Desde sempre lembro-me viajando em imagens. Primeiro elas fugiram de meu olhar interno e se faziam ver mergulhadas em papel e cores. Depois vieram as palavras e a inspiração dos sonhos, pois foi a realidade que, muitas vezes, trouxe os pesadelos. Em busca de organizar este mundo interior surgiu a Ilha.União de idéias e sonhos, asas que herdei. Apresento-a em pequenos trechos e peço que questionem, perguntem muito para que ela possa tornar-se mais rica e interessante, lugar melhor pra viver.

20.2.06

Achados num baú da Ilha.

Sempre que tento arrumar velhos guardados acabo passando dias entre recordações. É um momento de apagar e ficar só comigo entre cartas, pensamentos, poemas e antigas fotos e desenhos.
Hoje é dia de encontrar-me com Mnémosine.

MICRONTA?
O LIVRO DOS MINI-CONTOS

1.Tristeza.

O telefone desligou com um definitivo adeus. Calçou salto bem alto, pôs batom vermelho, soltou os cabelos e saiu pela rua como quem nada quer, rebolante e nua, exibindo os pentelhos cuidadosamente pintados de lilás enquanto o radinho de pilha anunciava ao quarteirão: I’ll survive!

2.Mistério.

No seu caso, já era o vigésimo perdido. Não conhecia ninguém que, um dia, houvesse achado algum. Comprou um novo e amarrou-se, firmemente, ao seu cabo. Na primeira tempestade de vento amanheceu no país dos guarda-chuvas, onde sempre era dia de sol!

3.Medo

Ela era muito grande e falava alto! Tudo parecia pequeno à sua volta e ele sentia um medo enorme daquelas passadas fortes. Pareciam estar em todo lugar.
Um dia sonhou que ela, ao deitar, deixava os pés cortados pelos tornozelos, dentro dos chinelos à beira da cama.
Acordou livre!

4.Ilusão à toa.

Queria um homem sensível. Na TV, suas músicas falavam de amor e paz. Conheceram-se ao acaso e ela, encantada, aceitou seu convite. Ao violão, cantaria só para ela. Entrou na escura sala e seus sonhos de menina foram estuprados ali mesmo, sem música de fundo!

5.Planeta mortal

Gostava tanto de estrelas que, toda noite, levava ao jardim um prato fundo cheio d'água e olhava, embevecido, o reflexo do brilho delas. Com uma grande colher de sopa devorava uma a uma e depois dormia na rede, se acreditando Céu. Uma noite engasgou e morreu. Tinha engolido Plutão, o invisível.

6. Máscara.

Sorriso sempre impecável. Perfeito, nunca perdia o controle. Gentil em gestos e atitudes. Um dia, a reunião girou em torno do recém chegado, mais agradável que ele. Rosto rubro, correu para o banheiro. Em choque viu suas feições, desfeitas, descendo pelo ralo da pia onde lavava os sinais de sua ira.

7.Tesouros da juventude.

Sentia uma saudade enorme de seu "tempo de loucuras". Agora, se achava muito fora de idade! Só que um dia, as loucuras também saudosas, começaram a vir ao seu encontro embaralhando a vida, as coisas, as pessoas...Abraçou a velha amiga. Fez a mala e entrou, feliz, pelos portões do Sanatório!

8. Mãemaré.

Deitado na fria cama de areia olhava o céu vendo nas nuvens, as formas da mulher amada que se fora. Anoiteceu e a Lua iluminou seu pranto ao som do coro das estrelas. Dormiu tão exausto de dor que a areia envolveu seu corpo num abraço protetor. Pela manhã, a primeira onda compadecida, o levou.

9.Landscape

No fundo do armário pintou um cenário onde encontrava toda a felicidade e liberdade.
Lá se recolhia e se trancava sempre que o mundo lhe parecia mau enquanto, em vão, o procuravam pela casa. No dia em que a casa pegou fogo, entrou para sempre em seu mundo de paz. Nada sobrou da feia realidade.

10.Mistério N.º 2

Quando desceu no País dos guarda chuvas encontrou memórias perdidas em cada peça conhecida, desde seu pequenino, com caras de ursinhos. Queria trocar o que sentia, mas não havia com quem pudesse conversar. Andando, transpôs a fronteira e viu a placa que dizia: Benvindo ao País dos pés de meias.

2 Comments:

Blogger Fábia said...

Puxa vida assim fica difícil de ler de manhã, cada postagem vem em duplas de muitos... Os primeiros que eu li adorei, adoro escritos assim curtos e concisos, assim que der leio o resto, beijos F.

8:40 AM

 
Anonymous Anônimo said...

Querida!

1:14 PM

 

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