Os motivos de Leôdia
The Knife, 1987 - foto de Jan Saudek
Os motivos de Leôdia
Os motivos de Leôdia
Para Dennis D. pela inspiração vinda de sua Leôdia!
Quando era muito pequena, a menina Leôdia era assediada todas as noites por seu pai.
O velho Leônidas, oficial reformado da marinha, tinha adquirido o vício da bebida desde que, embarcado, recebera a notícia da morte de Nídia, sua amada esposa, na hora do parto prematuro.
Criou a menina com ajuda de sua mãe idosa e fazia tudo pela filha, mas às noites, sentia agulhadas de saudades de Nídia e, já entorpecido pelo álcool, ia se aconchegar ao corpinho de Leôdia para se consolar.
Conforme crescia, a menina começou a perceber o rígido pênis do pai encostado em suas tenras nádegas. Embora gostasse do carinho paterno, a censura adolescente começou a causar-lhe incômodo e revolta quando, uma vez por mês, no dia do aniversário de morte da mãe, o pai tomava um porre colossal e os carinhos passavam ao plano da conjunção sexual.
Pelas manhãs, o pai deixava umas moedas dentro de uma latinha, para que, a caminho da escola, comprasse suas balas preferidas. Ela nunca conseguiu usar este dinheirinho... Não sabia bem porque!
Assim a menina passou toda a sua mocidade, dividida entre a revolta e o amor apiedado por seu velho pai.
Quando já era moça, um dia, não agüentou mais aquela rotina mensal. O pai estava velho, o álcool corroera sua saúde, mas mesmo assim, ainda depositava sobre ela o sêmen ralo e ictérico.
Leôdia tinha o dom da Cozinha. Aprendera com um antigo livro de receitas, porém já nem precisava consultá-lo. Era mestra em fazer a compota preferida do pai. Neste dia, comprou um vidro de bom tamanho e misturou à calda, uma boa quantidade de arsênico.
Na condição de filha única e parenta mais próxima do velho, Leôdia reivindicou para si o direito de arranjar o corpo para o velório.
Assim que foi lavado, o corpo, já em rigor mortis, estava na melhor condição para seu intento. Munida de uma excelente faca, cortou o membro que havia sido seu instrumento de vida e de tortura. Colocou-o em formol, no mesmo pote onde havia antes a compota, e guardou-o num antigo baú que havia sido de sua mãe.
Poucos dias depois do enterro, Leôdia mudou-se para Brasília, onde a esperava uma velha tia e um emprego conseguido por concurso. Sentia-se leve e livre, afinal Brasília poderia ser mesmo a capital da esperança, como dizia o pequeno pratinho ofertado pelo pai, memória da inauguração da nova capital!
Com a morte da tia, o tio começou a visitá-la às noites.
Foi então que a ira contida de Leôdia brotou com força imensurável.
Não, ela não mais seria o palco dos desejos daqueles machos abusados!
Um novo prazer orientou seus planos.
Ao adoecer, pouco antes de morrer, ela abriu o baú e contou.
Foram doze, assim como os meses do ano, os troféus que merecera pelas compotas libertadoras que fazia!
Escrito por Angela - Em 8 de fevereiro de 2007.
Quando era muito pequena, a menina Leôdia era assediada todas as noites por seu pai.
O velho Leônidas, oficial reformado da marinha, tinha adquirido o vício da bebida desde que, embarcado, recebera a notícia da morte de Nídia, sua amada esposa, na hora do parto prematuro.
Criou a menina com ajuda de sua mãe idosa e fazia tudo pela filha, mas às noites, sentia agulhadas de saudades de Nídia e, já entorpecido pelo álcool, ia se aconchegar ao corpinho de Leôdia para se consolar.
Conforme crescia, a menina começou a perceber o rígido pênis do pai encostado em suas tenras nádegas. Embora gostasse do carinho paterno, a censura adolescente começou a causar-lhe incômodo e revolta quando, uma vez por mês, no dia do aniversário de morte da mãe, o pai tomava um porre colossal e os carinhos passavam ao plano da conjunção sexual.
Pelas manhãs, o pai deixava umas moedas dentro de uma latinha, para que, a caminho da escola, comprasse suas balas preferidas. Ela nunca conseguiu usar este dinheirinho... Não sabia bem porque!
Assim a menina passou toda a sua mocidade, dividida entre a revolta e o amor apiedado por seu velho pai.
Quando já era moça, um dia, não agüentou mais aquela rotina mensal. O pai estava velho, o álcool corroera sua saúde, mas mesmo assim, ainda depositava sobre ela o sêmen ralo e ictérico.
Leôdia tinha o dom da Cozinha. Aprendera com um antigo livro de receitas, porém já nem precisava consultá-lo. Era mestra em fazer a compota preferida do pai. Neste dia, comprou um vidro de bom tamanho e misturou à calda, uma boa quantidade de arsênico.
Na condição de filha única e parenta mais próxima do velho, Leôdia reivindicou para si o direito de arranjar o corpo para o velório.
Assim que foi lavado, o corpo, já em rigor mortis, estava na melhor condição para seu intento. Munida de uma excelente faca, cortou o membro que havia sido seu instrumento de vida e de tortura. Colocou-o em formol, no mesmo pote onde havia antes a compota, e guardou-o num antigo baú que havia sido de sua mãe.
Poucos dias depois do enterro, Leôdia mudou-se para Brasília, onde a esperava uma velha tia e um emprego conseguido por concurso. Sentia-se leve e livre, afinal Brasília poderia ser mesmo a capital da esperança, como dizia o pequeno pratinho ofertado pelo pai, memória da inauguração da nova capital!
Com a morte da tia, o tio começou a visitá-la às noites.
Foi então que a ira contida de Leôdia brotou com força imensurável.
Não, ela não mais seria o palco dos desejos daqueles machos abusados!
Um novo prazer orientou seus planos.
Ao adoecer, pouco antes de morrer, ela abriu o baú e contou.
Foram doze, assim como os meses do ano, os troféus que merecera pelas compotas libertadoras que fazia!
Escrito por Angela - Em 8 de fevereiro de 2007.
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O baú / Dennis D.
O baú / Dennis D.
Quando a velha Leôdia morreu, descobriram aquele baú debaixo de sua cama. Dentro do baú, havia uma dúzia de vidros para compota, e – no interior de cada um deles – um pênis submerso em formol. Doze vidros, doze pênis como doze taturanas albinas com boquinhas enrugadas.Encontraram também, corroído pelas traças, um exemplar do livro de receitas culinárias ‘Dona Benta’, ainda um pequeno cofre de lata, recheado com moedas fora de circulação, e – pasmem os senhores! – um pratinho de louça, no qual se podiam ler as frases: “Salve o dia 21 de abril de 1960! Brasília, Capital da Esperança!” Horror, horror, horror!
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frase do dia:
Se os homens ficassem grávidos, o aborto seria um sacramento. (Anônimo)
4 Comments:
Querida Ursa,
Percebo a Leôdia e provavelmente no seu lugar ter-me-ia apetecido fazer o mesmo.
A culpa foi do traste de pai(se é que se pode chamar pai a homens como este).
Quanto à frase não calcula as vezes sem conta que tenho dito o mesmo.
Beijocas.
10:14 AM
...e de 1960 pra cá as coisas só pioraram. Olha a tv.
Hoje há festa...e eu quase esqueci!
Espero por ti.
beijos
1:02 PM
Sinceramente... MORRI DE INVEJA!!! Amei o conto, mistura suspense e terror. Excelente!!!! Além de escrever microcontos, escreve ótimos relatos.
2:09 PM
Meiguinha,
este comportamento é tão comum!E não é só em classes pobres e pouco instruídas!
Imagina algum homem grávido? Poderiam ser contados nos dedos!
Pitanga
A partir dos anos sessenta muito mais coisa aconteceu do que, simplesmente Brasília!
Não vejo TV! Me envenenar por gosto e opção?
Parabéns pelo primeiro ano da pitanga! deixei recado lá.
Caro Dudu
Obrigada mas não tenho a metade de suas boas idéias!
10:19 PM
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