EXANGUE
E o cansaço vinha galopante. Parecia que o tinham surrado sem deixar
tempo para um sopro de ar. Renunciava à vida e a perseguir a estrada que lhe
fugia sob os pés neste inverno sem, ao menos, a brancura de uma neve. Frio seco
areento, estéril e constante. Deserto de futuros. Percebia que Eros tinha sido
engolido por Tanatos e este gargalhava sobre o alazão, golpeando o exaurir das
forças. Ou será que o animal que desfazia os laços com a vida externa, puídos
pela exaustão, não seria uma máscara de Eros?
Gargalhava, era certo, um riso
urgente e frouxo de vencedor impiedoso. Uma caverna seria bem-vinda, um buraco,
um túmulo, uma lagoa em cujas águas pudesse voltar às origens vazias e ocas do
nada ser, apenas uma possibilidade de renascimento.
escrito em 03-07-2008
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