Desde sempre lembro-me viajando em imagens. Primeiro elas fugiram de meu olhar interno e se faziam ver mergulhadas em papel e cores. Depois vieram as palavras e a inspiração dos sonhos, pois foi a realidade que, muitas vezes, trouxe os pesadelos. Em busca de organizar este mundo interior surgiu a Ilha.União de idéias e sonhos, asas que herdei. Apresento-a em pequenos trechos e peço que questionem, perguntem muito para que ela possa tornar-se mais rica e interessante, lugar melhor pra viver.

28.2.08

IMERGIR

Foto de Howard Schatz



Água, fluidez feminina,
uterina.
Lágrima , sangue, secreção.
Em pureza amorosa batiza,
dissolve, ilumina, suaviza,
integra a limpidez da entrega,
da alma, do corpo, da vida.
Acato, mansidão.


escrito por Angela Schnoor em maio de 2001

24.2.08

Um Livro que adoramos ler !

Ilustração do livro
OWL AT HOME - de Arnold Lobel.
feitas pelo escritor


Chá de lágrimas

A coruja pegou a chaleira
E tirou fora a tampa.
- ‘Hoje à noite farei
um chá de lágrimas’, ela disse.
Ela colocou a chaleira em seu colo.
- ‘Agora’, disse a coruja, ‘vou começar’.
Coruja sentou bem quieta.
Ela começou a pensar
Em coisas que eram tristes.
‘Cadeiras com pernas quebradas’, disse ela.
Seus olhos ficaram molhados
‘canções que não podem ser cantadas’,
disse a coruja,
‘porque as palavras foram esquecidas’.
Coruja começou a chorar.
Uma grossa lágrima
Rolou e caiu na chaleira,
‘Colheres que caíram atrás do fogão
E jamais serão vistas novamente’.
Disse a coruja.
E mais lágrimas caíram dentro da chaleira.
‘Livros que não podem ser lidos, disse a coruja.
Porque suas páginas foram rasgadas’.
‘Relógios que pararam,
Disse ela.
‘Pois ninguém está perto
Para dar-lhe corda’.
A coruja estava chorando.
Muitas lágrimas, ainda maiores,
Pingaram na chaleira.
‘Manhãs que ninguém vê
porque todos estão dormindo’
soluçou a coruja.
‘Purê de batatas deixados no prato, ela gritou,
‘porque ninguém quer comê-lo.
E lápis que estão muito pequenos
Para serem usados’
A Coruja pensou sobre
muitas outras coisas tristes.
Ela chorou e chorou.
Logo a chaleira
Ficou cheia com as lágrimas.
‘Então’, disse a coruja,
‘Está feito!’
A Coruja parou de chorar.
Ela colocou a chaleira no fogão
para ferver o chá.
Coruja sentiu-se feliz
Pois encheu sua xícara.
‘Tem sabor um pouco salgado’, ela disse,
‘Mas chá de lágrimas
É sempre muito bom!’




Nota: o texto é parte do livro : OWL AT HOME - de autoria de Arnold Lobel . O livro foi dedicado, pelo autor, à sua avó e a tradução do inglês para o português foi feita por mim.

23 de fevereiro-Luca completou tres anos!





Há muito tempo não me sentia tão feliz!

Foi um prazer ter acordado ontem, ao lado do nosso pequeno Luca Moana. Embora às seis da manhã de um sábado, foi muito bom poder cantar para ele,assim que abriu os olhos, o nosso bé-bé-bé-úúú*!

Senti-me como criança, brincando com o Buzz Lightyears, lendo histórias, fazendo bichos com massa de modelar e depois, afastando o sono com brincadeiras de cócegas, piruetas, embolações corporais, sustos de 'mentirinha' e muito riso de nós dois!

Por isso quero agradecer a existência deste pequeno tão querido, assim como poder ficar a sós com ele sabendo que foi alegre esta manhã do primeiro dia de seu quarto aninho de vida!
É por estes momentos que a vida vale todas as penas!
***
Em sua homenagem e na de todos que mantém viva a sua criança interior é que faço, hoje, duas postagens: Uma pelo sábado, dia 23 de fevereiro e a de hoje, dia 24 - domingo.
***
* forma familiar de cantar os parabéns - a partir da minha infância, quando meu pai, recém chegado dos EUA, cantava para mim o 'Happy birthday to you'.

22.2.08

LUA

mulher- desconheço o autor



LUA

Ela vem...na mansidão
devagar, fecha as janelas
tranca a porta para o dia.
Vou perdendo toda ação.

Vai me deixando prostrada,
entregando, extasiada,
minha vida em suas mãos!

Envolta em negro, despida,
ostenta imenso colar.

Com toque frio e suave
me beija, some e revela
face pálida, escondida.

Quando mal lhe vejo o rosto
Já estou sonhando com ela.


escrito em 12/08/01 por angela schnoor

17.2.08

A...PENAS

foto de Vanda Lacão - sem título



Apenas,
Carregada em chumbo
pude sentir minha leveza

Apenas,
tendo me enxergado rocha
transformei-me em areia

E, permitindo
o abandono aos oceanos,
aportei em solo fértil
onde brotei-me em cores.

Apenas,
aceitando as dores
que me quebraram ossos
pude cobrir-me com penas
que me voaram às alturas
onde encontrei-me espírito !


escrito em 10/08/2000
Angela Schnoor

16.2.08

Uma folha só

Reading Love Poems - desconheço o autor



Papel em branco me chama.
- Nada te peço, senão,
que me preenchas com o lápis,
um pouco da solidão.

Fico olhando para o espaço
entre a folha e minha mão.
Tão fácil atender o apelo
encetando a relação.

Quem sabe alguém possa, um dia,
preencher-me o branco vago
dos dias que lá se vão
com palavras de carinho,
sem lápis, só coração!


escrito por Angela Schnoor – 10/02 2004 2h47’

14.2.08

O dia em que o sistema solar pirar!


Reviraremos os astros de tal modo, que não sobrará astrólogo sadio nem astrônomo soberbo sobre a Terra!

Restará um Sol com fases menstruais, uma Lua cheia de anéis e Mercúrio grande e pesadão cercado de mulheres histéricas!

Vênus, ao girar às avessas perde o espelho e, introspectiva, encontra-se Psique.
Netuno sóbrio, magro e seco; Marte lânguido e sonolento; Júpiter com asinhas, perdido nos correios e Urano absolutamente centrado, organizado e careta, dando bronca em todos, pois estão muito mudados!

Este será, sem dúvidas o céu da nova era pra psiquiatra algum botar defeito.

E saturno? O velho sábio?
Sei lá!

escrito em 13/06/2004

9.2.08

DESPIDA

espectro - foto da web


Praia deserta
deserto de mim.
Me dispo:
Manto de passado
Pele de presente.
Escamada em sol
E areia branca
Me faço fundo
de algas verdes
balouçantes.
Me naufrago
Para emergir
das ondas,
Grão de infinito
Arco-íris!


escrito por Angela - há anos...

7.2.08

Tantos dias sete!

magritte_timetransfixed

Para Alberto

Hoje, quando penso em quantos dias sete já passamos juntos, me espantam como fossem tijolos de uma construção.
Mais da metade de nossas vidas aí estão, em comum, comunicadas, repartidas, partilhadas como fazem com nossos bolos de aniversário, só que, com mais aqueles que estão aí e estiveram, como uma platéia carinhosa a aplaudir nossas vidas.

O aniversário é seu e estou aqui, falando de mim, conjugando o nós!
Mas, não sei como poderia ser diverso, já que o tempo partilhado é bem maior do que o sozinho.

E você aí, firme em sua faina de me agradar a vida resmungona.Você aí, sempre você, em todos os momentos de riso e, mais ainda, em todos os instantes de amparo e desamparo.

De quanto sal, comido juntos, fizemos esta vida coberta com a calda de seu açúcar quieto e manso, enquanto eu apimentava os dias com a impaciência dos rebeldes?
Sei que posso parecer o esteio mas sou apenas o carvão, você é a máquina que dobra os caminhos e percorre os trilhos levando o comboio.

E agora está aí, uma vida que parece de repente, mas que é todo dia, todo dia, todo dia... E os vagões se atrelam e o comboio cresce e a gente se apoia e se ama e se constrói, melhor a cada dia.
E eu devo a você a construção do tanto que hoje me soube, mesmo que continue a resmungar pelo que ainda não sei.

Que seu dia seja de sol e que o piuí de nossa vida continue sendo ouvido ao longe, mesmo quando virarmos nas dobras do caminho. E que estejamos juntos, fumacinha vista à distância, sempre, sempre juntos, com resmungos, mas também com a alegria dos que fizeram uma bela história.

Que você corte o bolo de agora, mas que muitos trilhos nos levem ainda mais longe, juntos, por mais caminhos. E que os tijolos alcancem os céus em nossa torre firme e forte.

Que todas as alegrias sejam poucas pra tantos resmungos que já ouvistes com paciência e boa vontade!

Obrigada por ter vindo a este mundo nos encontrar, como devia estar escrito nas estrelas. Que elas te brilhem, sempre!

Em 7 de fevereiro de 2008 - escrevi com muito amor, respeito e carinho renovado. Pra você, neste dia que deve ser feliz por ser o seu.

5.2.08

Cronon

foto de Fernando Figueiredo



Sim, fazem cinco anos que sento à mesma mesa onde as horas se alimentam de minha espera. Devoram-me a alma e o corpo que envelheceu enquanto vives dentro de minha lembrança.

No início foi quase um dia, não! Quase uma noite em que esperei, em vão, o teu regresso. Como Penélope, desfiz as horas para não me convencer do abandono. Tentei estraçalhar o tempo, mas meus instrumentos de defesa, delicados demais, impediram que eu sacrificasse nossa história.

Acabei eu, sim! Apenas eu, desencantada e fria, tentando digerir o tempo que me engole sem piedade, salpicada de amargura, furos que deixam passar, apenas alguma luz e um pouco do ar que ainda gira os ponteiros desiludidos... quase sem vida.

escrito em 05-02-2008 20h54' hv.

3.2.08

AMOR VIRTUAL

Na tela deste micro
A nossa relação
É pura ficção.
Realidade virtual,
Onde abolimos, de vez,
Qualquer instinto
Ou resquícios do animal.
Numa janela,
Nossas imagens,
Em Photoshop retocadas
Aparecem com a idade
Da beleza.
Um toque rápido e,
Qualquer palavra
Antes aflita, escapa...
E nunca terá sido dita.
E assim, entre os enter e undo
Salvamos na memória nosso amor
Arquivado em discos coloridos.
Ausente o ardor, ausente a dor!

Escrito por Angela em 26/07/1995