A despedida da alma
1996-cabeza-ofelia-color Eduardo Naranjo
Ao sentir que era chegada a hora e porque as forças se esgotavam, deitei-me à espera. O coração batia forte como se tambores rufassem ao iniciar uma solenidade. Havia calma e doçura, mansidão terna e inesperada, agradável até. Aos poucos o corpo esvaziava, tornava-se leve e quase oco. E lá estava ela ao pé da cama. Havia despejado a pesada matéria como um barco que larga as defesas no cais antes da viagem. Olhei-a bem, com prazer. Mantinha as belas formas de outrora e me lembrava, mostrando como um filme, a nossa convivência de tantos anos. Antes de partir e abandonar nossa morada; alugada para duras batalhas e muitas festas, lembrou-me de todos os que me esperavam e apenas ao pensar naqueles que eu deixaria, e em todas as vidas que já não poderia testemunhar, um resto de lágrima ainda brotou dos olhos já entregues ao jamais. Então, ela virou-me suas costas pela última vez e pude perceber a curva de seus ombros arqueados por tanta carga e o quanto suportou sem jamais me faltar em algum momento. Ainda pude vê-la ao entrar na penumbra até sumir no negro, e eu já não mais estava ou existia.
Escrito em 25-07-2009
3h15' am
Ao sentir que era chegada a hora e porque as forças se esgotavam, deitei-me à espera. O coração batia forte como se tambores rufassem ao iniciar uma solenidade. Havia calma e doçura, mansidão terna e inesperada, agradável até. Aos poucos o corpo esvaziava, tornava-se leve e quase oco. E lá estava ela ao pé da cama. Havia despejado a pesada matéria como um barco que larga as defesas no cais antes da viagem. Olhei-a bem, com prazer. Mantinha as belas formas de outrora e me lembrava, mostrando como um filme, a nossa convivência de tantos anos. Antes de partir e abandonar nossa morada; alugada para duras batalhas e muitas festas, lembrou-me de todos os que me esperavam e apenas ao pensar naqueles que eu deixaria, e em todas as vidas que já não poderia testemunhar, um resto de lágrima ainda brotou dos olhos já entregues ao jamais. Então, ela virou-me suas costas pela última vez e pude perceber a curva de seus ombros arqueados por tanta carga e o quanto suportou sem jamais me faltar em algum momento. Ainda pude vê-la ao entrar na penumbra até sumir no negro, e eu já não mais estava ou existia.
Escrito em 25-07-2009
3h15' am
4 Comments:
Olha nem sei o que dizer sobre este texto arrebatador...fiquei sem palavras, a descrição desta despedida tem uma força que não é possível medir
beijocas
10:09 AM
querido Mocho! temos um fio em sintonia... grata por estar aqui.
Que teu ano seja muito feliz!
2:03 PM
Emocionante....
6:04 PM
dudv
É surpreendente experimentar a sensação de morte sem medo ou dor.
9:19 PM
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