O primeiro aniversário!
Vivemos uma época de marcante transição. Como sempre, na história do Homem, uma sociedade erige seus valores para, chegando a seu ápice, vê-los desmoronarem-se gradativamente ao dar lugar a uma nova ordem que surge.
A era que hoje vivemos nos traçou um caminho baseado em valores individuais e na busca da segurança material. Como um recém-nascido concentrado em sua sobrevivência, a humanidade buscou alimento e fez do ter a base para sua afirmação pessoal.
A era que se inicia, nos trará a experiência de aprender a ser e a respeitar os outros seres, fundindo e entrelaçando os antigos valores matriarcais aos do 'recente' patriarcado. Enquanto isso, no entanto, estamos perdidos entre dois atos; como um pião que é chutado para lá e para cá e nem sabe mais se roda ou rodopia. O trabalho que ora apresento, foi criado para este momento em que necessitamos, mais que nunca, de algum auxílio para voltar ao eixo.
Posteriormente, encontrei o seguinte pensamento em 'O feminino nos contos de fadas', (capítulo I, pág. 40 de Marie-Louise Von Franz (2): “... Se, em certos materiais, a totalidade aparece sob a forma de símbolos impessoais como uma árvore, por exemplo, ou semi-humanos como o Herói, a correspondência se dá em relação a que diferença psicológica? Constatei empiricamente que o primeiro aspecto, o de uma representação material do Self, que simboliza de maneira impessoal a totalidade da Psique, tende a aparecer em momentos de dissociação e de desnorteamento. Assim, as figuras geométricas regulares compensam freqüentemente o fato de que o sujeito se sente descentrado, perdido em meio a uma situação caótica; nesse caso, um símbolo material abstrato objetiva a experiência interior e leva o sujeito a um desprendimento e uma ordem que ele necessita imperiosamente”.
Comecei, então, a criação de duas séries de imagens para serem observadas em relaxamento ou meditação ou, para serem apenas introjetadas pela visualização sistemática. Chamei a primeira série de "Janelas para o Centro" e utilizei apenas a forma circular. Na segunda série, a forma quadrangular foi acrescentada ao círculo e denominei-a "Janelas para centrar-se".
OS ELEMENTOS COMPONENTES DAS SÉRIES
O CÍRCULO aparece em várias culturas como símbolo fundamental de unidade, proteção e perfeição. Chamado de: "Mandala", "Roda zodiacal", "Tao", "Céu", "Deus", "Universo", é o símbolo do mundo espiritual, invisível e transcendente. É a forma habitual dos santuários dos povos nômades. Para Jung, é uma imagem arquetípica da totalidade da psique e símbolo do Self: "A contemplação de uma Mandala supostamente inspira a serenidade, o sentimento de que a vida reencontrou seu sentido e sua ordem... As formas redondas da Mandala simbolizam, em geral, a integridade natural, enquanto a forma quadrangular representa a tomada de consciência dessa integridade... A Mandala possui uma eficácia dupla: conservar a ordem psíquica, se ela já existe; restabelecê-la, se desapareceu” (3). (pág.586)
O QUADRADO implica a idéia de estabilização, solidificação, símbolo da terra em oposição ao céu, aparecendo como: cruz, pontos cardeais, estações do ano, fases da lua. É a forma dos templos para os povos sedentários, representando a matéria terrestre, o corpo e a realidade.
O CÍRCULO é um símbolo da psique (o próprio Platão descreveu a psique como uma esfera); o quadrado (e muitas vezes o retângulo) é um símbolo da matéria terrestre, do corpo e da realidade. Na maior parte das obras de arte moderna a conexão entre estas duas formas primárias ou não existe ou é absolutamente livre e acidental. Esta separação é outra expressão simbólica do estado psíquico do homem do século XX: sua alma perdeu as raízes e ele está ameaçado de uma dissociação”. (4-pág.219)
"A figura circular, adjunta à figura quadrada é espontaneamente interpretada pelo psiquismo humano como a imagem dinâmica de uma dialética entre o celeste e transcendente, ao qual o homem aspira naturalmente, e o terrestre, onde ele se situa no momento...” (3 - pág 251)
"O si-mesmo aparece empiricamente em sonhos, mitos e contos de fadas, na figura de ”personalidades superiores" como reis, heróis, profetas, salvadores etc. ou na figura de símbolos da totalidade como o círculo, o quadrilátero, a quadratura circuli (quadratura do círculo), a cruz etc. (5-pág. 443)
O termo JANELA surge da idéia de uma visão mais ampla do universo pessoal. Enquanto buscava o significado simbólico do termo, pude confirmar seu sentido: "abertura para o ar e para a luz, a janela simboliza receptividade. Se a janela é redonda, a receptividade é da mesma natureza que a do olho e da consciência (clarabóia). Se for quadrada, a receptividade é terrestre, relativamente ao que é enviado do céu”. (3-pág.512).
Nas duas séries, a temática é um JARDIM, em que a ÁRVORE aparece sempre como figura obrigatória e o VAZIO ocupa o centro do quadro.
O JARDIM é símbolo do paraíso, da ordem e da consciência. Como escreveu o poeta chinês Hi K'ang: "Que prazer passear no jardim! Faço, nele, a volta do infinito...”
A ÁRVORE é símbolo da vida. Estabelece a relação entre o mundo ctoniano e uraniano (entre a terra e o céu) e portanto, restaura o sentido de centro, comunicando os três níveis do cosmo: o subterrâneo - através de suas raízes,
O VAZIO é o caminho que vai em direção ao interior, à totalidade e permite a conexão com o Self. Encontrar o vazio, onde tudo está presente, é o objetivo da meditação. Na arte oriental encontramos freqüentemente um espaço vazio predominante, onde o olhar e a mente descansam.
Cada série é composta de doze Janelas coloridas segundo a gradação do espectro solar. A escolha do número doze se deve ao fato de ser o número das divisões espaço-temporais. Presente na divisão do ano, nos signos do zodíaco, na multiplicação dos quatro elementos pelas suas três fases (atividade, inércia e harmonia) ou pelos três princípios alquímicos (enxofre, sal e mercúrio), é também a combinação do quatro e do três: a matéria criada e o Espírito Criador.
COMO USAR AS JANELAS
todos os desenhos originais foram criados e executados, à lapis-aguarela, por Angela Schnoor
Janelas para o Centro
Observe tranqüilamente as doze figuras da série e escolha aquela que, no momento, lhe traga maior sentimento de bem-estar ou com a qual sinta mais afinidade. Uma vez escolhida, coloque-a em lugar calmo e silencioso, apropriado para meditar e olhe para a figura, até que você se torne parte dela.
Janelas para Centrar-se
A característica principal desta série é a presença do quadrado dentro do círculo, enfatizado pelo "foco" que os elementos da imagem passam a ter quando dentro dele. Esta série foi criada para os momentos de confusão ou dúvida e trazem para quem a observa, uma orientação mais objetiva, funcionando como uma bússola cujo norte é a tomada de consciência da integridade psíquica.
Como na série anterior, escolha a figura com a qual encontre maior afinidade e coloque-a em local onde a visualização seja obrigatória durante a maior parte de seu dia. Procure cercar-se da figura escolhida, colocando reproduções da mesma em objetos de uso diário como agenda, mesa de trabalho, livros, computador etc. Ou seja, permita que a imagem invada seu campo visual mesmo que você não esteja consciente dela. Caso deseje, faça também uma meditação diária.
Trocar de Série e de Imagem
Criar sua própria Janela
Através de qualquer recurso a seu alcance, você poderá criar, para si mesmo, aquela Janela que mais o atrairá . Mantendo os princípios do círculo e do quadrado, deixe que sua intuição preencha o espaço vazio com imagens e cores. Utilize fotografia, desenho, colagem, pintura etc. Certamente as imagens escolhidas terão a força simbólica que servirá para acessar o centro harmonizador de seu psiquismo.
©Copyright 1995 - ANGELA DE PÁDUA SCHNOOR.
Referências Bibliográficas:
1- Silveira, Nise, Jung: vida e obra, Rio de Janeiro, Editora Paz e Terra, 1981.
2- Franz, Marie-Louise von, O feminino nos contos de fadas.- coleção psicologia analítica, Petrópolis, Editora Vozes Ltda,1995
3- Chevalier, Jean e Gheerbrant, Alain, Dicionário de Símbolos, Rio de Janeiro, José Olympio Editora, 1989. pág. 586.
4- Jung, C. G., O Homem e seus Símbolos, Rio de Janeiro, Editora Nova Fronteira, 1964, pág. 249.
5- Jung, C.G., Tipos Psicológicos, Petrópolis, Editora Vozes Ltda, 1991.
6- Eliade, Mircea, Imagens e Símbolos, Ensaio sobre o simbolismo mágico-religioso, São Paulo, Livraria Martins Fontes Editora Ltda, 1991.
7- -Jacobi, Jolande, Complexo, Arquétipo, Símbolo na psicologia de C.G. Jung, São Paulo, Editora Cultrix Ltda, 1957.
8- Jung, C.G., Símbolos de Transformação, Petrópolis, Editora Vozes Ltda, 1986.
4 Comments:
primeiras!! primeiras!!!
parabéns e vou ler com atenção o post...
6:25 PM
Obrigada minha querida!
Só poderia ser você, a minha fadinha, nossa fadinha, a parteira e médica de Ideália, a estar aqui neste dia!
Um grande beijo. Padeci para fazer esta publicação! Mas, saiu e espero que seja bem aproveitada.
obrigada!!!
6:34 PM
Ursam, desculpe não poder ler tudo. Estou no espaço público, que o rapaz já voltou a Coimbra.
É para dizer que na foto realmente sou eu e Julinha num momento de especial felicidade e beleza para nós duas.
E por favor diga a todos que ela se parece muuuuito comigo...hehehe
beijinhos e bom carnaval com descanso e paz.
Ah, não pude ler o texto mas os símbolos têm um colorido rico.
1:41 PM
Lerei mais profundamene. Muito interessante, aprender coisas novas.
12:54 PM
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