Desde sempre lembro-me viajando em imagens. Primeiro elas fugiram de meu olhar interno e se faziam ver mergulhadas em papel e cores. Depois vieram as palavras e a inspiração dos sonhos, pois foi a realidade que, muitas vezes, trouxe os pesadelos. Em busca de organizar este mundo interior surgiu a Ilha.União de idéias e sonhos, asas que herdei. Apresento-a em pequenos trechos e peço que questionem, perguntem muito para que ela possa tornar-se mais rica e interessante, lugar melhor pra viver.

30.3.07

Aniversários e seus símbolos

31 de março



Hoje comemoro o dia em que "vim à luz"! Não sei se em todas as culturas mas, em muitos paízes do ocidente, costumamos reunir amigos e parentes para repartir um bolo. No centro do Bolo coloca-se uma vela ou tantas quantos são os anos que a pessoa completa naquele dia.

Será que alguém já se perguntou a razão desta vela, do acendê-la e, em seguida soprar para apagá-la? Quando me fiz esta pergunta, lembrei-me dos rituais cristãos da páscoa,vinculados aos rituais pagãos do ciclo anual, que se inicia com a primavera.
Nas Igrejas acende-se uma grande vela que é chamada de círio Pascal e que representa a Ressureição de Cristo ou o
renascimento da Luz.
Assim como a natureza renasce, renascemos, nós, a cada ano.

Em nosso aniversário, palavra que significa : o que volta a cada ano, comemoramos nossa entrada na luz, desde a primeira, quando saímos do ventre de nossa mãe, da mesma forma que a natureza comemora o retorno do Sol após seu recolhimento durante o inverno.

Então me perguntei: Porque acendemos a vela e a apagamos em seguida? Apagamos, simbólicamente, um ano que passou em nossas vidas mas, a vela deveria já estar acesa desde o aniversário anterior!
E, após apagarmos este círio - um ano de labor representado na cera das abelhas que compõe a vela, - poderíamos acender uma nova chama, símbolo do novo ciclo que iremos iniciar, deixando-a acesa até o próximo aniversário.

Faço a proposta: vamos dar de presente aos nosso amigos uma vela grande e forte que dure um ano inteirinho. Será acesa no aniversário e só será apagada no dia em que completarmos o novo ano, quando a vela, se for bem feita, já deverá estar no fim.

Então, acenderemos uma nova chama, para um novo ano que se inicia, sob as bençãos dos amigos, de mãos dadas com todos aqueles que nos querem bem e que, assim como os que nos esperaram nascer, estão alí para felicitar nosso novo ciclo.
E, da mesma forma que no círio das Igrejas, esteja impresso em nós o alfa e o ômega lembrando que tudo que tem início finda, assim como tudo que morre volta a nascer.


E o Bolo? Êle está ali representando o que vivemos e construímos
ao longo do ano. Será, então, que naquele velho hábito de o repartir e oferecer a primeira fatia à pessoa de quem gostamos mais, não haverá um equívoco?

Penso que a primeira ou a maior fatia do nosso bolo deveria ir para
aquela pessoa que mais e melhor partilhou conosco o ano que passou.
Este ano, além da família e dos amigos que estarão comigo neste dia, aos amigos virtuais que estiveram presentes durante todo este tempo, com seu incentivo e carinho: Arara, C_mim, Meiguinha, Bichokundum Greentea, Pitanga doce, Kalinka, Letícia Gabian, Antonio Rosa, DuduOliva, Cha-no-yu, La double vie, Avelana, Aenima,
Da Noya, Edson-Mude , Ana Mello , Dias felizes, Dennis D., Minguante e seus editores, Marcelo Spalding, de Veredas e muitos outros anônimos e silenciosos, gostaria de oferecer uma gostosa fatia do tudo de bom que foi este meu ano com a colaboração amiga de todos vocês!

Saúde!
Que a vida de todos nós seja coberta de bençãos!


Frase do dia:
Felicidade não é alegria, passageira primavera, mas a serenidade de viver todas as estações com o mesmo prazer.
Angela Schnoor

29.3.07

SANSÃO

Francesco Bartolozzi- 1728- 1915 Sansão e Dalilah

Desde menino a mãe acostumou-o a chamar seu pênis de Sansão. Gostava do nome, mas ignorava seu significado. Uma noite, aparou seus pêlos. Amanheceu impotente.

FRASE DO DIA

Para ver quantos amigos tem, dê uma festa.

Para ver a qualidade deles, fique doente.


27.3.07

COLISÃO VIRTUAL


No espaço cibernético os e-mails se chocaram.
Jamais alguém soube o conteúdo das mensagens acidentadas.
As palavras, qual corpos projetados no espaço, caíram destroçadas. Abraço procurou seu A perdido e percebeu-se manietado e cheio de dedos; Saudade teve as sílabas amputadas e não mais se soube. Será que principiava com um I que lhe daria alguma experiência e sentido à vida ou, teria um vel posterior que a tornaria mais jovem? tenciosa não se reconhecia, mas achou um A que poderia retirar a tensão que a dominava naquele momento. É que duvidava que pertencesse às coisas da mente, quando a encontrou vagando pelo ar.
Por fim, desintegrados, os textos perderam, para sempre, seus significados. Num átimo, tornaram-se apenas ex.

escrito por angela em 27-03-2007
*
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frase do dia:
Antigamente, os livros eram escritos por gente de letras e lidos pelo público. Hoje em dia são escritos pelo público e lidos por ninguém.

Oscar Wilde

21.3.07

Hipnos

As amigas não entendiam porque ela namorava aquele homem feio, aborrecido, completamente monótono. Ela sabia. Desde que o conhecera tinha conseguido deixar os soníferos. Assim que ouvia sua voz, o sono chegava.


frase do dia:
“Nossas dúvidas são traidoras e nos fazem perder o que, com freqüência, poderíamos ganhar, por simples medo de arriscar.”
William Shakespeare

20.3.07

Privação de sentidos

Forbidden colours- foto de Alba Luna - www.olhares.com.

No restaurante, ele, com voz monocórdia, falava de trabalho.
Ela, olhar perdido, ouvia palavras de amor.
Estava apaixonada.
*
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frase do dia:
Ao dizer alguma coisa,
cuide para que suas palavras não sejam piores que o seu silêncio.
Anônimo

13.3.07

RAQUEL

ClaxtonAdelaide-wonderland
Todas as tardes ela ficava olhando por horas perdidas pela janela do quarto.
A paisagem, no antigo bairro do Cosme Velho, era especial.Em plena cidade tinha o privilégio de olhar a mata fresca e verdejante e gozar de silêncio e privacidade.
Mas, mesmo especial, não era a mata a razão dos devaneios de Clara. Ficava ali à espera, atenta, na expectativa de uma visão que, há meses, a encantava.
A mãe, que entrava quase à mesma hora com a bandeja do lanche, poderia pensar que ela estava divagando, olhando o verde, ouvindo passarinhos, enquanto fazia uma pequena pausa nos estudos.
Às vésperas do concurso para o Conservatório de música, o treino da flauta tomava quase todo o seu tempo.Ao perceber a mãe, disfarçava e nada dizia, mas estava ali à espera da menina dourada que apelidara de Raquel, lembrando um velho poema de Camões, que aprendera na escola, sobre um pastor apaixonado.
Em meio à mata, havia apenas uma construção, onde morava um senhor português, o açougueiro do bairro. A velha casa, um sobrado, tinha uma janela sempre fechada que dava vista, exatamente, para o quarto de Clara. Entretanto, em alguns momentos da tarde, enquanto tocava sua flauta, Clara era surpreendida pelo sorriso da linda menina, de belas tranças louras, que abria a janela para ouvi-la.
Aos poucos, criou-se um ritual. Ela percebeu que Raquel podia abrir a janela em horários diversos em meio à tarde, mas, coincidência ou não, sempre que ela tocava a Pavana de Ravel era certo que a menina chegaria à janela. Assim, criou-se um ritual cúmplice entre as duas garotas.
Todas as tardes o estudo incluía, obrigatoriamente, a Pavana e Clara obtinha o sorriso que a encorajava no árduo treinamento. Olhando os cabelos bem penteados da menina, o lindo e caro vestido, o delicado colar com um medalhão de ouro preso ao pescoço, Clara imaginava como seu José, o açougueiro, conseguia tratá-la com aquele esmero.
Sim, porque Raquel só poderia ser sua filha! Ele, apesar da aparência rude, parecia estar na casa dos quarenta, mas ela jamais vira outra pessoa na casa. Será que era viúvo?Mais uma razão para se interessar por Raquel. Qual seria o mistério de sua vida?
Poderia ser uma sobrinha recém chegada de além mar... Mas devia sentir-se sozinha naquele sobrado fechado durante todo o dia!Nunca vira Raquel na rua. Mas Clara também não saia à rua desde que começara a estudar para o concurso.
Passadas as provas, já em férias, Clara continua a tocar a Pavana para 'chamar' Raquel. Numa dessas vezes, furtivamente, consegue fotografar a jovem, desejando ter uma lembrança da amiga secreta.
De posse da fotografia, pede à mãe autorização para convidar a nova amiga para um lanche em sua casa, e mostra-lhe a foto.A mãe desmaia.

Clara, assustada, ajuda sua mãe a se recobrar e, aos poucos, a senhora, ainda sob os efeitos do choque, conta que aquele rosto é de uma moça que havia morado naquele sobrado logo que o açougueiro tinha chegado de Portugal.
Ela era sua mulher e, embora muito bem vestida e alimentada por ele, vivia presa entre quatro paredes por causa do ciúme doentio que o marido manifestava. Nem a janela podia ser aberta e as únicas coisas que lhe eram permitidas era ter uma fotografia da mãe, que trazia no medalhão ao pescoço, e a música que ouvia diariamente.
Um dia, num acesso de raiva, quebrou-lhe a antiga vitrola.
Depois deste fato, por tanta tristeza, diziam, havia morrido de tuberculose.E as janelas do sobrado jamais voltaram a se abrir.

Escrito por Angela Schnoor em 11 de março de 2007 – às 22h08’ – no RJ.

frase do dia:

Por maior que seja o buraco em que você se encontra, sorria, porque, por enquanto, ainda não há terra em cima!
anônimo.

12.3.07

SIM, obrigada!

Concórdia tinha acabado de completar cinqüenta anos quando conheceu Carlão.
Durante toda a vida acalentara o sonho de casar e logo agora, que se considerava um tanto ‘passada’, é que fora encontrar um homem que parecia ter condições para preencher todas as suas lacunas!


Concórdia era solitária. Órfã desde a adolescência, criada por uma tia avó solteirona, pudica e sovina, acostumou-se a uma vida frugal em todos os sentidos.
Com o correr da idade e com a morte da tia, foi ficando cada vez mais cheia de medos e manias. Agora então, que havia sido diagnosticada como cardíaca, só se alimentava de frutas e saladas, tudo quase sem sal e, gordura e carnes, nem em pensamento!

Pois é! E Carlão, ela descobrira, era gaúcho!

A paquera tomava um caminho cada vez mais intenso e ela estava muito apaixonada. Carlão era grande, tinha voz forte e alta e parecia bem machão, mas ela, secretamente, sempre desejara um homem assim, que a fizesse sentir-se segura e amparada, pois era indecisa, frágil e detestava desagradar toda e qualquer pessoa.
Só de se imaginar dizendo um não para alguém perdia o sono, achando que seria rejeitada, que havia sido grosseira etc...

Até então o casal havia saído apenas para conversar e tomar um mate, após a semanal sessão de cinema, ocasião em que aconteciam os abraços e beijos que muito a assustavam, embora depois, em casa, ficasse lembrando e repassando todas as emoções que tanto desejava.

Naquele dia, completavam três meses de namoro e Carlão chegou com um ramo de flores e um convite para jantar numa churrascaria rodízio, a melhor e mais cara do bairro!
Concórdia gelou! Como dizer a ele que não comia carne? Como dizer não, logo ao homem de seus sonhos, gaúcho, acostumado aos prazeres da carne bovina?
Sorriu e aceitou, não pensando em nada mais do que agradar ao homem que poderia ser o único em sua vida!

No salão espelhado, os garçons e o gerente cumprimentam Carlão com a deferência devida aos clientes assíduos.
Concórdia, delicadamente, serve-se do bufê de saladas na esperança de que a desculpa por comer pouco seja aceita. Mas, começa seu tormento quando os garçons chegam, um após outro, oferecendo porções de maminha, picanha, búfalo, lingüiça e outras carnes mais.

Ao ver a rodela de papel onde está escrito: ‘não obrigado’, descobre sua senha mágica!
Mas, ao olhar para o rosto do garçom, seu dilema de vida se instala – como desagradar ao moço tão jovem e gentil que está ali, solícito, a servi-la? E o sorriso de Carlão comendo à farta, feliz ao vê-la acompanhando seu prazer?

Concórdia aceita todas as carnes, entupindo-se literalmente, até que Carlão parece saciado. Trazem o carrinho pleno de sobremesas e ela, debilmente, inicia uma desculpa quando a voz tonitruante do namorado aponta uma torta, dizendo – você tem que experimentar esta!

Sim, obrigada!

Chega o cafezinho e, embora esteja sentindo-se muito afrontada, ela mais uma vez, sorri.
Neste momento Carlão segura suas mãos entre as dele e, retirando do bolso um belo anel, pede-a em casamento.

A cabeça de Concórdia despenca sobre o prato sujo de torta.
Seu rosto está aberto num sorriso de felicidade. O último, pois o enfarto fulminante acabara de fechar a conta de tanta concórdia!

escrito por Angela Schnoor.Em 11 de março de 2007- 21h05’

frase do dia:
"O homem vulgo acredita que a felicidade reside unicamente no prazer" aristóteles

11.3.07

A bela adormecida - duas versões


Versão acomodada

Durante cem anos Aurora tinha conseguido a melhor sonoterapia do reino. Manteve-se bela e jovem e, em sonhos, vivia tudo que desejava sem ter que bordar, cantar e aturar as chatices da corte. Escondido atrás da mata, o castelo estava protegido contra a violência que havia se instalado no reino. Ainda bem que tinha consigo o fuso envenenado.
Em boa oportunidade espetaria o aborrecido príncipe com síndrome de despertador e não haveria fada viva que o livrasse da morte!



Versão decidida

Quando Aurora conheceu o fuso que a bruxa lhe mostrou, decidiu:
Aquele brinquedinho era perfeito! Daí em diante, fingiu-se de morta e ficou no quarto por cem anos, ela e o fuso da roca. Não fosse por aquele tonto, jamais “acordaria”. Enfiou-lhe o fuso e ele, gostou tanto que saiu voando atrás de Peter Pan!
*
*
*
'oração' do dia:
Deus, Eu lhe peço...
Sabedoria para entender meu homem,
Amor para perdoá-lo,
Paciência para com seus atos.
Porque, Deus, se me deres Força,
Eu vou enchê-lo de porrada até matá-lo!
autoria desconhecida

8.3.07

Escolhas?

O grupo escolar passeava no Jardim Botânico. Quando deu por si, estava nas águas do chafariz, empurrada que fora pelo menino que já ia longe, correndo atrás da turma.
Bateu braços e pernas até conseguir alcançar as esculturas no centro do tanque, por onde alçou seu corpo, deslizando sobre as formas de uma bela ninfa. De repente, não mais sentia medo. A salvo, rosto colado aos seios úmidos da estátua, uma sensação nova subia por suas pernas, fazendo tremer todo seu corpinho de menina. Não, não sentia frio. Aquele momento definiu, para sempre, seu objeto de desejo.

escrito por Angela em 07-03-2007 às 15h23' - RJ.

frase do dia:

"Uma história que se conta não é a mesma que se escuta." Bergman

6.3.07

A cigarra e a formiga - em duas versões

versão animal
formiga rockeira- sobre desenho de Claudio Chiyo


A Cigarra e as formigas – trabalho braçal? Nunca mais!

Elas não imaginavam que, ao acolher a cigarra como DJ do formigueiro, causariam uma revolução social. A oferta de mão de obra caiu a olhos vistos quando as jovens operárias formaram grupos de rock e funk e passaram a se ocupar dos bailes na cidade.

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versão humanimal

Gustave Doré - ilustração para a cigarra e a formiga

A Cigarra e a Formiga

Ora, pois, passei a vida
A cuidar da casa aos filhos!
E vens aqui, ó Cigarra,
A me mostrar, toda linda,
Que ganhaste brilho e peles
Deste homem atrevido,
A quem chamo 'meu marido'?
Vamos então, ó Senhora,
Leve-me agora à cidade,
Vou aprender é contigo,
A viver a minha hora!
Que se cuide neste inverno
Quem não me soube ser terno!

3.3.07

Moto contínuo.

combustão - desenho de Angela Schnoor

A nave seguia rumo ao novo planeta. Ele fazia parte do terceiro grupo a deixar a ressequida Terra. Ao aportar no novo solo verdejante, viu o garoto destruindo um jardim e teve certeza da inutilidade da missão.


frase do dia:

"Só depois que a última árvore for derrubada, o último peixe for morto, o último rio envenenado, vocês irão perceber que dinheiro não se come"
(pensamento indígena)

Transparência


Afinal a tecnologia havia alcançado a rapidez com que sempre sonhara.
A máquina registrava, diretamente, aquilo que ele pensava.

Era só imaginar, e... Precisaria, urgentemente, censurar suas idéias!


frase do dia:
O encontro de duas personalidades é como o contato de duas substâncias químicas: se ouver reação, as duas são transformadas. C. G. Jung

1.3.07

modos de ver


Inesperadamente, encontrou, sobre a cama, uma pequena joaninha.
Ela traz sorte, lembrou!
Daí em diante olhou o mundo através de lentes cor de rosa.
Encantada, a vida passou a lhe retribuir com seu melhor!


Frase do dia:
Vegetarianos não gritam quando têm um orgasmo, porque não querem admitir que um pedaço de carne possa lhes dar prazer!