOR
5 Comments:
Todas as tardes?
Está mesmo a querer recuperar o tempo perdido e faz muito bem.
Se realmente existiu alguém chamado Jesus, vejam só tudo o que fazem em nome dele.
Beijinho.
6:38 PM
Fazer amor, em nome de Jesus ou em nome de quem for...
Recuperar das agruras do tempo...
Beijos.
E paz para a freirinha feliz!
6:51 AM
Essas histórias são fictícias nos fatos concretos mas esta minha tão querida freirinha já está em paz, provávelmente com seu Jesus, fazem alguns anos.
Dizem que o vir a ser é o que cremos e imaginamos.Então ela deve estar feliz em seu paraíso!
5:46 PM
Já tinha sentido hoje a sua falta Ursa querida!
Vai postar nova história bonita?
Beijinhos.
6:38 PM
Aí está minha querida Melga.
Meio tarde pois tive um dia complicado com a impressora! cada dia é uma coisa que quebra! fases... bj.
1:21 AM
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