Aos Loucos Varridos
Bruno Di Bernardo - sem título
Desde muito cedo me percebi na classe dos ET’s. Talvez, por isso mesmo, minha aparência e comportamento externo fossem tão certinhos e discretos. Defesa pura. As poucas vezes em que ousei sair deste modelo fui etiquetada com rótulos nada aceitáveis. As palavras, as idéias e a forma de viver, desde muito cedo ameaçaram o núcleo familiar e social e em troca, muitas dores foram vividas na calada.
Com a maturidade e a independência, descobri que era interpretada erroneamente até por aqueles que viam algo de heróico e pioneiro em minha vida. Nada sabiam do que se passava nos bastidores de minha alma recolhida.
Talvez por isto tudo, os chamados loucos sempre contaram com meu interesse, simpatia e defesa irada. A injustiça do julgamento a priori, a segregação, os diagnósticos apressados e o sempre desamor, permearam a vida de pessoas incríveis como Camille Claudel, Van Gogh, Santos Dumont, e outras tantas almas singulares que não trilharam os caminhos esperados pela maioria.
Quase sempre, estes seres foram sugados por familiares que tinham os “pés no chão” e que se valeram da genialidade de quem foi rotulado como louco!
Hoje se fala de inclusão de minorias: negros, homossexuais e afins, os isso e aquilo, mas não consigo ver ninguém que se chegue aos quem desafiam as convenções e sejam "Loucos". Ah! Mentira! Existe sim, uma hipótese: se este louco fizer gênero e tiver dinheiro, será ícone e não só será aceito, como imitado e endeusado! E, bem de perto, se poderá perceber que é só fachada, que lá no fundo existe o marketing que visa dinheiro e sucesso material.
Neste compasso, segue o coreto dos que afirmam que tudo isto é feito para que não sofram.Por isto medicam, dão choques elétricos e confinam. São mantidos à distância da sociedade porque envergonham, não enchem de vaidade a família. E ninguém os aceita, não são ouvidos, não são tocados, não são amados.
Causa-me desespero, impotência e um profundo desprezo perceber a cautela doentia com que o irmão de Camille, aquele Paul que se disse iluminado, mas que destilava uma manipulação interesseira, manter confinada a irmã que jamais foi louca, apodrecendo num asilo, por trinta anos, sem responder suas cartas, até que ela morresse. Certamente, o comportamento imprevisível e inaceitável da irmã poria em risco sua reputação e a carreira diplomática!
Até que Camille morreu e começou a ser considerada uma escultora genial. Então, o irmão abjeto passou a mencioná-la com o orgulho perfeito para somar ao seu nome. E se tornou o que sempre foi – apenas o irmão de Camille Claudel - a artista cuja genialidade superou, e muito, a criação medíocre de Paul.
É absurdo que, em nossos dias, este comportamento se repita e a ignorância continue.
Posso estar completamente equivocada, mas não creio. Os rotulados doentes mentais sofrem sim, mas antes que seus delírios doam pela rejeição e incompreensão, antes que morram pelo desamor e se suicidem pelo desespero de viver à margem da vida, ajude-os a canalizar seus “delírios” para uma expressão original. Dêem-lhes ouvidos e instrumentos e teremos gênios criativos e pessoas únicas que poderão amedrontar, mas serão os arautos das verdades que não temos coragem de ver!
Por Camille e para Ana Paula que saiu de um palco estreito demais, para brilhar em liberdade e plenitude em algum lugar melhor.
Em 26-11-2008 02h08’ am
Desde muito cedo me percebi na classe dos ET’s. Talvez, por isso mesmo, minha aparência e comportamento externo fossem tão certinhos e discretos. Defesa pura. As poucas vezes em que ousei sair deste modelo fui etiquetada com rótulos nada aceitáveis. As palavras, as idéias e a forma de viver, desde muito cedo ameaçaram o núcleo familiar e social e em troca, muitas dores foram vividas na calada.
Com a maturidade e a independência, descobri que era interpretada erroneamente até por aqueles que viam algo de heróico e pioneiro em minha vida. Nada sabiam do que se passava nos bastidores de minha alma recolhida.
Talvez por isto tudo, os chamados loucos sempre contaram com meu interesse, simpatia e defesa irada. A injustiça do julgamento a priori, a segregação, os diagnósticos apressados e o sempre desamor, permearam a vida de pessoas incríveis como Camille Claudel, Van Gogh, Santos Dumont, e outras tantas almas singulares que não trilharam os caminhos esperados pela maioria.
Quase sempre, estes seres foram sugados por familiares que tinham os “pés no chão” e que se valeram da genialidade de quem foi rotulado como louco!
Hoje se fala de inclusão de minorias: negros, homossexuais e afins, os isso e aquilo, mas não consigo ver ninguém que se chegue aos quem desafiam as convenções e sejam "Loucos". Ah! Mentira! Existe sim, uma hipótese: se este louco fizer gênero e tiver dinheiro, será ícone e não só será aceito, como imitado e endeusado! E, bem de perto, se poderá perceber que é só fachada, que lá no fundo existe o marketing que visa dinheiro e sucesso material.
O pobre coitado que ousa desobedecer aos padrões e ser diferente porque criativo, porque ele mesmo em sua individualidade ímpar, terá que ser banido e impedido, ou seja, medicado e drogado através das químicas permitidas e manipuladoras. Então, terá seu diagnóstico estampado para sempre na testa e na alma: desequilibrado, doente mental, maluco!
E junto, virá o desamor de quem o deseja bonzinho, obediente, manipulável!
Agora sim, ele está melhor, enquadrou-se. Sua criatividade está morta para sempre e a dor, será sempre a mesma, a do abandono, pois jamais será compreendida e alcançada pelos medíocres.
Neste compasso, segue o coreto dos que afirmam que tudo isto é feito para que não sofram.Por isto medicam, dão choques elétricos e confinam. São mantidos à distância da sociedade porque envergonham, não enchem de vaidade a família. E ninguém os aceita, não são ouvidos, não são tocados, não são amados.
Causa-me desespero, impotência e um profundo desprezo perceber a cautela doentia com que o irmão de Camille, aquele Paul que se disse iluminado, mas que destilava uma manipulação interesseira, manter confinada a irmã que jamais foi louca, apodrecendo num asilo, por trinta anos, sem responder suas cartas, até que ela morresse. Certamente, o comportamento imprevisível e inaceitável da irmã poria em risco sua reputação e a carreira diplomática!
Até que Camille morreu e começou a ser considerada uma escultora genial. Então, o irmão abjeto passou a mencioná-la com o orgulho perfeito para somar ao seu nome. E se tornou o que sempre foi – apenas o irmão de Camille Claudel - a artista cuja genialidade superou, e muito, a criação medíocre de Paul.
É absurdo que, em nossos dias, este comportamento se repita e a ignorância continue.
Posso estar completamente equivocada, mas não creio. Os rotulados doentes mentais sofrem sim, mas antes que seus delírios doam pela rejeição e incompreensão, antes que morram pelo desamor e se suicidem pelo desespero de viver à margem da vida, ajude-os a canalizar seus “delírios” para uma expressão original. Dêem-lhes ouvidos e instrumentos e teremos gênios criativos e pessoas únicas que poderão amedrontar, mas serão os arautos das verdades que não temos coragem de ver!
Por Camille e para Ana Paula que saiu de um palco estreito demais, para brilhar em liberdade e plenitude em algum lugar melhor.
Em 26-11-2008 02h08’ am
4 Comments:
Bela crônica, concordo com você.
5:10 PM
Obrigada Eduardo
Como já disseram, somos poucos mas, juntos, podemos ser fortes!
10:23 PM
Ora viva..estou de volta, e chego aqui e leio um post fantástico, aliás como vem sendo habitual
beijocas
9:12 AM
Querido Mocho!
É sempre um bom agouro te saber por perto! Bom pouso e permanência. O meu carinho.
1:44 AM
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