Desde sempre lembro-me viajando em imagens. Primeiro elas fugiram de meu olhar interno e se faziam ver mergulhadas em papel e cores. Depois vieram as palavras e a inspiração dos sonhos, pois foi a realidade que, muitas vezes, trouxe os pesadelos. Em busca de organizar este mundo interior surgiu a Ilha.União de idéias e sonhos, asas que herdei. Apresento-a em pequenos trechos e peço que questionem, perguntem muito para que ela possa tornar-se mais rica e interessante, lugar melhor pra viver.

24.2.09

O Menino

imagem de Eric Zener



Ele gosta dos peixes, e não se percebe um deles. Fluido e lépido, tão quieto e doce como quem repousa no fundo do mar e respira o azul das águas que sempre foram vida, desde muito, desde sempre.



escrito em 23-02-2009 para o Luca Moana

13.2.09

Maiakovski & Nós



A violência já chegou a Friburgo faz tempo e nossa família foi vitima dela. Agora, parece que suas rédeas foram tomadas pelo poder público e, por isso, aí estão as palavras de Márcia Frazão que refletem, exatamente, o que sinto e penso:


Primeiro, eles vêm à noite, com passo furtivo, a gente não se dá conta, finge que não vê, tapa os ouvidos,aumenta o volume da tevê, finge uma ocupação absolutamente irrisória, zanza pela casa, abre a geladeira, lê o jornal e se preocupa... com conceitos que quanto mais abstratos, melhor. Depois eles chegam, arrancam uma flor, e substituimos o vaso, absolutamente seguros de que foram-se os anéis mas ficaram os dedos ou de que poderia ter sido pior porque uma flor é só uma flor e não dizemos nada. Pra que falar? Era só uma flor, uma florzinha à-toa, um tico de insignificância, um delitinho mínimo, desmerecedor de grandes preocupações. No dia seguinte, já não tomam precauções:tiram a máscara de bandidos, exibem suásticas, rufam tambores e gritam palavras de ordem (?) como Negros Imundos, Homossexuais Nojentos, Libertários Impuros, Artistas Devassos, Humanistas Panacas, Mulheres Vadias, Ecologistas de Merda, Judeus Sujos, Árabes Terroristas e outros slogans que nem o Canhoto conseguiria (nem teria estômago) criar. Sem cerimônia entram no nosso jardim, como se a casa fosse deles e tívessem sido convidados e pisam as nossas flores, mas flores são flores e são só flores e pra que fazer tanto barulho por nada? Damos uma espiadinha nos estragos no gramado, verificamos quais sementes e mudas compraremos no dia seguinte. Depois, entramos em casa, fechamos a porta e eles matam nosso cão. Só reparamos na manhã seguinte e mais uma vez fechamos os olhos , tapamos os ouvidos e costuramos a boca. Fingimos que não vimos ou soubemos que o matador (secretário de uma prefeitura perdida nos cafundós do país) chegou até a vangloriar-se num canal de tevê, exibindo - subliminarmente, é claro - uma pavorosa suástica que a plenos pulmões declarou que "cachorro é que nem criança negra, ninguém quer adotar" e empolgado pelas câmeras pomposamente afirmou que "se houvesse uma lei que permitisse matar menores de ruas, isso era um caso a se pensar". Mas que valor teriam as palavras de um secretário caipira perdido num município cravado no interior de um estado? O coitado deve ter se embananado, televisão intimida e acaba-se falando besteira , preferimos pensar

e não dizemos nada.

Até que um dia o mais débil dentre eles

entra sozinho em nossa casa,

rouba nossa luz,

arranca a voz de nossa garganta

e já não podemos dizer nada.


As frases em vermelho são do poeta Eduardo Alves da Costa, em seu poema Caminhando com Maiakovski que ao escrevê-las, certamente deve ter passado pelo que hoje passa Nova Friburgo, nas mãos de um secretário de quem o próprio Demo deve sentir vergonha.

Marcia Frazão
http://www.marciarfrazao.blogspot.com/

7.2.09

uni verso

psyche opening the golden box by John William Waterhouse




Todos os poemas de amor são iguais
todas as cartas de cobrança se parecem
todas as dores, embora diversas,
quando reclamadas, são sempre a mesma.

O ser humano existe apenas em espelho
Onde a alma perde seus contornos,
É raro o sentimento vestir roupa nova,
sob medida e a gosto de quem o experimenta.

Somos únicos e ainda não sabemos,
ou repetimos uma mesma história
sem perceber que o texto ancestral,
derruba-se sobre cada um que nasce
tornando-o cúmplice de uma humanidade
tediosa e amarga,
incapaz de aprender

e reinventar-se.

Escrito em 05-02-2009

3.2.09

a morte da vida

foto de Stan Bouman







A vida se esvai sózinha.
Solitária, não tendo a quem dar a mão ou sorrir perde o brilho,

desapega-se e transforma-se em morte.






escrito em 28-11-2008