Desde sempre lembro-me viajando em imagens. Primeiro elas fugiram de meu olhar interno e se faziam ver mergulhadas em papel e cores. Depois vieram as palavras e a inspiração dos sonhos, pois foi a realidade que, muitas vezes, trouxe os pesadelos. Em busca de organizar este mundo interior surgiu a Ilha.União de idéias e sonhos, asas que herdei. Apresento-a em pequenos trechos e peço que questionem, perguntem muito para que ela possa tornar-se mais rica e interessante, lugar melhor pra viver.

23.2.06

Um presente de Avó.

Hoje, em Ideália, um belo menino chamado Luca Moana faz aniversário.
Na ilha das asas as necessidades são simples e estão satisfeitas e então, os presentes e festividades por uma data feliz vêm sob a forma de histórias e ensinamentos amorosos para que a vida de cada pessoa seja cada vez melhor.
Luca é um ser de Luz e seu nome Moana veio de uma outra ilha. É o nome que se dá aos imensos espaços azuis, o céu e o mar.
Neste dia, a vovó chama Luca para contar uma antiga história, escrita muito, muito tempo antes de seu nascimento.
- Querido nenem, hoje te dou como presente a história de um ser muito diferente dos demais. Escolhi esta e eu vou te contar para que você cresça aceitando a todos, sem julgar ninguém pelas aparências. Ouça com atenção...

esta é a história de Verster - um bicho que viveu nesta Ilha há muitos anos...

Ele foi feito de poeira interestelar e era verde, como reflexo de seu amor pela natureza.
Sua forma estranha era a primeira e mais direta responsável por seus desajustes em viver neste mundo.
Seu corpo lembrava o de um felino e as patas gostavam de se projetar para frente como as de um leão e, muitas vezes, meio amedrontado, assumia posição de esfinge para intrigar e espantar àqueles que o assustavam. O rabo era de macaco, bem comprido, e, na cara, uma grande tromba de elefante se enroscava, distraidamente, no alto e torneado chifre que emergia do centro de sua cabeça. Mas, o mais espantoso de se ver eram os olhos: enormes como os de um sapo, e que tudo percebiam! Seus olhos não só viam como ouviam, sentiam, cheiravam e até falavam! Como acontece quando as pessoas perguntam: "Você viu?", quando falam de coisas que são para sentir, ouvir e...

Com esta figura estranha, ele só se sentia bem com as crianças e os velhos.
As crianças não tinham ainda visto tantos bichos para que os rotulassem com nomes e formas rígidas e os velhos, já tinham visto tantos bichos, que até já tinham esquecido todos os padrões e sabiam que sempre poderia haver uma combinação diferente.


Os pequenos tinham uma fantasia tão solta que podiam imaginar e sentir o maior segredo do bicho verde e os velhos já tinham vivido tanto, e se lembravam de coisas tão antigas, que os fazia saber que nada é impossível!

Esses entendiam e sabiam do segredo: O coração do bicho verde era o que ele tinha de mais diferente - Era um coração de DRAGÃO, tão grande, que cabia qualquer coisa e tão ultrapassado e mítico que quase ninguém mais sabia compreendê-lo.

E assim, o bicho verde, com sua forma estranha e seu coração fora de moda, andava rápido como um felino, gostava de viver e de brincar e gostava mais que tudo, de gostar: gostava de gente, de planta, de bicho, de cor, de sol, de lua, de riso, de música... De tudo! Tinha um gostador aberto, e ai é que ele procurava sempre mais prá gostar, pois, prá encher um coração de Dragão, é preciso muita coisa!.



Mas,(neste mundo tem sempre um mas) ele era desajeitado, esquisito, e parecia sempre muito complicado para as pessoas que queriam olho de sapo em sapo, tromba de elefante em elefante, rabo de macaco em macaco, pata de leão em leão e não acreditavam em Unicórnio e, muito menos, em coração de Dragão ou em bicho verde de poeira interestelar!
E o bicho sofria! Sofria uma tristeza tão grande que só um coração de Dragão, uma criança ou um velho podem compreender. Era a tristeza de um coração cheio, com um espaço vazio, que parece mais vazio num coraçãozão tão cheio!
Ai, o bicho foi ficando cansado e desanimado Tão desanimado que não dava nem prá morrer! Então, ele largou todo o seu ser bicho verde e foi ficando molinho, esparramado, desistindo de ser bicho de poeira interestelar e se espraiando em verde até virar um grande lago, tão verde como Dragão e tão brilhante como estrela.


Todos vieram ver o lago.
As crianças e os velhos bebiam das águas e tomavam banho, enquanto as outras pessoas, ao olhar a água verde, se espantavam e se confundiam ao se verem, refletidas naquele límpido lago, com tromba de elefante, olho de sapo, chifre na testa e outras coisas ainda mais bizarras!

Adivinhem? Luca correu com seus passinhos vacilantes e foi olhar-se no lago!

Vovó sorria sabendo que ele iria ver-se sob muitas formas inimagináveis! Afinal Luca Moana é um pacífico!

nome, texto e desenhos de Angela Schnoor- ©Copyright ANHA SCHNOOR Dezembro de 1982

3 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Sabe Ursa Avó, muitas, muitas vezes acho que também tenho coração de dragão. Hoje é um desses dias.

Se me permite, um beijinho de parabéns para o Luca(que é lindo, eu já vi fotos) para a sua mamã e, porque não, também para a vovó que o fará feliz com suas lindas histórias.

8:26 AM

 
Blogger 125_azul said...

parabéns, vovó ursa, muitos beijinhos para o nosso Moana querido. Moana, em Moçambique quer dizer menino. Bj

2:35 PM

 
Anonymous Anônimo said...

Muito grata minhas amigas queridas.
Hoje é um dia de bençãos. Que elas se debrucem sobre vocês.
Acho que o Verster mora em algum cantinho de cada um de nós mesmo naqueles que acham que ele está só nos outros! Quanto ao seu coração...Melga, se é de dragão acho que sempre haverá um vazio e ele fica menos vazio quando esquecemos de nós e viramos lago...
carinhos para as duas meninas e 125-azul, obrigada por esta outra versão. Acho que Luca será sempre um menino... é tão sapeca!

3:56 PM

 

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